Thabor

Conheça aqui essa residência dos Arautos do Evangelho

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A primeira pizzaria

Há muito tempo o homem saboreia a pizza. Como todo prato antigo, é difícil descobrir com exatidão a sua origem, ainda mais se pensarmos que ela não é mais do que uma variação do pão.

Desde a descoberta da fermentação da massa de trigo e do forno (graças ao talento dos egípcios, há mais ou menos quatro mil anos atrás) muitos povos souberam cozinhar pães das mais diversas formas e com os mais diversos ingredientes. Especialmente inventivos foram os gregos e os romanos, os quais criaram o “moretum”: massa não fermentada derivada do pão, com ervas aromáticas e cebolas.

Porém, não queremos deixar de contar um episódio histórico para a culinária mundial. No ano de 1889, em Nápoles, um padeiro muito pobre, passava de casa em casa pedindo às famílias um pouco de massa. Quando a recebia colocava-a num grande recipiente e, no final dessa peregrinação, voltava para a sua padaria, colocando fermento à massa coletada. No dia seguinte, quando começava a trabalhar essa massa, achou que um pouco de queijo por cima iria muito bem. Ao pôr a massa no forno, pensou que ela iria crescer normalmente como qualquer pão, mas algo diferente aconteceu: o queijo abafou seu crescimento e ela ficou achatada…

O padeiro ficou angustiado, pois, quem iria comprar esse pão horrivelmente achatado? Ao chegar um freguês, o vendedor disse lamentando-se:

– Perdoe-me senhor, acabaram os pães! Só tenho um que não cresceu…

O comprador respondeu:

– Não tem nada! O quero assim mesmo.

Esse freguês era amigo próximo de uns monarcas italianos, os quais estavam  passando algun­s dias em seu palácio. Ao degustar o pão, seu paladar percebeu tratar-se de algo fora do comum… Tanto gostou que, como bom italiano comunicativo, foi imediatamente para as habitações do rei Humberto I e da Rainha Margherita, e disse-lhes:

– Caros soberanos, acabo de comer um “pão” delicioso, cujo nome ignoro, mas, caso queirais, posso trazer-vos aqui quem o preparou, a fim de que também possais experimentá-lo.

Ouvindo a resposta afirmativa, o homem foi logo procurar o padeiro e lhe disse:

– Prepare, por favor, daquele “pão” que o senhor me vendeu. É estupendo! E a rainha o quer provar.

Surpreso, foi logo fazer do mesmo “pão”. E, sabendo que a rainha gostava muito da bandeira italiana, colocou-lhe pomodoro (tomate), muzzarela (mussarela) e basilico (manjericão), formando o conjunto tricolor vermelho, branca e verde. Ao ficar pronto o estranho “pão”, levou-o à rainha, a qual se encantou com aquelas cores e, mais ainda, com o sabor. Ela disse ao padeiro:

– Como se chama este “pão”?

O jeitoso italiano respondeu:

–Chama-se “alla Margherita!”, perdão… “la

pizza alla Margherita!

A rainha, impressionada, fez-lhe a proposta de ser o cozinheiro oficial da corte. Sentaram-se e continuaram a comer a deliciosa pizza Allá Marguerita. E, nesse mesmo ano, em Nápoles fundou-se a primeira pizzaria.

Texto: Johnathan Inocêncio Magalhães

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Mãe de Deus e da Igreja: Lembrança do Curso de Férias III

Com este terceiro post, finalizamos a publicação do livreto-lembrança (ver anteriores: I e II) distribuído aos participantes do último Curso de Férias dos Arautos do Evangelho, o qual teve lugar no Thabor. Desejamos aos leitores que Nossa Senhora os faça cada vez mais crescer na devoção a Ela, pois, se Deus quis vir ao Mundo por meio d’Ela, não há melhor caminho para a Ele chegarmos do que colocarmo-nos nas suas maternais mãos, a fim de que Ela nos cubra com o seu celeste manto.

Já no Gólgota, local onde se consumou a fundação da Santa Igreja, Nosso Redentor quis depositar a Divina Instituição em maternais mãos, antes de completar o seu sacrossanto holocausto. Essa plantinha imortal, que logo se tornaria árvore frondosa, regada pelo preciosíssimo Sangue, estava ali representada pelo único Bispo que, nesse momento crucial, não abandonara o Divino Mestre: São João. Os católicos de todos os tempos, há mais de dois mil anos, fazem ecoar com gáudio as palavras pronunciadas por Jesus pendente da Cruz, com as quais também nós fomos entregues aos cuidados da Santíssima Virgem: “Mulher, eis aí teu filho”, isto é, a Igreja, “filho, eis aí a tua Mãe!”;e dessa hora em diante o discípulo A levou para a sua casa” (Jo 19, 27). Sim, a Mãe da Cabeça, que é Cristo, devia sê-lo também do seu Corpo Místico, que é a Igreja.[1]

 A Virgem Maria nos Evangelhos Nas passagens do Evangelho em que a Santíssima Virgem aparece, transluz a imensa predileção e riqueza de privilégios com os quais Deus quis favorecê-La. Só o “Ave cheia de graça” (Lc 1, 28), pronunciado pelo anjo, aponta o oceano de amor divino que cumulou Nossa Senhora. Sem embargo, esses mesmos episódios são também como as pontas de um véu que discretamente se levantam, deixando entrever o tesouro de misericórdia que, em Maria, Jesus reservava para dá-lo a conhecer à humanidade, ao longo dos tempos.

Nos Evangelhos, destacam-se, em primeiro lugar, os misteriosos acontecimentos do Nascimento e da infância de Nosso Senhor Jesus Cristo:

O desposório de Maria com São José (Mt 1, 18-25);  A anunciação e a Encarnação (Lc 1, 26-38);  A visita a Santa Isabel (Lc 1, 39-56); • O divino Nascimento (Lc 2, 1-20);  A circuncisão de Jesus (Mt 2, 22-23; Lc2, 21-40);  A adoração dos Reis Magos (Mt 2, 1-12);Ÿ  A fuga e o retorno do Egito (Mt 2, 13-15. 19-23); Ÿ A perda e o encontro no Templo (Lc 2, 41-52).

Após o Batismo do Senhor, a Virgem Maria reaparece nos Evangelhos, mostrando, por primeira vez, a sua “onipotência suplicante”, nas bodas de Caná. Ela intercedeu junto ao seu Filho para que remediasse a falta de vinho, operando ali o milagre inaugural da sua vida pública (Jo 2, 1-11).

Nossa Senhora será mencionada novamente pelos Evangelistas no relato da Paixão do Senhor, junto à Cruz (Jo 19, 25).

E, graças a São Lucas, também sabemos que Ela acompanhou os Apóstolos no Cenáculo, após a Ascensão de seu Filho (At 1, 14), para com eles implorar a vinda do Divino Espírito Santo.

 Corredentora e Medianeira Todos esses episódios das Sagradas Escrituras são marcados por um denominador comum: neles se vislumbra a incomparável vocação da Santíssima Virgem. Ela gerou e “preparou uma Vítima para a salvação dos homens; a sua missão foi também a de guardar e alimentar essa Vítima, e apresentá-la no tempo oportuno para o sacrifício”.[2] Ela “participou de tal maneira das dores do Filho que, se fosse possível, preferia infinitamente assumir sobre si todos os tormentos que Ele padecia”.[3]

Assim, essa profunda relação entre maternidade e sacrifício fez com que Nossa Senhora se associasse de maneira muito íntima às graças da Redenção.[4] “Enquanto dependia d’Ela, imolou o seu Filho, de sorte que, com razão, pode-se afirmar: Ela redimiu o gênero humano junto com Cristo. E, por esse motivo, toda espécie de graças que recebemos do tesouro da Redenção é ministrado como que através das mãos da mesma Virgem Dolorosa”.[5] Por isso, Nossa Senhora é chamada, a justo título, Co-redentora do gênero humano e Medianeira ou “Dispensadora universal de todas as graças que se concederam ou se concederão aos homens, até o fim dos séculos.”[6]

 Os dogmas marianos Ao longo da História do Cristianismo, o aparecimento das heresias, e outros fatores, levaram a Igreja a proclamar solenemente os dogmas, ou seja, as principais verdades da Fé reveladas por Deus, que nos foram transmitidas pela Escritura ou pela Sagrada Tradição, nas quais os católicos devem crer firmemente, a fim de salvaguardar de maneira íntegra o dom divino da Revelação. Os dogmas que se referem diretamente a Nossa Senhora são:

1o Maternidade Divina Professa que a Santíssima Virgem é verdadeiramente Mãe de Deus, segundo a humanidade, ou seja, que forneceu a seu Filho Jesus uma natureza humana semelhante à d’Ela.[7] Este dogma foi proclamado solenemente no pontificado de Clementino I (422-432), durante o Concílio de Éfeso (431): “Se alguém não confessar que o Emanuel é Deus no sentido verdadeiro e que, por isso, a Santa Virgem é Mãe de Deus (pois gerou segundo a carne o Verbo de Deus feito carne), seja anátema”.[8] A Maternidade Divina é o mais alto dom recebido por Maria e, por causa dele, Ela foi ornada de todos os demais privilégios.

2o Virgindade Perpétua Professa que Nossa Senhora permaneceu Virgem antes, durante e depois do Nascimento de Jesus. Essa verdade encontra-se em todas as primeiras formulações de Fé da Igreja (os primeiros Credos).[9] São Leão Magno (440-461) definiu que o Unigênito de Deus “foi, de fato, concebido do Espírito Santo no seio da Virgem Mãe, que o deu à luz, permanecendo intacta a sua virgindade, assim como com intacta virgindade o concebeu”.[10] O sínodo de Latrão (649), convocado por Martinho I, declarou anátema quem não confessasse esse dogma.[11]

3o Imaculada Conceição Professa que Maria foi isenta completamente do pecado original, desde o primeiro instante da sua existência no ventre materno. Foi proclamado solenemente pelo Beato Pio IX, em 8 de Dezembro de 1854, por meio da bula Ineffabilis Deus: “Declaramos, proclamamos e definimos: a doutrina que sustenta que a Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua conceição, por singular graça do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha da culpa original; essa doutrina foi revelada por Deus e por isto deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis”.[12]

4o Assunção Professa que a Santa Mãe de Deus, por singularíssimo privilégio, subiu em corpo e alma aos Céus, após o término da sua vida terrena. Foi proclamado por Pio XII, no dia 1o de novembro de 1950, por meio da constituição apostólica Munificentisimus Deus: “Proclamamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, completado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.[13]

♦ A “Ave Maria” Apesar de alguns historiadores considerarem o Sub tuum presidium como a primeira oração composta a Nossa Senhora, devido à recente descoberta de um documento do séc. III, partindo da nossa Fé nas Sagradas Escrituras, nós, verdadeiramente, podemos considerar como a mais antiga oração aquela que foi recitada, por primeira vez, pela uma voz de um anjo: “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco” (Lc 1, 42); e, logo depois dessa, temos o cântico de Santa Isabel: “Bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre(Lc 1, 42). A junção dessas duas saudações constituiu uma única oração, que, no séc. iv, já era habitualmente empregada desse modo, inclusive dentro da liturgia oriental, herdeira do apóstolo São Tiago, após o rito da Consagração.[14]

Entretanto, a piedade dos fiéis não se sentia satisfeita. Como corolário desse ato de louvor, era necessário fazer um ato de súplica. Por isso, paulatinamente, foi-lhe sendo acrescentada uma segunda parte: “Santa Maria, Mãe de Deus; rogai por nós pecadores; agora e na hora de nossa morte”. Estava assim composta a “Ave Maria” como a conhecemos até hoje. Ela somente foi introduzida, de maneira oficial, na liturgia do Ocidente em 1568, pelo Papa São Pio V, com a publicação do Breviário Romano, mas, desde longa data, já era uma prática comum de piedade na Igreja Católica.

♦ O Santo Rosário O fato de as palavras da Ave Maria serem tão gratas à Santíssima Virgem, impeliu os cristãos a multiplicarem o número de vezes da sua recitação, na esperança de tornarem-se, como que, um eco daquelas saudações evangélicas que tanto A encheram de alegria. À imitação do devocionário mais famoso de todos os tempos, o Livro dos Salmos, criou-se então o costume de rezar um total de 150 Ave Marias (ver nota sobre os mistérios Luminosos) [15], as quais depois foram divididas em dezenas, encabeçadas pelo Pai Nosso, meditando-se, em cada uma delas, um dos principais mistérios da nossa Redenção. Dessa maneira nasceu o Santo Rosário, o qual que é uma “síntese de todo o Evangelho”.[16] Ele é um pequeno tesouro de conteúdo teológico, uma obra-mestra que ensina doutrina Católica até aos mais modestos  e, sobretudo, um conciso compêndio de espiritualidade acessível a todos.

♦ O culto de hiperdulia Apenas dois cuidados devem ser tidos em relação à devoção a Nossa Senhora: primeiro, nunca deixar de crescer na devoção a Ela e, sem sombra de dúvida, não render-Lhe culto de adoração, pois unicamente Deus deve ser adorado. Entretanto, tão importante é a missão de Maria no plano da Salvação, que devemos prestar-Lhe atos de louvor e devoção superiores, os quais recebem o título de hiperdulia. Recordemo-nos que, se Deus é Onipotente em seu Ser, a Santíssima Virgem o é quanto à sua súplica. Por isso, aspirar a alguma graça sem confiá-la a Nossa Senhora, no dizer de Dante, é como ter o anelo de voar sem asas.[17] Nunca deixemos, pois, de tudo pedir através de nossa Medianeira celeste!

Texto: Sebastián Correa Velásquez


[1] Cf. Catecismo da igreja católica. n. 726. 963-965. Missale romanum. Die 1 Ianuarii, Post Communionem; paulo vi. Marialis Cultus. n. 11.

[2] Pio x. Carta Encíclica Ad diem illum lætissimum. n. 12.

[3] São Boaventura. I sent. d. 48. ad Litt. dub. 4.

[4] Cf. Catecismo da Igreja Católica. n. 618.

[5] Bento xv. Carta Apostólica Inter sodalicia. 22 de maio de 1918.

[6] Pio ix. Bula Ineffabilis Deus. n. 2.

[7] Cf. Royo Marín. Antonio. La Virgen María: Teología y espiritualidad marianas. Madrid: BAC, 1968. p. 92-93.

[8] DH. n. 252. (Denzinger, Heinrich; Hünermann, Peter. El magisterio de la Iglesia: Enchiridion symbolorum, definitioum et declarationum de rebus fidei et morum. Barcelona: Herder, 2000).

[9] Cf. DH. n. 10-64.

[10] Cf. DH. n. 291.

[11] Cf. DH. n. 503.

[12] Cf. DH. n. 2803.

[13] Cf. DH. n. 3903.

[14] Cf. Reus, João Batista. Curso de Liturgia. 3 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1952. p. 54; Messori. Vittorio. Hipótesis sobre María: hechos, indicios, enigmas. Tradução de Lourdes Vásquez. Madrid: Libroslibres, 2007. p. 266.

[15] O Beato João Paulo II acrescentou mais cinquenta Ave Marias ao Santo Rosário, ao incluir os mistérios Luminosos por meio da Carta Apostólica Rosarium Virginis, de 16 de Outubro de 2002.

[16] Catecismo da Igreja Católica. n.917.

[17] Cf. Dante Alighiere. La Divina Commedia. Paradiso. Canto xxxiii.

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A experiência científica de Tomé e a mística de Tomás

A experiência científica de Tomé e a mística de Tomás

Redação – (Quarta-feira, 03-07-2013, Gaudium Press) – Sendo o dia 3 de julho o dia de São Tomé, estamos publicando para nossos leitores este artigo que trata da “experiência científica de Tomé e a mística de Tomás:

Aquele que disse aos seus companheiros aninhados no Cenáculo por causa de um medo atroz, que só haveria de crer em Jesus ressuscitado se visse “nas suas mãos o sinal dos pregos”, pusesse o “dedo no lugar dos pregos” e introduzisse a “mão no seu lado” (Jo 20,25) não precisa de apresentação.thomas.jpg

Tomé passou para a História como símbolo da incredulidade, é verdade, mas também como o exponencial de uma lei inerente à natureza humana per se legítima. Ver com “os próprios olhos, tocar com “as próprias mãos”, ouvir com “os próprios ouvidos” é uma necessidade do ser humano, uma condição para darmos o assentimento perfeito da nossa inteligência e da nossa vontade.

Embora seja eminentemente sobrenatural, o próprio assentimento da fé tem um dos seus pilares fundamentado nesse ditame da experiência sensível. Não foi essa necessidade demonstrada por São Tomé, após a terrível hecatombe da perseguição que havia caído sobre a Igreja nascente, arrebatando a suave presença do Divino Mestre? Também para Santa Maria Madalena, aquela que muito havia amado, era necessário tocar e abraçar os pés do Ressuscitado, para saciar esse desejo legítimo e subconsciente do coração humano de comprovar a fé com os sentidos. Tal aspiração é tão ingente em nosso interior a ponto do Apóstolo São João jubiloso exclamar: “o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos têm apalpado, no tocante ao Verbo da vida, porque a vida se manifestou, e nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou” (1Jo 1,1-4).

Esse desejo de experiência não é contrariado por Nosso Senhor, pois ao encontrar-se com os seus discípulos convidou São Tomé a comprovar: “Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé” (Jo, 20,27). Dos lábios do incrédulo brotou, como a rosa no deserto, o mais explícito ato de fé na divindade de Jesus presente nos Evangelhos: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). Com os olhos e os dedos de Tomé, nós tocamos nas chagas e no lado aberto de Jesus. Em Tomé toda a Igreja creu na ressurreição corpórea e milagrosa do Homem-Deus.

Ora, houve outro Tomé, nascido na cidade italiana de Aquino, cujo nome não pode ser pronunciado por teólogo ou filósofo que se preze senão com respeito e veneração: São Tomás de Aquino. Ele foi uma autêntica testemunha dos atributos e perfeições divinas, da divindade e da humanidade de Cristo, do inefável mistério da Santíssima Eucaristia e dos castos privilégios de Maria Santíssima. Tomás nasceu mais de um milênio após a tragédia do Gólgota, e de fato não teve a graça de tocar com o seu dedo no lado e nas chagas do Redentor como outrora havia feito Tomé.

Entretanto, o Doutor Angélico viu com os olhos da fé e apalpou com as mãos da caridade a divindade e a humanidade de Jesus. A experiência mística de Tomás é superior à experiência científica de Tomé, como aliás afirmou o próprio Divino Mestre: “Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!” (Jo, 20,29). A visão da experiência mística, essencialmente sobrenatural de São Tomás não é imensamente mais abarcativa e sublime do que a experiência material e racional? Afinal, o objeto do olhar teológico não é o Bom Deus, puro espírito e totalmente imaterial? E o mundo sobrenatural não é essencialmente invisível aos nossos olhos carnais? É por isso que a experiência mística dos santos é mais eloquente que a pretensiosa experiência humana dos entendidos…

É justamente por causa da santidade do insigne Doutor Angélico, que a sua obra filosófica e teológica – além de ser eminentemente racional e precursora dos métodos científicos modernos – é superior. Ele viu com os olhos do Espírito Santo, com as castas doçuras interiores dos toques místicos,[1] com a retidão do primeiro olhar de uma alma santa, reta e inocente.

É por isso que a Igreja atribuiu especial valor à obra do Aquinate: ele foi mais feliz em crer sem ver e tocar como Tomé, porque viu, distinguiu, creu através do olhar sobrenatural do qual ele tirou a inspiração de seu ensino, ou seja, da visão de uma imagem eterna quase beatífica, da qual gozaremos por toda a eternidade. É dessa forma que se pode dizer que São Tomás foi mais feliz que São Tomé, pois ele creu N’Aquele que real, genuína e misticamente havia “visto”.

Por Marcos Eduardo Melo dos Santos

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[1] La vision intellectuelle est la manifestation certaine d’un objet à l’intelligence, sans aucune dépendance actuelle des images sensibles. Elle se fait soit par des idées acquises surnaturellement coordonnées ou modifiées soit par des idées infuses, qui sont parfois d’ordre angélique. Elle requiert, en outre, une lumière infuse, celle du don de sagesse ou de la prophétie. […] La vision intellectuelle est parfois obscure et indistincte. […] D’autre fois, la vision intellectuelle est claire et distincte […]; c’est une sorte d’intuition des véritess divines ou des choses créées en Dieu. […] On reconnaît que ces faveurs viennent de Dieu aux effects qu’elles produisent: paix intime, sainte joie, profonde humilité, attachemente inébranlable a la virtu” (GARRIGOU-LAGRANGE, Les trois âges de la vie intérieure: prélude de celle du ciel, Op. Cit., p. 764-765. Tom. II).

Fonte: http://academico.arautos.org/tag/a-experiencia-cientifica-de-tome-e-a-mistica-de-tomas/

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Solenidade de São Pedro e São Paulo

Ao chegar à região de Cesaréia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” Eles responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Perguntou-lhes de novo: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na Terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu” (Mt 16, 13-19).

Mons Joao Cla.jpgMons. João Clá Dias, EP

I – Considerações iniciais

Difícil é encontrar alguém que nunca tenha comprovado a consonância da sonoridade obtida através de cristais harmônicos. Basta um simples golpe, em um só deles, para os outros ressoarem em concomitância. É, até, uma prova para se conhecer a autenticidade destas ou daquelas taças.

Assim, também, no campo das almas. Discernimos a que é entranhadamente católica e com facilidade a diferenciamos da tíbia, atéia ou herética, quando fazemos “soar” uma simples nota: o amor ao Papado, seja quem for o Papa. Tornam-se encandescidas as almas fervorosas, indiferentes as tíbias, indispostas algumas, etc.

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Imagem de São Pedro

Basílica do Vaticano

Pois esta é a matéria do Evangelho de hoje. A fim de nos prepararmos para contemplar as perspectivas que ele nos manifesta, ocorreu-nos reproduzir as considerações transcritas a seguir. Poderemos, assim, ter uma noção da qualidade do “cristal” de nossa alma:

“Tudo quanto na Igreja há de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural, tudo isto, mas absolutamente tudo sem exceção, nem condição, nem restrição, está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra de São Pedro. As instituições mais sagradas, as obras mais veneráveis, as tradições mais santas, as pessoas mais conspícuas, tudo enfim que mais genuína e altamente possa exprimir o Catolicismo e ornar a Igreja de Deus, tudo isto se torna nulo, maldito, estéril, digno do fogo eterno e da ira de Deus, se separado do Romano Pontífice. Conhecemos a parábola da videira e dos sarmentos. Nessa parábola, a videira é Nosso Senhor, os sarmentos são os fiéis.

Mas como Nosso Senhor Se ligou de modo indissolúvel à Cátedra Romana, pode-se dizer com toda segurança que a parábola seria verdadeira entendendo- se a videira como a Santa Sé, e os sarmentos como as várias Dioceses, Paróquias, Ordens Religiosas, instituições particulares, famílias, povos e pessoas que constituem a Igreja e a Cristandade. Isto tudo só será verdadeiramente fecundo na medida em que estiver em íntima, calorosa, incondicional união com a Cátedra de São Pedro.

“‘Incondicional’, dissemos, e com razão. Em moral, não há condicionalismos legítimos. Tudo está subordinado à grande e essencial condição de servir a Deus. Mas, uma vez que o Santo Padre é infalível, a união a seu infalível magistério [só] pode ser incondicional.

“Por isto, é sinal de condição de vigor espiritual, uma extrema susceptibilidade, uma vibratilidade delicadíssima e vivaz dos fiéis por tudo quanto diga respeito à segurança, glória e tranqüilidade do Romano Pontífice. Depois do amor a Deus, é este o mais alto dos amores que a Religião nos ensina. Um e outro amor se confundem até. Quando Santa Joana d’Arc foi interrogada por seus perseguidores que a queriam matar, e que para isto procuravam fazê-la cair em algum erro teológico por meio de perguntas capciosas, ela respondeu: ‘Quanto a Cristo e à Igreja, para mim são uma só coisa’.

E nós podemos dizer: ‘Para nós, entre o Papa e Jesus Cristo não há diferença’. Tudo o que diga respeito ao Papa diz respeito direta, íntima, indissoluvelmente, a Jesus Cristo”1.

II – O Evangelho: “Tu es petrus”

Pergunta de Jesus e circunstância em que foi feita

Ao chegar à região de Cesaréia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”.

A cidade na qual se desenvolve o Evangelho de hoje havia sido construída pelo tetrarca Filipe que, para angariar a simpatia do imperador César Augusto, deu-lhe o nome de Cesaréia. Desconhece a História o exato percurso empreendido pelo Senhor e pelos Apóstolos àquela altura dos acontecimentos; a hipótese mais provável é a de que tenham atravessado a via de Damasco a Jerusalém, perto da ponte das Filhas de Jacó. O território onde nasce o rio Jordão, compreendido entre Julias e Cesaréia, é rochoso, solitário e acidentado. Foi nessa localidade montanhosa e pétrea que Herodes, o Grande, erigiu um vistoso templo de mármore branco em homenagem ao imperador César Augusto. Calcando as pedras da região, e talvez à vista do tal templo sobre o alto das rochas, foi que se estabeleceu o diálogo durante o qual se tornaram explícitas para os Apóstolos a natureza divina de Jesus e a edificação da Santa Igreja.

Convém não esquecermos o quanto a divina pedagogia de Jesus escolhia os acidentes da natureza sensível para efeito didático, e assim poderem seus ouvintes ter melhor compreensão das realidades invisíveis do universo da Fé. A esse respeito, seriam inúmeros os casos a serem citados, mas basta-nos lembrar o modo pelo qual Ele convocou os dois irmãos pescadores, Pedro e André: “Segui-me e Eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4, 19). Não se trata, portanto, de nos basearmos em razões meramente poéticas para supor que o desenrolar dessa conversa verificou- se sobre as pedras; há por detrás, um elevado teor simbólico. Ali estavam rochas que deviam perpetuar- se, e a contemplação dessas criaturas minerais, fruto de sua onipotência, tornava mais bela a solene profecia da edificação de sua indestrutível Igreja.

Alguns autores ressaltam outro importante aspecto: o fato de Jesus ter escolhido uma região pertencente à gentilidade para manifestar- Se como Filho de Deus e fundar o primado de sua Igreja. Eles interpretam como sendo um prenúncio da rejeição do reino messiânico, pelos judeus, e sua definitiva transferência para os gentios.

“Aconteceu que estando a orar, em particular…” (Lc 9, 18). Conforme nos relata São Lucas, toda a conversa narrada no Evangelho de hoje realizou- se depois de Jesus ter-Se recolhido e deixado “perder-Se”, com suas faculdades humanas, nas infinitudes de seu Pai eterno. Utilizou-Se desse meio infalível de ação, a prece, para conferir raízes e seiva imortais à obra que lançaria.

Segundo a Glosa, “querendo confirmar seus discípulos na Fé, o Salvador começa por afastar de seus espíritos as opiniões e os erros que outros poderiam ter infundido neles” 2; ou seja, convidando-os a terem clara consciência dos equívocos da opinião pública a respeito da identidade dEle, fortificava- lhes as convicções. É curioso o comentário de São João Crisóstomo sobre o caráter “sumamente malicioso” 3 do juízo emitido pelos escribas e fariseus a respeito do Divino Mestre, muito diferente daquele da opinião pública que, apesar de errôneo, não era movido por nenhuma malícia.

SAO PEDRO.JPG
Detalhe do quadro “Cristo dá as chaves a São Pedro”, de Vicente
Catena

Museu do Prado, Madri

Jesus não pergunta o que pensam os outros a respeito dEle, mas sim do Filho do Homem, “a fim de sondar a Fé dos Apóstolos e dar-lhes ocasião de dizer livremente o que sentiam, embora Ele não ultrapassasse os limites daquilo que poderia lhes sugerir sua santa Humanidade” 4. Por todos os conhecimentos que Lhe eram próprios, do divino ao experimental, Jesus sabia quais eram as opiniões que circulavam com relação à Sua figura, não necessitava, portanto, informar-Se; desejava, isto sim, levá-los a proclamar a verdade em contestação aos equívocos da opinião pública.

O povo não considerava Jesus como o Messias

Eles responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas”.

Os Apóstolos tinham exata noção do juízo que os “homens” de então faziam a propósito do Divino Mestre. Apesar de todas as evidências, dos milagres, da doutrina nova dotada de potência, etc., o povo não O considerava como o Messias tão esperado. Jesus surgia aos olhos de todos como a ressurreição ou o reaparecimento de anteriores profetas. Não encontravam nEle a eficaz magnificência do poder político, tão essencial para a realização do mirabolante sonho messiânico que os inebriava. Daí imaginarem-No o Batista ressurrecto, ou Elias, enquanto mais especificamente um precursor, ou até mesmo um Jeremias, lídimo defensor da nação teocrática (cf. 2 Mac 2, 1-12). Vêse claramente neste versículo como o espírito humano é inclinado ao erro e como facilmente se distancia dos verdadeiros prismas da salvação. Mas, pelo menos, aqueles seus contemporâneos ainda discerniam algo de grandioso em Jesus. Seria interessante nos perguntarmos como Ele é visto pela humanidade globalizada, cientificista e relativista de nossos dias.

Pedro O reconhece como Filho de Deus

Perguntou-lhes de novo: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”

Bem sublinha São João Crisóstomo a essência desta segunda pergunta 5. Sem refutar os erros de apreciação dos outros, Jesus quer ouvir dos próprios lábios de seus mais íntimos o juízo que dEle fazem. Para lhes tornar fácil a proclamação de Sua divindade, não usa aqui o título humilde de Filho do Homem.

Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”.

Pedro falava como intérprete da opinião de todos, por ser o mais fervoroso e o principal 6, embora não fosse a primeira vez que Jesus era reconhecido como Filho de Deus. Já Natanael (cf. Jo 1, 49), os Apóstolos após a tempestade no mar de Tiberíades (cf. Mt 14, 33) e o próprio Pedro (cf. Jo 6, 69) haviam externado essa convicção.

Sola fides! Aqui não há elemento algum emocional ou sensível, como em circunstâncias anteriores. Em meio às rochas frias de um ambiente ecológico, longe de acontecimentos arrebatadores e da agitação das turbas ou das ondas, só a voz da Fé se faz ouvir.

“Certíssimo argumento é que Pedro chamou a Cristo de Filho de Deus por natureza, quando O contrapôs a João, a Elias, a Jeremias e aos profetas, os quais foram – claro está – filhos de Deus por adoção” 7. Ademais, como comenta o mesmo Maldonado, Pedro dá a Deus o título de “vivo” para distingui- Lo dos deuses pagãos que são substâncias mortas. E, por fim, o artigo – como sói acontecer na língua grega – antecedendo o substantivo “filho”, designa “filho único” segundo a natureza, e não um entre vários.

A ciência humana não tem força para atingir a união hipostática

Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu”.

Ao felicitar seu Apóstolo, Jesus avalia a afirmação de Pedro a respeito de sua filiação e, portanto, de sua natureza divina e consubstancialidade com o Pai. Sobre este particular são unânimes os comentaristas. Era um costume judaico indicar a filiação da pessoa para ressaltar sua importância; neste caso concreto havia a intenção de manifestar o quanto “Cristo é tão naturalmente o Filho de Deus como Pedro é filho de Jonas, quer dizer, da mesma substância daquele que o engendrou”8.

As palavras de Pedro não são fruto de um raciocínio com base num simples conhecimento experimental. Não haviam sido poucas as curas logo após as quais os beneficiados conferiam com exclamações ao Salvador o título de “Filho de Davi” (cf. Mt 15, 22; Mc 10, 47, etc.), conhecido como um dos indicativos do Messias. Os próprios demônios, ao se encontrarem com Ele, proclamavam-No “o Santo de Deus” (Lc 4, 34), “o Filho de Deus” (Lc 4, 41), “Filho do Altíssimo” (Lc 8, 28; Mc 5, 7). Ele mesmo declarara ser “dono do sábado” (Mt 12, 8), e após a multiplicação dos pães a multidão queria aclamá-Lo “Rei” (Jo 6, 15). Assim como estas, muitas outras passagens poderiam facilmente nos indicar as profundas impressões produzidas por Jesus sobre seus discípulos9. Porém, em nenhuma ocasião anterior Pedro recebeu tal elogio saído dos lábios do Salvador. Nesta passagem, ele “é feliz porque teve o mérito de elevar seu olhar além do que é humano e, sem deter-se no que provinha da carne e do sangue, contemplou o Filho de Deus por um efeito da revelação divina e foi julgado digno de ser o primeiro a reconhecer a Divindade de Cristo”10.

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O fundamento da Igreja é Pedro e todos os seus sucessores,
os romanos pontífices, pois, caso contrário,
não perduraria a existência do edifício

Praça de São Pedro – Vaticano

Portanto, a afirmação de Pedro se realizou com base num discernimento penetrante, luzidio e abarcativo da natureza divina do Filho de Deus. A ciência, a genialidade ou qualquer outro dom humano não têm força suficiente para atingir os páramos da união hipostática realizada no Verbo Encarnado. É indispensável ser revelada pelo próprio Deus e aceita pelo homem. Mas o homem sem Fé aferra-se às suas próprias idéias, tradições e estudos, rejeitando, às vezes, as provas mais evidentes, como o são os milagres. Para este, Jesus não passa – e quando muito – de um sábio ou de um profeta. Haverá também aqueles que não O verão senão como “o filho do carpinteiro” (Mt 13, 55).

Essa é a nossa Fé ensinada pela Igreja, revelada pelo próprio Deus, anunciada pelo Filho, o enviado do Pai, e confirmada pelo Espírito Santo, enviado pelo Pai e pelo Filho. As verdades da Fé não são fruto de sistemas filosóficos, nem da elaboração de grandes sábios.

Jesus edifica Sua Igreja sobre Pedro

Também Eu te digo: “Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nada poderão contra ela”.

Foi indispensável e excelente ter afirmado Orígenes inspiradamente: “Nosso Senhor não precisa se é contra a pedra sobre a qual Cristo construiu sua Igreja ou se é contra a própria Igreja, construída sobre a pedra, que as portas do inferno não prevalecerão. Mas é evidente que elas não prevalecerão nem contra a pedra nem contra Igreja”11. Sim, porque para destruir essa pedra, ou seja, o Vigário de Jesus Cristo na Terra, muitos esforços e diligências de um considerável número de hereges têm sido empregados, na tentativa de abalar o sagrado edifício da Igreja a partir de seu fundamento, o qual é a alegria, consolo e triunfo dos verdadeiros católicos. Nesse “edificarei” se encontra o real anúncio do Reino de Jesus. O grande e divino desígnio começa a se delinear nesse nome, até então nunca usado: “minha Igreja”.

O plano de Jesus é proclamado sobre as rochas de Cesaréia, pelo próprio Filho de Deus, que Se apresenta como um divino arquiteto a erigir esse edifício indestrutível, grandioso e santíssimo, a sociedade espiritual, constituída por homens: militante na Terra, padecente no Purgatório, triunfante no Céu. O conjunto de todos aqueles que se unem debaixo da mesma Fé, nesta Terra, chama-se Igreja. Desta, o fundamento é Pedro e todos os seus sucessores, os romanos pontífices, pois, caso contrário, não perduraria a existência do edifício. Eis um ponto vital de nossa Fé: “o fato da Igreja estar edificada sobre o próprio Pedro” que aliás – “é admitido por todos os autores antigos, excepto os hereges”12.

Um só corpo e um só espírito em torno do Sucessor de Pedro

“Há na Igreja muitas pessoas constituídas em autoridade, às quais devemos estar unidos pela obediência. No entanto, toda essa variedade precisa reduzir- se a um prelado primeiro e supremo, em quem principalmente se concentre o principado universal sobre todos. Deve reduzir-se não só a Deus e a Cristo, mas também a Seu vigário; e isto não por estatuto humano, mas por estatuto divino, mediante o qual Cristo constituiu São Pedro príncipe dos Apóstolos, estabelecidos estes, por sua vez, como príncipes na Terra. E Cristo fez isso convenientissimamente, por assim o exigirem a ordem da justiça universal, a unidade da Igreja e a estabilidade, tanto dessa ordem, quanto dessa unidade” 13.

O “Tu es Petrus …” será aplicado a todos os escolhidos em conclave para se sentarem na Cátedra da Infalibilidade. Assim, morreu Pedro, mas não o Papa; e é em torno dele que a Igreja mantém a sua unidade.

“Fácil é a prova que confirma a Fé e compendia a verdade. O Senhor fala a São Pedro e lhe diz: ‘Eu te digo que tu és Pedro’ (Mt 16, 18). E noutro lugar, depois de Sua ressurreição: ‘Apascenta minhas ovelhas’ (Jo 21, 17). Somente sobre ele edifica Sua Igreja, e o encarrega de apascentar seu rebanho. E embora confira igual poder a todos os Apóstolos e lhes diga: ‘Como meu Pai Me enviou, assim Eu vos envio’ (Jo 20, 21), sem embargo, para manifestar a unidade, estabeleceu uma Cátedra, e com sua autoridade dispôs que a origem dessa unidade se fundamentasse em um. Por certo, todos os Apóstolos eram o mesmo que Pedro, adornados com a mesma participação de honra e poder; mas o princípio dimana da autoridade, e a Pedro foi dado o Primado para demonstrar que uma é a Igreja de Cristo e uma a Cátedra. Todos são pastores, mas há um só rebanho apascentado por todos os Apóstolos de comum acordo […].

“Pode ter Fé quem não crê nessa unidade da Igreja? Pode pensar que se encontra dentro da Igreja quem se opõe e resiste à Igreja, quem abandona a Cátedra de Pedro, sobre a qual ela está fundada? São Paulo também ensina o mesmo, e manifesta o mistério da unidade, ao dizer: ‘Há um só corpo e um só espírito, como também só uma esperança, a de vossa vocação. Só um Senhor, uma Fé, um batismo, um Deus’ (Ef 4, 4-6)” 14.

Jurisdição plena, suprema e universal

Se lermos os Atos dos Apóstolos, encontraremos Pedro exercendo esse supremo poder, ao falar em primeiro lugar nas reuniões dos Apóstolos, ao propor o que se deve fazer, inaugurando a missão apostólica, encerrando discussões com sua palavra, etc. E assim se têm perpetuado, ao longo de dois milênios, a jurisdição e o magistério dos Papas.

Todo sucessor de Pedro possui verdadeira jurisdição, pois tem o poder de promulgar leis, julgar e impor penas, de forma direta, em matéria espiritual, e indireta, no campo temporal, sempre que se apresente como necessária para obter bens espirituais. Essa jurisdição é plena: não há poder na Igreja que não resida no Papa. É universal, ou seja, todos os membros da Igreja (fiéis, sacerdotes e bispos) a ele estão submetidos. É, ademais, suprema: o Papa acima de todos, e ninguém acima dele. Até mesmo os Concílios Ecumênicos não podem se realizar sem ser por ele convocados e presididos.

Os próprios estatutos conciliares não o obrigam, tendo ele o poder de mudá-los ou de derrogá-los.

Magistério infalível

Outro tanto se pode afirmar sobre uma análoga e grande função de Pedro e de seus sucessores: o supremo Magistério que, como coluna que sustenta a Igreja, não pode equivocar-se. O Papa é infalível ao falar ex cathedra, ou seja, enquanto doutor de todos os cristãos, ao definir com autoridade apostólica doutrinas sobre Fé e moral, que devem ser admitidas por toda a Igreja universal.

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Papa Francisco

Aí está o motivo pelo qual “as portas do inferno” não poderão se sobrepor a um edifício construído sobre a pedra que é Pedro.

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“Doce Cristo na Terra”

“Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na Terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu”.

Cristo retornaria ao Pai, deixando nas mãos de Pedro as chaves de Sua Igreja. “Quem tem o uso legítimo e exclusivo das chaves de uma casa ou de uma cidade, este é o administrador, o intendente supremo que recebeu os poderes de seu senhor. A Igreja é o reino dos Céus neste mundo; a Igreja Triunfante será o reino definitivo e eterno dos Céus, prolongamento desta mesma Igreja da Terra, já purificada de toda impureza. Pedro terá poder de abrir e fechar a entrada nesta Igreja temporal e, conseqüentemente, na eterna” 15.

A cabeça desse corpo místico sempre será Cristo Jesus. Durante a História da humanidade, Ele será o chefe invisível, mas deixa entre nós um Pedro acessível, o “doce Cristo na Terra” – segundo expressão usada por Santa Catarina de Sena -, a quem todos devemos amar como bom pai, obedecer até às suas mais leves insinuações e conselhos, honrar como a um supremo monarca, rei de reis.

III – Nasce uma obra indestrutível

É de pasmar o desenrolar desse acontecimento histórico ocorrido na “região de Cesaréia de Filipe”. Um simples pescador da Betsaida proclama que o filho de um carpinteiro é realmente Filho de Deus, por natureza. Este, em seguida, anuncia que edificará uma obra indestrutível e deixará em mãos de seu administrador, com plenos poderes de jurisdição e magistério, “as chaves do Reino do Céu”. O ambiente que os cerca é pobre, árido mas com certa grandeza. Ali é plantado “o grão de mostarda”, do qual nasceriam as igrejas, as catedrais, as cerimônias, os vitrais, as universidades, os hospitais, os mártires, os confessores, as virgens, os doutores, os santos, enfim, a Santa Igreja Católica Apostólica e Romana.

Passaram-se dois milênios e, depois de tantas e catastróficas procelas, inabalável continua essa “nau de Pedro”, tendo Cristo, com poder absoluto, em seu centro. Nenhuma outra instituição resistiu à corrupção produzida pelos desvios morais ou pela perversão da razão e do egoísmo humano. Só a Igreja soube enfrentar as teorias caóticas, opondo-lhes a verdade eterna; arrefecer o egoísmo, a violência e a volúpia, utilizando as armas da caridade, justiça e santidade; pervadir e reformar os poderes despóticos e materialistas deste mundo, com a solene e desarmada influência de uma sábia, serena e maternal autoridade. Não podiam mãos meramente humanas erigir tão portentosa obra, só mesmo a virtude do próprio Deus seria capaz de conferir santidade e elevar à glória eterna homens concebidos no pecado.

São Paulo, o Apóstolo das Gentes

Nem a vida nem a morte podiam separar a Paulo do amor de Cristo. Por isso, dois mil anos depois do início de sua peregrinação terrena, a monumental obra apostólica do Apóstolo das Gentes continua viva e produzindo abundantes frutos para a Igreja

A vocação é um dom concedido liberalmente por Deus. E, por vezes, compraz-se o Senhor em chamar alguém aparentemente contrário à missão para a qual Ele o destina, a fim de manifestar com maior fulgor o poder de Sua Graça e a gratuidade do Seu chamado. Nesses casos, apesar dos aparentes paradoxos e à revelia do próprio interessado, cujas aspirações parecem entrar em choque com os desígnios Divinos, o Senhor vai preparando os caminhos, servindo-Se até dos próprios obstáculos para fazer cumprir sua Santa Vontade.

Jovem fariseu de Tarso

Nada parecia indicar que aquele jovenzinho de rosto vivo e inteligente, de nome Saulo, viesse a transformar-se num intrépido defensor de Jesus Cristo. Nascido em Tarso, na Cilícia, no seio de uma família judaica, o pequeno Saulo esteve, desde muito cedo, sujeito a duas fortes influências que pesariam grandemente na formação de seu caráter.

De um lado, as convicções religiosas que aprendera de seus pais não tardaram em fazer dele um autêntico fariseu, apegado às tradições, anelante pela chegada de um Messias vitorioso e libertador do povo eleito, então submetido ao jugo estrangeiro, e zeloso cumpridor da Lei até em suas mínimas prescrições.

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“São Paulo” – Praça de São Pedro (Vaticano)

De outro lado, o ambiente de sua cidade natal marcou profundamente a personalidade do jovem fariseu. Tarso – metrópole grega, súdita do Império Romano – tornarase, por sua localização privilegiada, um dos centros de comércio mais importantes daquele tempo. Regurgitava de gente, proveniente das nações mais diversas, cujas línguas e costumes misturavam-se sob o fator preponderante da cultura helênica. A Providência começava a preparar o jovem fariseu para sua futura missão de Apóstolo das Gentes.

Discípulo de Gamaliel

Apenas saído da adolescência, Saulo abandonou sua pátria para instalar-se na cidade-berço da religião de seus antepassados: Jerusalém. Ali tornou-se assíduo estudioso das Escrituras, instruído pelo douto Gamaliel, um dos mais destacados membros do Sinédrio. Também aqui podemos notar a mão de Deus intervindo em sua vida, pois o conhecimento dos Livros Sagrados, que adquiriu ao longo desses anos, servir-lhe-ia mais tarde para abrir seus horizontes a respeito da realidade messiânica de Jesus Cristo.

Entretanto, se Saulo progredia a passos rápidos nas doutrinas farisaicas, sob o olhar vigilante de Gamaliel, em nada pareceu assimilar a prudência que caracterizava seu mestre, sempre cauto em seus juízos e comedido nas apreciações. Pelo contrário, o jovem aluno dava mostras de um exaltado fanatismo religioso, como ele mesmo confessaria em sua epístola aos Gálatas: “Avantajava-me no judaísmo a muitos dos meus companheiros de idade e nação, extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1, 14).

No interior do discípulo de Gamaliel latejava um coração sincero, à procura da verdade. Buscava-a ardorosamente, desejoso de alcançar o pleno conhecimento dela. Não sabia que o termo desses seus anseios encontravase nAquele que, de Si mesmo, dissera: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo 14, 6).

Sim, Saulo não poderia chegar ao Pai, Suprema Verdade, sem passar por Jesus, o Mediador entre Deus e os homens. A afirmação proferida pelo Divino Mestre, momentos antes de Sua Paixão, ele a veria cumprir-se em sua vida, ainda que contra a sua vontade e apesar de suas relutâncias. E a ocasião se haveria de apresentar justamente quando as convicções de Saulo, chocadas ante o Cristianismo que surgia, haviam-se convertido em ódio profundo contra este.

Encontro de Saulo com o Cristianismo

Saulo passara alguns anos fora de Jerusalém, que coincidiram com o período da vida pública de Jesus. Quando voltou, verificou uma grande mudança. A Cidade Santa não era a mesma que ele conhecera em seus tempos de estudante: após a tragédia da Paixão, pesava sobre a consciência do povo e, sobretudo, das autoridades a figura ensangüentada da Vítima do Gólgota, que eles em vão procuravam lançar no esquecimento. E mais: os discípulos daquele Homem não temiam pregar sua doutrina no próprio Templo, proclamando que esse Jesus a quem haviam matado ressuscitara dos mortos (cf. At 3, 11ss.).

Tais acontecimentos não podiam deixar indiferente um fariseu convicto como Saulo. Não compreendia que aqueles simples galileus se levantassem impunemente contra a religião de seus antepassados, arrastando atrás de si tamanha multidão de seguidores. Sua irritação chegou ao auge quando, estando na sinagoga chamada dos Libertos, onde semanalmente se reuniam judeus de todas as comunidades da Diáspora, deparou- se com um jovem chamado Estêvão, que anunciava denodadamente as glórias do Crucificado.

Momentos mais tarde, tendo sido apresentado Estêvão ao tribunal do Grande Conselho, Saulo escutou atentamente o longo discurso no qual este demonstrou, por meio de exemplos históricos e de profecias, ser Jesus o Messias esperado. O jovem fariseu sentia-se incomodado: as palavras de Estêvão eram tão inspiradas e convincentes, que não se lhe podia resistir (Cf. At 6, 10); de outro lado, a imagem desse Jesus Nazareno, que ele não conhecera, parecia perseguilo, e constantemente via-se obrigado a ouvir falar a respeito, de tal modo os seus adeptos se espalhavam por Jerusalém. Duro lhe era recalcitrar contra o aguilhão (cf. At 26, 14). E, entretanto, Saulo recalcitrava!

Indignado diante da coragem de Estêvão, aprovou entusiasticamente sua morte (cf. At 8, 1) e considerou como uma honra a missão de custodiar os mantos dos apedrejadores, uma vez que sua idade não lhe permitia levantar a mão contra o condenado.

Surge o perseguidor dos cristãos

A partir daquele dia, o exaltado discípulo de Gamaliel não pôs mais freio à sua fúria. Acreditando “que devia fazer a maior oposição ao nome de Jesus de Nazaré” (At 26, 9), entrava nas casas dos fiéis e arrancava delas homens e mulheres para entregálos à prisão (cf. At 8, 3); chegava a maltratá-los para obrigá-los a blasfemar (cf. At 26, 11). Não contente com devastar apenas a Igreja de Jerusalém, foi apresentar-se ao príncipe dos sacerdotes, pedindo-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de prender, nessa cidade, todos os que se proclamassem seguidores da nova doutrina (cf. At 9, 2).

Mas, esse Jesus a quem ele teimava em perseguir (At 9, 5), viria a atravessar- Se de novo em seu caminho, desta vez de modo definitivo e eficaz.

No caminho de Damasco

Podemos imaginar a ânsia do jovem Saulo ao aproximar-se de Damasco, antegozando a hora de saciar sua cólera no cumprimento da missão que se propunha. Mas eis que, subitamente, uma luz fulgurante vinda do Céu envolveu-o e a seus companheiros, derrubando-o do cavalo. Ali, caído por terra e cegado pelo resplendor dos raios divinos, o orgulhoso fariseu não pôde mais resistir ao poder de Cristo e declarou-se vencido: “Senhor, que queres que eu faça?” (At 9, 6).

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O jovem sentia-se incomodado: as palavras de
Estêvão eram tão inspiradas, que não
se lhe podia resistir

“Martírio de Santo Estêvão – Juan de Juanes
Museu do Prado, Madri

De perseguidor que era, poucos instantes antes, passava a servo fiel, pronto para obedecer aos mandatos do Divino Perseguido. Quanta glória para o Crucificado! Por um simples toque de Sua graça, transformara em Seu Apóstolo um dos mais ferventes discípulos daqueles que haviam sido seus principais contendores, durante sua vida pública.

Ajudado por seus companheiros, Saulo ergueu-se do chão. Entretanto, mais do que levantar-se do solo, surgiu em sua alma “o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4, 24). O blasfemador de outrora permaneceria para sempre prostrado num amoroso reconhecimento de sua derrota: “Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o primeiro. Se encontrei misericórdia, foi para que em mim primeiro Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade e eu servisse de exemplo para todos os que, a seguir, nEle crerem, para a vida eterna” (I Tm 1, 15-16).

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Saulo converte-se em Paulo

Com a mesma radicalidade com que outrora se apegara ao judaísmo, Saulo abraçava agora a Igreja de Cristo. A graça respeitara a natureza, conservando as características próprias de sua personalidade que viriam mais tarde a contribuir na formação da escola paulina de vida espiritual. A partir desse momento, o Saulo convertido, o novo Paulo, só se moveria por um único ideal, que tomava todas as fímbrias de sua alma e dava verdadeiro sentido à sua existência: “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6, 14).

Doravante essa Cruz – na qual Paulo não apenas considerava os sofrimentos do Salvador, mas via, sobretudo, os esplendores da Ressurreição – seria para ele o rumo de sua vida, a luz dos seus passos, a fortaleza de sua virtude, o seu único motivo de glória. Esse amor, que num instante operara a sua transformação, o impelia agora a falar, a pregar, a percorrer os confins do mundo a fim de conquistar almas para Cristo, arrancando-lhe, do fundo do coração, este gemido: “Ai de mim se eu não evangelizar!” (I Cor 9, 16).

Por esse amor estava disposto a enfrentar todas as tribulações, a suportar os piores tormentos, fossem de ordem natural, como também os de ordem moral: “Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites, menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, a minha preocupação cotidiana, a solicitude por todas as igrejas!” (II Cor 11, 23-28).

Ele havia se proposto, antes de tudo, à glorificação de Jesus Cristo e da Sua Igreja, e isto constituía para ele o suco essencial, o norte de sua vida. A este respeito comenta São João Crisóstomo: “Cada dia ele subia mais alto e se tornava mais ardente, cada dia lutava com energia sempre nova contra os perigos que o ameaçavam. […] Realmente, no meio das insídias dos inimigos, conquistava contínuas vitórias, triunfando de todos os seus assaltos. E em toda parte, flagelado, coberto de injúrias e maldições, como se desfilasse num cortejo triunfal, erguendo numerosos troféus, gloriava-se e dava graças a Deus, dizendo: ‘Graças sejam dadas a Deus que nos fez sempre triunfar’ (II Cor 2, 14).”

Apóstolo das Gentes

Assim, pouco a pouco, por meio de suas viagens apostólicas e das numerosas cartas através das quais sustentava na Fé seus filhos espirituais, Paulo ia assentando os fundamentos da Esposa Mística de Cristo. Nem mesmo internamente havia de lhe faltar adversários: por vezes, entre os próprios cristãos, surgiam conceitos errôneos, como o de querer obrigar os pagãos convertidos a praticar os costumes da Lei Mosaica. A esse respeito Paulo levou sua ousadia até o ponto de discutir com o próprio Apóstolo Pedro, “resistindo-lhe francamente, porque era censurável” (Gl 2, 11).

Pedro aceitou com humildade o ponto de vista de Paulo e apressou-se em colocá-lo em prática. Mas os cristãos que haviam espalhado suas idéias pelas igrejas da Galácia não o imitaram, acrescentando ainda que a justificação provinha estritamente do cumprimento da Lei. Nada poderia ser tão nocivo para a Igreja nascente do que tais enganos, e Paulo logo o percebeu. Decidiu deixar por escrito toda a doutrina sobre esse ponto, e o fez com tanta segurança e clareza que deduz-se têla recebido dos lábios do próprio Jesus.

Assim, a epístola dirigida aos Gálatas é um escrito polêmico, sem rece

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O orgulhoso fariseu não pôde mais resistir ao poder de Cristo
e declarou-se vencido: “Senhor, que queres que eu faça?”

“A conversão de São Paulo”, por Murillo – Museu do Prado, Madri

ios de apresentar a verdade tal como ela é: “Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi apresentada a imagem de Jesus Cristo crucificado? […] Todos os que se apóiam nas práticas legais estão sob um regime de maldição” (Gl 3, 1.10). E pouco antes, afirmava: “Nós cremos em Jesus Cristo, e tiramos assim a nossa justificação da fé em Cristo, e não pela prática da lei” (Gl 2, 16).

São Paulo e os gregos

Se Paulo teve de enfrentar oposições dentro de seu próprio povo, viuse também contestado pelos gregos, que apresentavam objeções de teor completamente diferente, mas não menos perigosas. A Grécia, principal centro da cultura naqueles tempos, orgulhava-se da fama de seus pensadores e de ser o berço da filosofia. Ora, a palavra e a pregação trazidas por Paulo, “longe estavam da eloqüência persuasiva da sabedoria” (I Cor 2, 4), como ele mesmo afirmava.

Assim, não raras vezes tornavase ele alvo do desprezo ou objeto de vergonha para os convertidos. Ele pouco se importava com as ofensas feitas à sua pessoa, mas receava que seus discípulos fizessem eco a idéias tão vãs ou viessem a sucumbir, por medo das humilhações. Por isso, escrevia ele aos fiéis de Corinto, cidade onde principalmente essas falsas doutrinas haviam encontrado aceitação: “A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que foram salvos, para nós, é uma força divina” (I Cor 1, 18).

Não era esse, porém, o pior dos obstáculos encontrados por Paulo na Grécia. Afundados na devassidão e na desordem moral, os gregos haviam elaborado, ao longo dos tempos, uma justificativa para os seus maus costumes, negando a ressurreição dos mortos. Alguns mesmo, como Epicuro de Samos (†270 a.C.), chegaram a afirmar que a alma humana é material e mortal.

No próprio Evangelho percebemos lampejos dessa candente temática quando os saduceus – que, por influência helênica, não acreditavam na ressurreição – se aproximaram de Jesus para pô-lo a prova, mediante uma pergunta capciosa (cf. Lc 20, 27-39). A discussão, como vemos, vinha de longa data e se erguia como principal empecilho para o desenvolvimento do apostolado paulino.

Talvez Paulo, em seus tempos de fervor fariseu, já tivera de enfrentar os mesmos saduceus a esse propósito. gora, porém, como cristão, possuía o argumento da Ressurreição de Cristo e contava com o poderoso auxílio da graça.

Grande Apóstolo da Ressurreição

As dúvidas expostas pelos gregos, quando não a oposição aberta, servirlhe- iam de estímulo para aprofundarse mais na doutrina da ressurreição e deixá-la explicitada para os séculos futuros. Assim escreveu ele aos coríntios: “Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição? Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. […] Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima. Mas não! Cristo ressuscitou dentre os mortos como primícias dos que morreram!” (I Cor 15, 12-14; 19-20).

Custoso era, para aqueles gregos de vida desregrada, ter de assimilar esses princípios. Aceitando a ressurreição da carne, ver-se-iam forçosamente convidados a uma mudança de costumes e a abraçarem um modo de pensar e de comportar-se condizente com essa esperança. Mas até mesmo suas relutâncias contribuiriam para o bem, como afirma o próprio Paulo: “Oportet et haereses inter vos esse” (I Cor 11, 19) – é necessário que haja partidos, ou heresias, entre vós. Impelido pelas circunstâncias, Paulo se transforma no grande Apóstolo da Ressurreição.

Cordeiro e leão ao mesmo tempo

Nem tudo, porém, eram combates para o incansável Paulo. Se face ao erro e à falta de fé ele mostrava todo o seu ardor combativo e sua intransigência, em relação aos bons deixava entrever um fundo de alma extremamente afetuoso e compassivo, ordenado segundo a caridade de Cristo. Nesta admirável conjugação de virtudes, na aparência opostas, Paulo assemelhava-se ao Divino Mestre, sempre disposto a perdoar ou pronto a repreender, a ser

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Algemado, Paulo é levado de Jerusalém a Roma. Durante a viagem,
não perdia a oportunidade de anunciar o Evangelho em
todos os lugares por onde passava.

Cordeiro e Leão ao mesmo tempo.

Em sua carta aos fiéis de Filipos, que se inquietavam por seus sofrimentos e suas necessidades, assim escreve: “Deus me é testemunha da ternura que vos consagro a todos, pelo entranhado amor de Jesus Cristo!” (Fil 1, 8). E ainda, aos mesmos gálatas, que antes invectivara a respeito de seus desvios, escrevia mais adiante: “Filhinhos meus, por quem de novo sinto dores de parto, até que Cristo seja formado em vós, quem me dera estar agora convosco” (Gl 4, 19).

São Paulo, segundo Bossuet

Difícil é exaltar o Apóstolo das Gentes em espaço tão exíguo. A pluralidade estonteante de seus feitos, o poder de sua voz e o alcance de sua ação apostólica, cujos frutos até hoje alimentam a Igreja, deixam em embaraço qualquer escritor. Por isso recorremos à incomparável eloqüência de Bossuet, que assim descreveu o ímpeto da pregação do Apóstolo:

“Este homem, ignorante na arte do bem-falar, de locução rude e de acento estrangeiro, chegará à esmerada Grécia, mãe de filósofos e oradores, e, apesar da resistência mundana, fundará mais igrejas do que Platão teve discípulos. Pregará a Jesus em Atenas, e o mais sábio dos oradores passará do Areópago para a escola deste bárbaro. Continuará mais adiante em suas conquistas, e abaterá aos pés do Senhor a majestade das águias romanas na pessoa de um prócônsul, e fará tremer em seus tribunais os juízes diante dos quais fora citado. Roma ouvirá sua voz, e um dia aquela velha mestra sentir-se-á mais honrada com uma só carta do estilo bárbaro de São Paulo, dirigida a seus cidadãos, do que por todas as famosas arengas que outro dia escutara de Cícero.”

A prisão em Jerusalém

Sim, Roma, haveria de ouvir sua pregação e suas ruas calçadas de grandes pedras seriam pisadas pelos pés do Apóstolo. Esses pés, entretanto, arrastariam pesadas correntes que lhe tolheriam a liberdade dos movimentos. Acusado pelo ódio de seus concidadãos, por causa de sua fidelidade a Cristo, Paulo fora entregue à justiça romana. Se seu corpo suportava as cadeias e os grilhões, sua alma sentia pesar sobre si o suave jugo de Cristo. Prisioneiro do Espírito (cf. At 20, 22), Paulo recebera, à noite, esta revelação: “Coragem! Deste testemunho de Mim em Jerusalém, assim importa também que o dês em Roma” (At 23, 11).

Obediente à inspiração recebida, Paulo exclamará no tribunal do governador Festo: “Estou perante o tribunal de César. É lá que devo ser julgado. […] Apelo para César!” (At 25, 10-11). Querendo desfazer-se de caso tão complicado, que envolvia assuntos da religião judaica, Festo apressou- se em satisfazer o desejo do preso, mandando-o para Roma, algemado e sob a guarda do centurião Júlio.

O primeiro período de pregação em Roma

Durante a viagem, Paulo não perdia a oportunidade de anunciar o Evangelho em todos os lugares por onde passava. Após várias dificuldades ao longo da travessia e enfrentar um naufrágio, fez escala em Siracusa, na Sicília, e dali foi conduzido a Reggio (cf. At 28, 12-13).

Uma vez chegado à capital do Império e instalado em prisão domiciliar, Paulo realizava um anseio que havia tempos acalentava no coração, como ele mesmo o expressara aos cristãos de Roma: “Daí o ardente desejo que eu sinto de vos anunciar o Evangelho também a vós, que habitais em Roma” (Rm 1, 15). Dois anos haveria de durar seu doloroso cativeiro, mas ele, como afirma São João Crisóstomo, “considerava como brinquedo de criança os mil suplícios, os tormentos e a própria morte, desde que pudesse sofrer alguma coisa por Cristo”. Aproveitou o tempo para pregar o Reino de Deus (cf. At 28, 31), escrever numerosas cartas às comunidades da Grécia e da Ásia, as chamadas Epístolas do cativeiro.

Mas a Providência pedia de seu Apóstolo ainda mais alguns anos de abnegação e fadigas, a ele que suspirava pela morte, considerando-a um lucro para ganhar a Cristo (cf. Fl 1, 21).

Novas viagens e retorno à capital do Império

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O sublime imitador de Jesus Cristo sela seu
testemunho com o próprio sangue.

“Martírio de São Paulo” – Paróquia de Maroggia (Itália)

Libertado por um decreto jurídico, Paulo ainda visitaria Creta, Espanha e novamente as conhecidas igrejas da Ásia Menor, pelas quais tanto se dedicara. Afinal voltaria a Roma para onde se sentia atraído, talvez por um secreto pressentimento da proximidade da “coroa da justiça” (II Tm 4, 8) que ali o aguardava.

Sobre o trono dos césares sentavase então o terrível Nero, cuja crueldade, aliada a um orgulho patológico, já fizera sua fama. Era conhecido o ódio que votava aos cristãos, e Paulo não passou despercebido à perspicácia dos espiões do tirano.

Acusado como chefe da seita, foi preso pela polícia imperial e lançado no Cárcere Mamertino, onde, segundo uma antiga tradição, já se encontrava Pedro. Nesse escuro subterrâneo, de estreitas dimensões e teto baixo, o Pontífice da Igreja de Cristo e o Apóstolo das Gentes estiveram acorrentados a uma mesma coluna. Assim, unidos numa mesma Fé e esperança, estavam ambos amarrados pelas cadeias do amor ao Rochedo, que é Cristo (cf. I Cor 10, 4).

O martírio de São Paulo

Chegou por fim o dia em que Paulo deveria “ser imolado” (II Tm 4, 6). Para ele a morte pouco significava, pois já se achava morto para o pecado e vivo para Deus (cf. Rm 6, 11). Uma entranhada e exclusiva união o ligavam a seu Senhor. Não era ele mesmo que vivia, mas sim Cristo quem nele habitava (cf. Gl 2, 20) e operava.

Condenado à morte, Paulo, por ser cidadão romano, não podia, como Pedro, sofrer a pena ignominiosa da crucifixão, mas sim a da decapitação, e esta devia dar-se fora dos muros da cidade. Conduzido por um grupo de soldados, o Apóstolo arrastou seus pesados grilhões ao longo da Via Ostiense e, depois, pela Via Laurentina, até alcançar um distante vale, conhecido pelo nome de Aquæ Salviæ.

Ali, entre a vegetação daquela região pantanosa, o sublime imitador de Jesus Cristo selava seu testemunho com o próprio sangue. Sua cabeça, ao cair no solo sob o golpe fatal da espada, saltou três vezes, fazendo brotar em cada um dos pontos uma fonte de água borbulhante. Este fato, se não comprovado pela História, baseia- se numa piedosa tradição confirmada pelo nome de Tre Fontane, que ostenta o mosteiro trapista construído naquele local.

“Combati o bom combate”

Paulo morrera, mas sua monumental obra apostólica, fundamentada na caridade que consumira sua vida, continuava viva e produziria ao longo dos tempos abundantes frutos para a Igreja. Até o último alento, sua vida não fora senão uma grande luta. Luta de entusiasmo e de entrega, de desprendimento e de heroísmo; luta para levar o Evangelho a todas as gentes, confiando sempre na benevolência de Cristo.

Os piores vagalhões da vida não puderam atingir o seu tabernáculo interior. Sua firmeza, semelhante à imobilidade de um rochedo batido pelas ondas do mar, mantinhase inalterável em meio às maiores angústias e agonias, certo de que nem a vida nem a morte o poderiam separar do amor de Cristo (cf. Rm 8, 38-39).

E uma vez concluído o combate, percorrida toda a sua carreira e chegado ao termo de sua peregrinação terrena (cf. II Tm 4, 7), o Apóstolo apareceu ante o olhar admirado da humanidade, em toda a sua estatura de gigante da Fé, transmitindo para os séculos futuros esta mensagem: “Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade. A caridade jamais acabará!” (I Cor 13, 13.8). (Revista Arautos do Evangelho, Jun/2008, n. 78 e Jul/2008, n. 79)

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A Mensagem do Quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

A nossa agência de notícias Gaudium Press publicou ontem interessante artigo sobre Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que reproduzimos hoje com a esperança de que Ela auxilie sempre mais a todos os devotos dEla neste dias confusos que vivemos.

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A Mensagem do Quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Aparentemente é um simples quadro de mais uma das inúmeras devoções à Santa Mãe de Deus, mas se nos determos em seus detalhes, veremos que a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é cheia de simbolismos e significados.

Medindo 53 por 41,5 centímetros o ícone foi produzido no estilo bizantino em madeira sobre um fundo dourado.
Na época em que a obra foi executada, durante o Império Romano, os artistas utilizavam o ouro ou simplesmente sua cor para retratar apenas as grandes personalidades.

Segundo a tradição o quadro foi pintado por um artista até hoje desconhecido que, por sua vez, inspirou-se em uma pintura atribuída a São Lucas.

O ícone é rico em detalhes e a cada um deles é atribuído um significado, uma simbologia, uma mensagem.

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Eis alguns desses detalhes:

1 – Abreviação grega de “Mãe de Deus”.
2 – Estrela no véu de Maria, a Estrela que nos guia no mar da vida até o porto da salvação.
3 – Abreviatura de “Arcanjo São Miguel”.
4 – Coroa de Ouro – O quadro original foi coroado em 1867 em agradecimento dos muitos milagres feitos por Nossa Senhora em se título preferido “Perpétuo Socorro”.
5 – Abreviatura de “Arcanjo São Gabriel”.
6 – São Miguel apresenta a lança, a vara com a esponja e o cálice das amarguras.
7 – A boca de Maria é pequenina, para guardar silêncio, e evitar as palavras inúteis.
8 – São Gabriel com a cruz e os cravos, instrumentos da morte de Jesus.
9 – Os olhos de Maria, grandes, voltados sempre para nós, a fim de ver todas as nossas necessidades.
10 – Túnica vermelha, distintivo das virgens no tempo de Nossa Senhora.
11 – Abreviação de “Jesus Cristo”.
12 – As mãos de Jesus apoiadas na mão de Maria, significando que por elas nos vêm todas as graças.
13 – Manto azul, emblema das mães naquela época. Maria é a Virgem – Mãe de Deus.
14 – A mão esquerda de Maria sustentando Jesus – a mão do consolo que Maria estende a todos que a ela recorrem nas lutas da vida.
15 – A sandália desatada – símbolo talvez de um pecador preso ainda a Jesus por um fio – o último – a devoção a Nossa Senhora.

O fundo do quadro é de ouro, dele esplendem reflexos cambiantes, matizando as roupas e simbolizando a glória do paraíso para onde iremos, levados pelo perpétuo socorro de Maria.

Assustado pela aparição dos dois anjos, mostrando-lhe os instrumentos de sua morte, Jesus corre para os braços de sua Mãe, e com tanta pressa que desamarrou-se o cordão da sandália… Nossa Senhora abriga-o com ternura e o Menino Jesus sente-se seguro nos braços de sua Mãe. O olhar de Nossa Senhora não se dirige ao menino, mas a nós – apelando para os homens evitarem o pecado, causa do susto e da morte de Jesus. As mãos de Jesus estão na mão de Maria para lembrar que Ela é a Medianeira de todas as graças.

Por Emílio Portugal Coutinho.

http://www.gaudiumpress.org/content/38073

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Quando Deus criou a água?

No início do Gênesis encontramos a primeira narrativa da criação que descreve a obra de Deus em seis dias. Vemos no primeiro dia que: “No princípio Deus criou os céus e a terra. A terra, porém, estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1, 1-2). No segundo dia Deus ordena: “‘Faça-se um firmamento entre as águas, e separe ele umas das outras’. Deus fez o firmamento e separou as águas que estão debaixo do firmamento daquelas que estão por cima” (Gn 1, 6-7). No terceiro dia, Deus disse: “Que as águas que estão debaixo do firmamento se ajuntem num mesmo lugar, e apareça o elemento árido” (Gn 1, 9). Ao elemento árido Deus chamou Terra e ao ajuntamento das águas Mar (Cf. Gn 1, 10). No quinto dia Deus cria os seres vivos: “‘Produzam as águas uma multidão de seres vivos, e voem os pássaros sobre a terra, debaixo do firmamento dos céus’. Deus criou os monstros marinhos e toda a multidão de seres vivos que enchem as águas, segundo sua espécie, e todas as aves segundo sua espécie” (Gn 1, 20-21). Em seguida abençoou os seres vivos para que frutifiquem, se multipliquem e encham as águas do mar (Cf. Gn 1, 22).

Vemos nesta narração a criação dos céus e da terra, dos elementos verdes e dos seres vivos, no entanto, a água que é citada oito vezes, em nenhum momento é apontada sua criação.

Afinal, quando Deus criou a água?

Em Santo Ambrósio encontramos esta afirmação sobre a obra da criação: “Assim, no princípio do tempo Deus fez o céu e a terra. O tempo existe, pois, a partir deste mundo, não antes do mundo; o dia, por sua vez, é uma parte do tempo, não o princípio. Pela sequência da leitura, poderíamos acrescentar que no primeiro dia o Senhor fez o dia e a noite, que são turnos dos tempos, e no segundo dia fez o firmamento, pelo qual separou a água que está embaixo do céu da água que está acima do céu; contudo, para esta asserção, basta dizer apenas que no princípio fez o céu, de onde vêm a prerrogativa e a causa da geração, e fez a terra, na qual está a substância da geração. Com efeito, neles foram criados aqueles quatro elementos, a partir dos quais são geradas todas as coisas que são do mundo. Os quatro elementos são o ar, o fogo, a água e a terra, que estão misturados uns aos outros em todas as coisas” (Hexameron, Santo Ambrósio. 6,20).

Santo Agostinho afirma que “pelo termo ‘terra’ entendamos já constituída a forma terrena e sobre ela estendidas as águas mencionadas com a forma já visível de sua espécie” (Comentário aos Gênesis, Santo Agostinho. 27).

Portanto, em um único momento Deus criou todo o Universo, inclusive a água, como afirma Santo Tomás de Aquino (Questiones Disputatae De Potentia Dei): “Uma parte do Universo depende de outra, especialmente a inferior da superior. Assim, é impossível que algumas partes tenham sido feitas antes que outras”.

Fonte: http://novafriburgo.blog.arautos.org

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Peregrinando pela Basílica de Santo Antônio de Pádua

Pádua – Itália (Segunda-feira, 17-06-2013, Gaudium Press) Na cidade italiana de Pádua encontra-se um dos Santuários mais visitados por católicos de todos os continentes e uma das principais obras de arte do mundo: a Pontifícia Basílica de Santo Antônio de Pádua.

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A Basílica de Santo Antônio foi construída
entre os anos de 1238 e 1310.

Reconhecida pela Santa Sé como Santuário Internacional, a Basílica foi construída entre os anos 1238 e 1310, onde, nos tempos de Santo Antônio -nascido em Lisboa por volta do ano 1195 e falecido em Pádua no dia 13 de junho de 1231-, encontrava-se a pequena igreja de Santa Maria ‘Mater Domini’, hoje Capela de Nossa Senhora dentro da Basílica, que na época do Santo era o lugar onde se celebrava a Santa Missa e se administrava os Sacramentos.

A primeira parte do templo, que é uma igreja franciscana com uma só nave, iniciou-se no ano de 1238. Mais tarde foram acrescentadas as naves laterais e logo se converteu em uma monumental construção que hoje recebe a admiração dos milhares de fiéis católicos que a visitam a cada ano.

Em forma de Cruz latina, e elevado com a combinação do estilo românico e gótico, o Santuário tem 115 metros de profundidade, 55 de largura e 38,50 metros de altura em seu interior. Também está coroado por um conjunto de oito cúpulas e dois campanários; seu interior é iluminado por três grandes rosáceas, uma situada na fachada, e as outras duas nas laterais do Altar Maior.

No interior da Basílica destaca-se a Capela da Arca, localizada na lateral direita do santuário. Ali encontra-se o túmulo de Santo Antônio, onde muitíssimos devotos deixam mensagens com suas súplicas ao milagroso de Pádua. A capela é uma imponente obra de arte com nove auto relevos em mármore que ilustram vários episódios da vida do santo. O túmulo de Santo Antônio, localizado no centro como Altar, é obra de Tiziano Aspetti, escultor do Renascimento.

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Presbitério e Altar Maior.

Contígua a esta capela encontram-se outras duas: a Capela da Virgem Mora, antiga Igreja de Santa Maria, lugar que acolheu os restos mortais de Santo Antônio até o ano 1262; e a Capela do Beato Lucas de Pádua, dedicada ao discípulo e companheiro de Santo Antônio.

Outras duas capelas sobressaem à lateral direita da Basílica: a do Santíssimo Sacramento, construída com mármores, bronzes e destacadas obras de arte, para honrar a Jesus Eucarístico; e a Capela de Santiago, dedicada a quem é conhecido como “o protetor de Espanha”.

Imponente é o presbitério e o Altar Maior, situado no centro da igreja e que resguarda a obra de arte mais célebre da Basílica, de autoria de Donatello. Deste altar destaca-se um precioso e impressionante Crucifixo, sob o qual encontra-se a Virgem Maria, que carrega em seus braços ao Menino Jesus.

Atrás do Altar e do presbitério está outro dos grandes tesouros do Santuário: a Capela das Relíquias, onde permanecem expostos numerosos relicários e cálices de vários santos, destacando-se, em um nicho central, um precioso relicário de ouro que conserva a língua incorrupta de Santo Antônio.

Por Sônia Trujillo / Gaudium Press
Tradução Emílio Portugal Coutinho

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O monge Alcuíno

Durante o último Curso de Férias, em uma cena na qual figurava Carlos Magno com os seus súditos, surgiu um personagem humilde, vestido de negro… Causou surpresa… Quem era, e que importância teria esse homem?

Carlos Magno, além de dar importância ao enriquecimento da alma, almejava também um enorme avanço na cultura. Interessava-se por música, línguas e teologia. Aprendeu também, com a ajuda de seus mestres,  retórica, dialética e astronomia.

Na Idade Média, graças à Igreja Católica, formaram-se Escolas e Universidades. Havia três tipos: as escolas monacais, em geral anexas à uma abadia, que faziam transcrições e conservavam materiais antigos; as episcopais, anexas à uma catedral, transmitiam a instrução elementar, necessária para o acesso ao sacerdócio ou para assumir funções de utilidade pública e de administração; e as palatinas, anexas ao palácio do rei.

Vitral de Carlos Magno, Basilica de Nossa Senhora de Lujan, Argentina

Ansioso por difundir o conhecimento, o grande Imperador reuniu estudiosos de diversas partes da Europa na capital do Império, Aachen, a fim de formar uma “Escola Palatina” com a intenção de fazer surgir na terra dos francos uma nova Atenas batizada, dando a Deus as glórias que a cidade grega não Lhe deu.

Dentre esses maravilhosos pensadores; destacou-se pela sua inteligência incomparável, ante o olhar do Imperador, um monge inglês chamado Alcuíno de York. O que se sabe desse homem, nascido em 730, é que estudou numa escola episcopal em sua cidade natal. Aceitando a proposta irrecusável do Imperador, foi morar no palácio em 780 e coordenar o tão desejado programa educacional.

Escreveu livros escolares que substituíram outros,  repletos de erros, até então usados pelos francos, e ainda formou professores que iriam se estabelecer nas escolas fundadas nas abadias da cidade. Dividiu o seu sábio curso em instrução elementar, o estudo das sete artes liberais do trívio (gramática, retórica e dialéctica) E do quadrívio (aritmética, geometria, astronomia e música) e o estudo das Sagradas Escrituras. Morreu em 804, conseguindo alcançar o objectivo tão desejado pelo Imperador “férreo”.

Alcuíno é um daqueles homens misteriosos nos quais, apesar de não se conhecerem suas vidas, pode-se vislumbrar uma admirável grandeza, pela consideração dos frutos excelentes que produziram…

Por João Patrício, 1º ano de filosofia. Extraído do jornal do estudante Chez Nous, n. 36

* * *

Muito se discute em nossos dias as dificuldades de uma séria formação educacional para os jovens. Ora é a falta de interesse no aprendizado, ora são os meios insuficientes para uma boa estrutura. Como Alcuíno conseguiu que todo o Império Carolíngio tivesse uma orientação profunda nos estudos? O método de Alcuíno não será a resposta para nossos dias?

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Uma andorinha faz verão?

Por Gervásio José Goulart, 8º ano. Extraído do jornal do estudante: Chez Nous, nº36

Durante a vida nesta Terra pode acontecer que várias coisas, aliás de profundo significado, nos  passem despercebidas. O próprio Mons. João Clá Dias, EP, nos ensina que Deus dá aos homens a capacidade de ver, nas coisas naturais, reflexos sobrenaturais. Mas por que muitas vezes não fazemos uso dessa capacidade? O corre-corre da vida no nosso século torna difícil prestar atenção em tais reflexos.

O beato Angélico nos dá a esse propósito um belo exemplo, visível no seu quadro da Anunciação. Contemplando essa magnífica obra, notamos uma discreta presença: uma andorinha. Poder-se-ia perguntar: por que foi representada uma andorinha e não um cordeiro, que é um dos mais frequentes símbolos do Salvador?

O fato é o seguinte: em alguns países cujo inverno é rigoroso as aves migratórias, sentindo a chegada da estação, voam para as regiões mais quentes, a fim de sobreviverem. Quando prevêem o retorno do verão, voltam para o local de onde vieram.

Por isso, Fra Angélico pintou essa pequena ave no quadro da Saudação Angélica, para simbolizar que o Sol de Justiça, Nosso Senhor Jesus Cristo, estava para nascer. A andorinha estava ali esperando a Natividade de seu Criador.

Peçamos a Deus que nos dê a graça de ver, em todas as realidades naturais, os reflexos sobrenaturais.

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Peculiaridades históricas da origem do Brasil

Rio de Janeiro

Por Mary Teresa MacIsaac,
2ª Série. Extraído do jornal do estudante: Chez nous, nº35.

Cada nome que é criado tem uma pequena história. Poucos são as denominações com origem desconhecida ou dos quais não se sabe por que foram adotados. Mesmo na História do Brasil houve inúmeras peculiaridades assim.

Ao chegarem os portugueses na então Terra de Santa Cruz, escolheram o nome de “Todos os Santos” à baía onde aportaram, por ser o dia 1º de Novembro;

“Rio de Janeiro”, pois lá chegaram durante o mês de Janeiro, e acharam que estavam entrando na foz de um rio;

“Olinda” porque quando Nicolau Coelho chegou lá, exclamou: “Ó linda!”;

“Fernando de Noronha” em honra ao seu descobridor (que na realidade chamava-se Fernão de Loronha), e assim por diante.

Francisco I Rey de Francia – Castillo de Blois

 Entretanto, há uma outra denominação que sofreu mudanças bastante mais curiosas. O Barão de Saint Blancard, almirante da esquadra do Rei Cristão de França, possuía grandes aspirações coloniais. Por que não fundar uma nova França naquele território riquíssimo além-mar? Era tão vasto, pensou ele, que seria muito fácil aportar, colonizar e extrair riquezas sem que ninguém o percebesse. O Rei Francisco I aprovou sua ideia. Vieram então ao Brasil cento e vinte homens de guerra, num navio chamado La Pellerine.

Os franceses escolheram o Nordeste, lugar estratégico, pois era o ponto mais próximo da França. O local havia sido colonizado por um português, chamado Fernão Buco, mas fora abandonado por serem os índios demasiado ferozes. Chegaram os franceses e encheram La Pellerine de pau-brasil, papagaios e macacos. Construíram uma fortaleza e deixaram o senhor De la Motte com alguns outros para tomarem conta do lugar, até voltarem.

O senhor De la Motte encontrou-se com os índios, distribuiu presentes e perguntou-lhes o nome do lugar. Estes, nada entendendo do francês, responderam: “Fernão Buco”. Os franceses passaram então a chamar o local de “Fernam Buquo”, pois não conseguiam pronunciar “ão”. Mais tarde os portugueses os expulsaram da região, a qual, com o passar do tempo, ficou chamada: “Pernambuco”.

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Refinados como a prata

Por Alcides Gutierres, 1º ano de Teologia. Extraído do Jornal do estudante Chez nous, n. 35

Um dos deveres de nosso dia-a-dia consiste na recitação do Oficio Divino[1]. Este, na maioria composto por salmos, nos faz meditar em realidades que estão além de nosso quotidiano. Por exemplo, a famosa passagem do profeta Malaquias, aliás, presente nas obras de Haendel, numa parte do belíssimo oratório “O Messias”: “Purificará os filhos de Levi e os refinará, como se refinam o ouro e a prata’’ (Malaquias 1,3).

Sem dúvida esse trecho pode ser aplicado à nossas vidas. Para que os leitores a entendam melhor, nossa equipe de redação visitou um ourives, a fim de assistir a uma purificação de prata.

Primeiramente ele tomou uma pepita de prata e, com muitos golpes, quebrou-a ao meio, para ver o centro, se fosse branco e leitoso seria bom sinal; se fosse cinzento, a prata não estaria pura.

Em seguida colocou os pedaços da prata na forma incandescente, (esquentada por um de nossos diáconos que acompanhava a equipe) onde permanece até derreter. Nesse momento ocorreu algo curioso: um dos nossos fez uma pergunta ao ourives, mas este não respondeu. O arauto insistia, mas ele dizia:

-“agora não”. Quando contemplávamos a prata transformada num líquido incandescente, do qual saíam labaredas esverdeadas, o ourives virou a forma e disse: -“Devo manter os olhos fixos nela até tornar-se limpa como um espelho, a ponto de ver-me refletido, pois se a prata fosse deixada um instante a mais, seria destruída”.

Diversas pepitas de metais preciosos

 Após submergir a pepita em um ácido, retirou-a, entregando-a em nossas mãos.

Num silêncio respeitoso, os que ali estavam, imaginavam-se passando pela purificação. Contudo, o ourives tomou a pepita e começou a bater nela uma, duas, cinco vezes; comentando em seguida: “Se quebrasse nas primeiras quatro, teria que voltar ao fogo”. Continuou batendo até quebrá-la ao meio. Tomando-a inspecionou seu conteúdo, dizendo: -“ É boa mesmo, branca e leitosa”.

Todos seremos provados como a prata. Para isto, é indispensável o fogo. Entretanto, ao sentirmos o calor das chamas, tenhamos esta certeza: Deus, muito ao contrário de nos abandonar, não deixa de nos olhar, pois: “se a prata fosse deixada um instante a mais, seria destruída”. Ele quer ver sua própria fisionomia refletida em nós: Christianus alter Christus!

Após um último sacrifício, seremos quebrados novamente. Só então estaremos prontos para sermos moldados ao gosto do Ourives e para nos transformarmos numa obra pura e bela. Mas lembremos: é indispensável passar pelo fogo da provação, e, se uma vez não for suficiente, talvez só na terceira ou na quarta estaremos prontos.


[1] Também conhecido como Lirturgia das horas, na linguagem antiga como Breviário.

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Todo brasileiro o conhece bem, mas como defini-lo?

Por Jiordano Carraro, 2ª série. Extraído do jornal do estudante Chez Nous

Vista desde o pico das agulhas negras – RJ

Todo brasileiro o conhece bem. Faz uso dele constantemente e, muitas vezes, nem se dá conta; é algo que muitos povos admiram e, inclusive, tentam imitar, mas raramente são bem sucedidos… É um ótimo auxiliar em tudo: falamos do “jeitinho brasileiro”.

Se pararmos para pensar, tentando defini-lo, vemos que é difícil, mas o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira nos explica: “O jeitinho, tipicamente brasileiro, poderia ser definido como a destreza pela qual alguém resolve certos problemas quase insolúveis, com pouco esforço, de modo original, improvisado, ágil, rápido e tranquilo, no momento adequado, sem ruído nem ostentação. Essa destreza obtém resultados inesperados, aparentemente sem proporção com os meios utilizados, pois triunfa, às vezes, num pequeno gesto, num movimento de dedos, num golpe de olhar, no canto de um sorriso ou na gravidade de um cumprimento.

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Felipe Neri: Santo ou não?

Por Aline Karolina de Souza Lima, – extraído do jornal do estudante chez nous
San Felipe de Neri - Ig. San Abbondio - Cremona-2

São Felipe Neri - Ig. San Abbondio - Cremona

Era o ano de 1621. Roma alegrava-se com o pontificado de GregórioXV. No Vaticano, porém, cardeais, clérigos e leigos debatiam um assunto que causava muita polêmica na época: santo ou não? Era o fundador da congregação do Oratório, cujo processo de canonização há tempos era discutido.
Felipe Néri destacara-se muito por suas virtudes de santidade. Todos tinham verdadeiro encanto por ele, pois sabiam que era um relicário vivo. Entretanto, uma coisa inquietava o advogado do diabo: “Como poderia ser este homem um santo, se suas atitudes não demonstravam seriedade?” Era sabido que o apostolado de Felipe Néri criava uma atmosfera na qual a alegria era a virtude que mais sobressaía, o que para o advogado do diabo constituía uma falta de seriedade.
Ora, enquanto todos os participantes da reunião discutiam, o advogado do diabo se levanta e proclama sua argumentação: “Felipe Néri não pode ser canonizado, pois demonstrou durante sua vida, em seus atos e palavras, sobretudo no seu apostolado, muita falta de seriedade.” Um forte burburinho ecoa pela sala. Todos se entreolham como que perguntando: quem seria capaz de atestar que este argumento era falso?
Reconheciam não possuir o conhecimento necessário a respeito de sua história para debater contra esta alegação. Porém, não podiam eles encerrar o processo de canonização deste homem tão amado por todos, tão somente por não terem habilidade de ir contra uma argumentação feita pelo advogado do diabo…
De súbito, os presentes perceberam que não estavam sozinhos. Felipe Néri fizera-se presente no meio deles e, com o seu sorriso característico, disse: “Não importa se me canonizam ou não; já gozo das alegrias do Céu!” E desapareceu. À vista deste fato, não houve quem duvidasse de sua santidade. O Papa Gregório XV aprovou a canonização de São Felipe Neri!

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Qual a distância que nos separa do céu?

Por Douglas Rodrigues, extraído do jornal do estudante chez nous

por do sol- SPMuitas e muitas vezes, especial­mente quando somos ainda crianças, temos o de­sejo de voar, de poder passear pelas encantadoras nuvens, nadar naquele fascinante panorama. Há até os que, ignorantes das alturas do céu, sobem no telhado de suas casas para tentar alcançar as nuvens; quase sempre sem nenhum resultado…

Mas, estarão elas tão dis­tantes assim?

Aquilo que chamamos “céu” não é senão o azul que podemos admirar nos dias serenos, derivada do fato de as partículas de ar re­fletirem aos nossos olhos somente os componentes desta cor da luz solar.Assim, quando olhamos para o alto, o que realmente vemos é o ar. E a altura deste “céu” não é muito considerá­vel, pois terá – dependendo do lugar onde se está – oitenta a noventa qui­lômetros, o que comparado com o tamanho do universo não é nada.

Entretanto, por “céu” pode-se entender não só a abóbada celeste e azulada do dia, mas também o gran­de espaço que temos em volta de nós, e que podemos contemplar em qualquer noite serena. A vista alcança muito mais longe, pois distinguimos as estrelas diretamente através da atmosfera, enquanto que durante o dia, o sol céu - portugalilumina todo ar que nos rodeia, de modo que, em­bora pareça que observamos muito longe, não podemos realmente en­xergar mais que o ar iluminado, ex­ceto quando há alguma coisa muito brilhante além dele, como o próprio sol e, ainda, algumas vezes, a lua. Mas se estudarmos o quão longe estão as estrelas de nós, então re­almente saberemos a distância que vai da Terra ao céu. São fantásticas extensões, medidas em anos-luz…

 Porém, o Céu, morada eterna dos justos, poderá estar tão mais próximo. Lá se chega pela Santidade e a visão que nos é permitida é a beatífica, a do próprio Deus, que nos permite conhecê-Lo todo, mas não totalmente, tanto mais quanto foi o nosso amor por Ele nesta terra… Então, viajaremos por estas extensões extraordinárias com a simples velocidade do pensamento, à semelhança dos Anjos. Foguetes assim, os homens estão por inventar…

 Para quê contentarmo-nos com o céu, quando podemos chegar ao Céu? Sejamos exigentes, exijamos o impossível…

 “Porque aos homens é impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19, 26).

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Resolvendo o “Busillis”

Por Yuri Zinatto, extraído do jornal do estudante chez nous

Durante uma reunião recente, o reitor de nosso Seminário utilizou  a palavra“busílis”, e para nossa surpresa, escutamos uma pergunta ao lado: Mas quem foi ele?

Vejamos se conseguimos explicar “quem foi ele”…

refeitt_abadia_mont_st_michel_115_1555Em um imenso mosteiro, com grossas paredes, iluminado a luz de velas e repleto de santos monges, espalhou-se a notícia de que mais um noviço acabara de ser recebido. Naturalmente, o novo confrade foi logo instalado em sua cela, e recebeu a explicação dos horários e da disciplina que vigoravam entre aquelas santas paredes.

Também lhe foi dito quais as funções que receberia no decorrer das semanas, tais como a de oficiante (responsável por entoar os cânticos), servidor da mesa, curador da regra, e… a função de leitor.

Passou o tempo, e chegou a semana em que o novo irmão foi escalado para fazer a leitura na comunidade… Toca o sino! Todos os monges se reúnem na capela, para irem cantando os salmos penitenciais em cortejo até o refeitório. Nesse ínterim, o monge, no púlpito, marcava o que iria ler, logo após a recitação do Ante Prandium.

Todos chegaram, tomaram seus lugares, e iniciou-se o cântico. Depois sentaram-se, e o nosso monge começou a leitura, em latim. Estava um tanto inseguro, por se tratar da primeira vez que exercia a função. Ao chegar ao fim da primeira página leu:”in die“, logo virou a página e pronunciou o que ele acreditava ser a próxima palavra: “busílis”leitura-monje-ref

Então os monges, já letrados em latim, pensaram se tratar de uma palavra nova, desconhecida por eles. Tentaram, durante alguns dias, resolver aquela incógnita… Sem resultado algum. Procuraram nos mais variados dicionários, e nada encontraram. Faziam todo o esforço possível, mas não conseguiam resolver o “busílis”! O próprio noviço auxiliava na procura da enigmática palavra, mas era tudo em vão…

Qual não foi a surpresa dos monges, quando foram verificar no próprio livro das leituras, que o termo lido como “busílis”, na verdade se referia à continuação da última palavra da página anterior, a qual, lida corretamente era: “in diebus illis” (naqueles dias), e não ” in die busillis”!

Portanto, quando emprega -se o termo “resolver o busílis”, significa o seguinte: descobrir o ponto principal de uma dificuldade, ou problema.

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Mens sana in corpore sano

esportes2É comum, em nosso Seminário, a prática da educação física.

Estes exercícios são realizados separadamente, por conjuntos, de acordo com a faixa etária. Algumas vezes, porém, durante os jogos, é possível mesclar os grupos, ocasionando uma união e convívio maior entre os seminaristas.

A atividade esportiva tem uma grande força educacional, sobretudo entre os jovens, e ajuda na formação da pessoa humana. Foi o que afirmou Sua Santidade, Bento XVI, na sua mensagem ao presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, Cardeal Stanislaw Rylko, por ocasião do seminário de estudos, promovido pela seção ‘Igreja e Esporte’ da Santa Sé:

 O esporte deve garantir uma formação humana e cristã para as novas gerações e se for praticado com determinação se torna uma escola de formação aos valores humanos e espirituais, meio privilegiado de crescimento pessoal e de contato com a sociedade.

[…]através das atividades esportivas, a comunidade eclesial ajuda na formação da juventude, fornecendo um ambiente adequado para o crescimento humano e espiritual.[1]

 Sigamos, pois, os conselhos do Santo Padre, e pratiquemos os exercícios físicos com esta compenetração, sem a qual o exercício mental ou físico poderá ficar comprometido. Não se devem esquecer um do outro: Mens sana in corpore sano! E nenhum dos dois deve negligenciar a Deus…

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[1] in: Rádio Vaticano, 09 de novembro de 2009.

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O Monge domador de animais

Por Leonardo Finder, 8º ano – extraído do jornal do estudante chez nous

o-mongeUm dia, num mos­teiro na Ale­manha, o abade tinha saído. No final da tarde, ao voltar, perguntou a um dos seus monges de grande virtude:

– Então meu filho, vejo você meio cansado, o que aconteceu?

Ah! Meu pai, realmente estou cansado, mas com a graça de Nos­sa Senhora consegui cumprir todos meus deveres. Todos os dias tenho que vigiar dois falcões, conter dois cervos, forçar dois gaviões a fazer a minha vontade, vencer um verme, domar um urso e tratar de um do­ente.

Então o abade voltou-se com um tom sério para o monge e lhe disse: “Está brincando comigo?! Estes tipos de trabalho não existem em nosso mosteiro”.

O monge explica: “Os dois falcões são os meus olhos que devo vigiar continuamente para que não se detenha num objeto proibido. Os dois cervos são os meus pés cujo andar devo ordenar, se não quiser que eles me conduzam pelo cami­nho do mal. Os dois gaviões são mi­nhas mãos, que me cumpre for­çar a trabalhar e fazer o bem. O verme é a minha língua, a qual precisa ser refreada cem vezes ao dia para não ter conversas vãs e superficiais. O urso é o meu coração, cujo egoísmo e vaidade tenho que domar. E o doen­te é o meu corpo, de que me cum­pre tomar cuidados incessantes para que a sensualidade não se aposse dele.

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A importância da Confissão bem feita

confissaoLuan Felipe de Souza, extraído do jornal do estudante Chez Nous

Como todas as boas e zelosas Carmelitas, Santa Tereza d’Ávila estava fazendo uma meditação em sua cela. Passado algum tempo, apareceu-lhe em visão mística, como um raio de luz, o próprio Sagrado Coração de Jesus, indicando à Santa um enorme abismo, onde milhares de almas caíam incessantemente. Foi tal a aparição, que dizia Santa Terezinha: “Assim como a neve que cai no inverno, ali caíam as pobres almas…”

Aturdida com o que via, interroga Jesus:

– Meu Deus! Certamente são almas de pagãos ??!!!

Ao que Ele responde:sta-teresa

– Não, Teresa. São almas de batizados como tu, inclusive instruídas na Fé…

A carmelita, intrigada, insiste, dizendo:

– Mas não seriam eles participantes dos Sacramentos, sobretudo da Confissão?

Acrescenta Nosso Senhor:

– Sim, Teresa. Eram praticantes dos Sacramentos, como tu. Confessavam-se frequentemente, no entanto, não se confessavam bem…

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Quem foram eles: Melchior, Gaspar e Baltasar?

Fernanda Cordeiro Fonseca, extraído do jornal do estudante chez nous reis-magos

  É noite de inverno… Numa pobre manjedoura, encontra-se reclinado o esperado das nações e o anunciado pelos profetas: o Messias. Ao seu redor, apenas sua Mãe Santíssima e o varão justo por excelência O adoram profundamente. Para mitigar o frio, acalenta-O o bafo dos animais.

Quão extraordinário seria se pudéssemos, ao menos por um instante, assistir a esta miraculosa cena por uma fresta da inóspita gruta de Belém.

Contudo, a Divina Providência concedeu a graça, não apenas de presenciar este acontecimento mas ainda de ter nos próprios braços o Divino Infante, a misteriosos varões: os três Reis Magos.

O Evangelho os qualifica de ” Magos “, palavra que, à primeira vista, erroneamente ligaríamos a encanto e feitiçaria. Ao contrário, ela especifica, no Oriente, o homem sábio, perito em astrologia.

Segundo a mística Beata Ana Catarina Emmerick, 500 anos antes do nascimento de Jesus, o estudo dos astros estava em decadência. Os únicos pagãos em que se achava aceso o desejo da vinda do Menino Prometido, e que acreditavam na profecia de Balaão sobre a estrela de Jacó, eram os Reis Magos.

 adoracion-reyes-magos-vitral-catedral-de-san-gatian-de-toursimg_9171-043Devemos o aspecto físico dos ilustres personagens a S. Beda, que também recolheu seus nomes. Assim sendo, a Tradição diz-nos que: “O primeiro foi Melchior, velho, de barba e cabelos longos e brancos… o segundo tinha por nome Gaspar e era jovem e ruivo… O terceiro, negro e totalmente barbado, se chamava Baltasar.”  Estes nomes lhes designam o caráter: Gaspar – vai com amor; Melchior- aproxima-se com humildade; e Baltasar – age profundamente, conformando sua vontade com a de Deus.

Em uma homilia, nosso Fundador comentou o belo exemplo de despretensão dado por estes pagãos, provavelmente oriundos da Pérsia, atual Irã:

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– Estes reis, sem nunca terem lido uma palavra da Escritura ou tido contato com algum profeta, são tocados pelo Espírito Santo e crêem nesta revelação a propósito de uma estrela, que lhes aparece, se movimenta, e os convida a abandonar a vida que levavam  naquele tempo e a atravessar o deserto com todas as agruras e dificuldades que pudessem encontrar pelo caminho.[…] Surgiu esta luz e não puseram dúvida. Isto sim, puseram-se a caminho.”

 Neste Natal, sigamos os Reis Magos numa adesão total ao Menino Jesus.

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Árvores de Natal, por quê?

Sebastián Corrêa, 2ºano de filosofia – extraído do jornal do estudante chez nous

rothembur1Sapin, tannenbaum, árbol de Navidad, ever green… Chamem-na como for, a árvore de natal nunca deixou de ser uma das decorações mais atraentes nas comemorações natalinas. Verdejante, apinhada de simpáticas luzinhas, sua vitalidade e variedade constituem o encanto e alegria dos pequenos, não só de idade, mas também de coração, e onde ela está, impregna o ambiente com o seu característico odor de pequenos ramos queimados pelas velinhas acesas.

Em nossos dias, é muito difundida a idéia de que este belo e tradicional costume surgiu na Norte-América, devido à sua forte difusão nesse local. Contudo, ao remontarmos a um passado cheio de histórias, deparamo-nos com a sua verdadeira origem, pouco conhecida e mais antiga do que parece…

Os bárbaros invadiram a Europa central no longínquo século sétimo. Mais especificamente, no sul da Saxônia habitavam os frisões (entre a atual Bélgica e Weser, em frente à Inglaterra). Suas crenças, todas pagãs, eram muito arraigadas e, às vezes, anteriores à própria Revelação Cristã.

Certo dia, um monge beneditino de origem anglo-saxônica, movido pela graça, sentiu o desejo de evangelizar essas inóspitas regiões. Seu nome era Wilfrido de York (634-709). No início da sua missão (678-685), instalou-se num lugar onde os habitantes, curiosamente, cultuavam os carvalhos, muito freqüentes por aquelas florestas. Segundo diziam, estes eram possuídos por espíritos, os quais os conservavam verdes, inclusive durante o inverno, e estas mesmas divindades promoviam o retorno da primavera e do verão.

Temerosos, os frisões realizavam diversos rituais durante o mês de Dezembro, em torno das gigantescas árvores,  a fim de que não deixassem de exercer a sua indispensável função. São Wilfrido deparou-se com difícil rothemburg-de2obstáculo, ao querer desmentir essa arraigada convicção pagã. Mesmo assim, dispôs-se a demonstrar-lhes a falsidade de tal imaginação.

Certo dia, em meio àquelas práticas religiosas, congregou os bárbaros no intuito de cortar um dos velhos carvalhos. Golpe vai golpe vem, irrompeu uma terrível tempestade, deixando-os muito apavorados. O Santo apressou o serviço dos lenhadores e, em meio a cambaleadas, a gigantesca árvore precipitou-se por terra! Um silêncio cortante tomou conta dos presentes e, de súbito, um raio fulminante partiu em pedaços o carvalho, coincidindo com a sua batida no chão. Ao verem o seu mito cair por terra, a desilusão contribuiu para efetuar a conversão das suas almas.

Porém, passou-se algo de muito curioso… Havia, a poucos centímetros da carbonizada árvore, um pinheirinho, o qual de modo inacreditável fora conservado intacto em meio a tamanha destruição. Seria isto um sinal?

Era o dia 25 de Dezembro. São Wilfrido percebeu nesse fato um simbolismo muito belo: Deus protege a fragilidade e a inocência! Em seu sermão à noite, relacionou poeticamente a imagem da pequenina árvore com a Natividade do Senhor e, desta maneira, o pinheirinho passou a ser, a partir daquele dia, o símbolo do Menino Jesus, mais utilizado.

Um discípulo de este Santo missionário teve de enfrentar, também, dificuldades semelhantes ao evangelizar a futura Alemanha:  tratava-se de São Bonifácio (673-754). Em Geismar de Hessen, centro de rituais pagãos muito concorrido, cultuava-se um grande carvalho chamado Odin, o qual era consagrado ao deus Donar. Realizavam-se ao seu redor práticas supersticiosas, principalmente na época hibernal, porque atribuíam a esse deus ser  o responsável pelas terríveis empestades, muito freqüentes durante esse solstício.

Uma vez convertidos, os germanos foram desassociando o caráter pagão da crença e relacionando a figura da árvore com passagens da Sagrada Escritura, como esta do Profeta Isaías: “a glória do Líbano virá a ti, a faia e o buxo, e juntamente o pinheiro servirão para adornar o lugar do meu santuário” (60, 13). Destarte, começou a se divulgar nas imediações da Germânia, o uso do pinheiro durante as comemorações do Natal.

rothemburg3Outras longínquas referências nos fazem alusão deste costume: em 1539, na igreja e nas moradias de Estrasburgo, França, pela primeira vez, utilizaram-se pinheiros decorados ao celebrar as festividades de Dezembro; em 1671, a princesa Charlote Elizabeth da Baviera, esposa do duque de Orléans, introduz oficialmente esta tradição em todo o país. E, finalmente, durante o reinado de Jorge III (1760-1820), o hábito chega à Inglaterra, difundindo-se para a América do Norte e dali, para o mundo inteiro.

 Contudo, qual é o significado das inúmeras esferas, bastões e luzes que preenchem as suas ramagens?

Com o decorrer dos séculos, foram se acrescentando bonitos enfeites ao pinheiro. Sua simbologia refere-se  ao  segundo Adão, Cristo nosso Salvador (cf. 1 Co 15, 21-22, 45), o qual nos trouxe de volta os frutos perdidos pelo nosso primeiro pai, ao ter comido da árvore proibida (cf. Gn 2, 9; 3, 6). Por esta razão, esses belos atavios representam os preciosos e superabundantes frutos nascidos da Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeira Árvore da Vida.

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