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Thabor, I domingo do Advento do Natal

Thabor, 29 de novembro de 2009 – I domingo do Advento do Natal

fotos-thabor-2007-030A Santa Igreja, em sua sabedoria multissecular, instituiu um período de preparação para o natal, com a finalidade de compenetrar todas as almas cristãs da importância desse acontecimento e proporcionar-lhes os meios de se purificarem para celebrar essa solenidade dignamente.

Esse período é chamado de Advento.

Significado do termo

Advento – adventus, em latim – significa vinda, chegada. É uma palavra de origem profana que designava a vinda anual da divindade pagã, ao templo, para visitar seus adoradores. Acreditava-se que o deus cuja estátua era ali cultuada permanecia em meio a eles durante a solenidade. Na linguagem corrente, significava também a primeira visita oficial de um personagem importante, ao assumir um alto cargo. Assim, umas moedas de Corinto perpetuam a lembrança do adventus augusti, e um cronista da época qualifica de adventus divi o dia da chegada do Imperador Constantino. Nas

 
 
 
 

obras cristãs dos primeiros tempos da Igreja, especialmente na Vulgata, adventus se transformou no termo clássico para designar a vinda de Cristo à terra, ou seja, a Encarnação, inaugurando a era messiânica e, depois, sua vinda gloriosa no fim dos tempos.

Surgimento do Advento cristão

Os primeiros traços da existência de um período de preparação para o Natal aparecem no século V, quando São Perpétuo, Bispo de Tours, estabeleceu um jejum de três dias, antes do nascimento do Senhor. É também do final desse século a “Quaresma de São Martinho”, que consistia num jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à festa de São Martinho.

São Gregório Magno (590- 604) foi o primeiro papa a redigir um ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico.

No século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas, como se lê numa carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. E no século XII o jejum havia sido já substituído por uma simples abstinência.

Apesar do caráter penitencial do jejum ou abstinência, a intenção dos papas, na alta Idade Média, era produzir nos fiéis uma grande expectativa pela vinda do Salvador, orientando-os para o seu retorno glorioso no fim dos tempos. Daí o fato de tantos mosaicos representarem vazio o trono do Cristo Pantocrator. O velho vocábulo pagão adventus se entende também no sentido bíblico e escatológico de “parusia”.[1]

 


 

[1] Fonte: Redação Revista Arautos

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O que é “O calcanhar de Aquiles”?

Maria Tereza de Matos, extraído do jornal do estudante chez nous

aquilesMuitos já ouviram falar da expressão: o calcanhar de Aquiles. Certamente também a usaram, mesmo sem saber o seu significado, como só acontece na nossa geração.

Quem foi Aquiles? Trata-se de um dos personagens lendários da antiga Grécia, nação dos deuses e filósofos. Quando ele nasceu, sua mãe quis torná-lo forte e vigoroso. Para isso, o entregou a uma deusa, que tomando o bebê pelo calcanhar, mergulhou-o em uma água, a qual tinha o poder de tornar invulnerável quem ali se banhasse.

O menino cresceu, e ninguém podia vencê-lo ou feri-lo. Muitos, sem saber o motivo disso, contentavam-se em afirmar que era predileto de Zeus.

Certa vez, durante um com­bate, seu calcanhar foi atingido por uma flecha, e pela primeira vez Aquiles deu um brado de dor. As­sustados, todos correram até ele e viram o sangue que escorria de hor­rível ferida causada pela seta. O que acon­teceu?! Será que os deuses zangaram-se e querem vingar-se? Depois de muita dis­cussão, lembraram-se ser aquele o único local que não tinha sido mergulhado na prodigiosa água, pois justamente a deusa o havia segu­rado pelo calcanhar, no momento de submergi-lo.

Portanto, quando usamos a expressão “o calcanhar de Aquiles”, significa o ponto frágil de uma pes­soa, ou de uma questão.

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A descoberta do pólo sul

Creio que nenhum de nós foi ao Pólo Sul…  Porém, essa região já foi palco de aventuras inusitadas, viagens ao desconhecido, histórias de naufrágios, resgates e explorações, onde, na maior parte das expedições, o que determina seu êxito é a diligência e o pulso firme de seu chefe. Dentre os inúmeros exploradores que a Antártida atraiu, destaca-se um: Sir Ernest Henry Shackleton, um oficial da Royal Navy, anglo-irlandês típico: fleumático, calculista, calmo ao extremo, mas de uma têmpera fora do comum e com grandes dotes de comando. Dele fez-se o seguinte elogio: “Para a lideran-ça científica, o melhor é Scott[1]; para viajar depressa e com eficiência, Amundsen[2], mas quando estiver numa situação perdida, quando parecer não ter saída, ponha-se de joelhos e peça a Deus que o seu chefe seja Shackleton”.

Tal dito se justifica, pois tendo sua expedição saído em agosto de 1914 e voltado à civilização somente em maio 1916, não houve, diante dos sucessivos desastres, quem se revelasse melhor capitão do que ele. Efetivamente, várias foram as peripécias dos tripulantes. Após terem zarpado da Ilha Geórgia do Sul, encontram, escondido no porão, um passageiro clandestino: o argentino Perce Blackboro, este constituía uma boca a mais para alimentar… Além disso o navio, Endurance, fora aprisionado pelo mar congelado, e, por causa da pressão deste, seu casco veio a romper-se, sendo inevitavelmente tragado pelo mar. Resultado: os 28 passageiros encontraram-se sem navio, numa região onde a média de temperatura no verão é de -25ºC na qual o recorde de calor já registrado foi de: -13,6ºC, e sendo de -89,2ºC frio mais intenso já observado.

Numa luta desesperada pela sobrevivência, os aventureiros foram forçados a acampar sobre a banquisa , à mercê da deriva do mar, por cerca de seis meses. Isto com apenas uma parte das provisões que foram salvas às pressas do navio, quando este foi a pique. Tal era a penúria e a fome que sofreram que todo ser vivo que deles se aproximava, era sofregamente capturado. O que se deu, por exemplo, com os pingüins cuja caça alcançou o cômputo de cerca de 600. Quando não caçavam, eram eles mesmos cobiçados pelas feras, como os terríveis leopardos-marinhos: “Era 3 de abril, 49º aniversário de McLeod. O grupo acabara de brindar à sua saúde no almoço quando uma cabeça de leopardo-marinho emergiu junto à borda da banquisa. McLeod, que era baixo e forte, aproximou-se do animal e começou a agitar os braços para imi- tar um pingüim. O leopardo-ma- rinho aparentemente se deixou convencer, porque pulou para fora da água e investiu contra McLeod, que fez meia-volta e saiu correndo. O leopardo-marinho deu mais dois ou três saltos para a frente e depois parou, aparentemente para examinar as outras criaturas que havia naquela banquisa. Sua distração foi fatal.

Wild fora buscar a carabina na barraca. Fez mira e atirou, e mais de 500 quilos de carne foram acrescentados à despensa.”Finalmente, tendo-se aberto a banquisa[3], foi possível lançar ao mar os três barcos que tinham sido recuperados do navio quando este afundara. Após sucessivas peripécias chegaram à ilha Elephant, onde se estabeleceram. Seus homens dicaram nesta ilha enquanto Shackleton partiu num comando especial, de seis homens, com o objetivo ousado de atravessar com uma pequena embarcação – o James Caird – um trecho de 800 quilômetros… Tratava-se de enfrentar a passagem de Drake , uma das zonas com as piores condições meteorológicas do planeta, de frio intenso e ventos com força de furacão,  varrida por ondas gigantescas, que parecem vir diretamente do céu: “À meia-noite, depois de uma ração de leite quente, começava o turno do grupo de Shackleton, e o próprio Shackleton assumiu o leme, enquanto Crean e McNeish ficavam embaixo para bombear a água que sem parar entrava no barco, por causa da agitação do mar. Os olhos de Shackleton já es-tavam ficando acostumados com a escuridão quando ele se virou e viu uma faixa brilhante, na direção da popa, o céu estava totalmente nublado. Chamou os outros para lhes dar a boa-nova de que o tempo estava-se abrindo a sudoeste.

Um instante depois ouviu um silvo, acompanhado por um ronco surdo e abafado, e tornou a virar-se. A abertura nas nuvens, na verdade era a crista de um gigantesco vagalhão, que avançava rapidamente na direção do barco. Virou-se e, instin-tivamente, abaixou a cabeça. –Pelo amor de Deus, segurem-se – gritou. Está em cima de nós!Por um instante, nada aconteceu. O Caird simplesmente subiu cada vez mais alto, e a trovoada surda daquele imenso vagalhão que se quebrava encheu o ar.

Continua num próximo post…

Texto: Michel Six


[1] (1868-1912) Explorador polar britânico, que realizou duas expedições ao Ártico. Na primeira descobriu uma região inexplorada: “Terra do Rei Eduardo VII”. Na segunda chegou ao Pólo Sul mas, na volta, foi surpreendido por uma tempestade e morreu com mais quatro companheiros.

[2] (1872-1928) Explorador polar norueguês, foi o primeiro homem a chegar aos Pólos Sul e Norte. Foi igualmente o pioneiro na travessia da passagem do Noroeste. Desapareceu sobrevoando as cercanias do Pólo Norte, em 1928, numa missão de busca do pesquisador italiano Nobile em 2004 realizou-se uma expedição da Marinha Real da Noruega com o objetivo de encontrar os restos do hidroavião.

[3] Banquisa: água do mar congelada, que começa a formar-se aos -2°C, originando uma camada delgada que pode facilmente se quebrar.

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Shackleton, parte II: "… seus corações pararam de bater"

 Por Michel Six, 2º ano de Teologia, extraído do jornal do estudante Chez Nous

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a pequena embarcação Jamescaird

… Após chegarem à ilha Elephant, onde se estabelecem, Shackleton deixa alguns de seus homens nesta ilha, e parte num comando especial, de seis homens, com o objetivo ousado de atravessar, com uma pequena embarcação – o JamesCaird – um trecho de 800 quilômetros… Tratava-se de enfrentar a passagem de Drake, uma das zonas de pior condição meteorológica do planeta, de frio intenso e ventos com força de furacão,  varrida por ondas gigantescas, que parecem vir diretamente do céu:

 

À meia-noite, o próprio Shackleton assumiu o leme, enquanto Crean e McNeish ficavam embaixo para bombear a água [que sem parar entrava no barco, devido à agitação da água]. Seus olhos já estavam ficando acostumados com a escuridão quando ele se virou e viu uma faixa de brilho no céu, na direção da popa [o céu estava totalmente nublado]. Chamou os outros para lhes dar a boa-nova de que o tempo estava abrindo a sudoeste.

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Navio Endurance preso no gelo

Um instante depois ouviu um silvo[1], acompanhado por um ronco surdo e abafado, e tornou a virar-se. A abertura nas nuvens, na verdade era a crista de um gigantesco vagalhão[2], que avançava rapidamente na direção do barco. Virou-se e, instintivamente, abaixou a cabeça.

-Pelo amor de Deus, segurem-se – gritou. Está em cima de nós!

Por um instante, nada aconteceu. O Caird simplesmente subiu cada vez mais alto, e a trovoada surda daquele imenso vagalhão que se quebrava encheu o ar.

E então foram atingidos […]”

“Finalmente, porém, em torno das três da tarde, chegaram ao cume – uma calota de gelo azulado […].

A vista do alto revelava que a descida era praticamente tão impossível e assustadora quanto a primeira [montanha], só que dessa vez havia um perigo adicional. A tarde ameaçava, e um espesso nevoeiro começava a se formar no vale que descortinavam abaixo deles. Olhando para trás, viram que o nevoeiro também se aproximava do oeste.

 A situação era simplesmente terrível: a menos que descessem, morreriam de frio. Shackleton calculou que estavam a uns 1 500 metros de altitude. A essa altura, a temperatura à noite seria inferior a 20 graus negativos. Não tinham como se abrigar, e suas roupas estavam batidas e adelgaçadas pelo uso. […]

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Shackleton e Wild entre as cristas de gelo da banquisa

Rapidamente, Shackleton fez meia-volta e recomeçou a descer, seguido pelos outros. […] Andavam o mais rápido que podiam, mas não eram mais capazes de desenvolver muita velocidade. As pernas estavam moles e estranhamente desobedientes. […] Não havia mais tempo para hesitação, e Shackleton passou para o outro lado. Trabalhando furiosamente, começou a cavar degraus no gelo da encosta, descendo devagar, pé ante pé. Pouco a pouco, estavam descendo, mas avançavam muito devagar. […] Shackleton parou. Pareceu perceber, de um momento para o outro, a futilidade dos esforços que vinha fazendo. […] Cavou uma pequena plataforma com a enxó e chamou os outros para se juntarem a ele.

Não precisava explicar muito a situação. Falando depressa, Shackleton disse que simplesmente estavam diante de uma escolha inescapável: se ficassem onde estavam, morreriam de frio – dentro de uma hora, talvez duas, talvez mais. Precisavam descer – e a toda velocidade possível.

ernest-shackletonE sugeriu que descessem deslizando.

Worsley e Crean ficaram perplexos – especialmente pelo inesperado daquela solução desatinada estar sendo sugerida por Shackleton. Mas ele não estava brincando, sequer estava sorrindo. Estava falando sério – eles perceberam.

Mas e se batessem numa pedra?, perguntou Crean.

E podiam continuar onde estavam?, respondeu Shackleton, aumentando seu tom de voz.

A encosta, argumentou Worsley. E se não fosse plana? E se houvesse outro precipício?

A paciência de Shackleton estava quase esgotada. Novamente perguntou – podiam ficar onde estavam?

Era óbvio que não, e Worsley e Crean foram forçados, embora a contragosto, a admiti-lo. E nem havia qualquer outro modo de descerem. Assim tomaram a decisão. Shackleton disse que deslizariam juntos, agarrados uns aos outros. Sentaram-se depressa na neve e desamarraram a corda que os unia. Cada um transformou sua parte em rolo, para usar como assento. Worsley passou as pernas pela cintura de Shackleton e os braços por seu pescoço. Crean fez o mesmo com Worsley. Pareciam três passageiros de tobogã, só que sem o tobogã.

e-shackletonNo total levaram pouco mais de um minuto para ficar em posição, e Shackleton não lhes deu nenhum tempo para reflexão. Quando estavam prontos, deu o impluso com os pés. No momento seguinte, seus corações pararam de bater. Tiveram a sensação de ficar parados por uma fração de segundo e depois o vento começou a sibilar em seus ouvidos, enquanto corriam ao longo de uma extensão de neve de contornos indistintos. Descendo… descendo… Gritaram […].”

Após inusitada travessia lograram atingir o objetivo, em 10 de maio de 1916: a Ilha Geórgia do Sul. Dela tinham partido, em 5 de dezembro de 1914, e, nela pretendiam conseguir resgate para os demais membros da expedição. Tal ilha jamais tinha sido mapeada ou explorada, foi preciso atravessá-la, a fim de chegar à estação baleeira norueguesa.

 O mais incrível é que toda a história é real, e os mais conceituados autores ou exploradores dos pólos são unanimes em admitir que está é uma das páginas mais impressionantes da história do Pólo Sul e uma boa sugestão de leitura…

 


[1] Silvo: Qualquer som agudo e relativamente prolongado

[2] Vagalhão: Cada uma das compridas elevações da superfície de oceano ou mar, que se propagam em sucessão umas às outras, produzidas, em geral, pela ação do vento.

MAPA DE EXPEDIÇÕES

mapa-da-expedicao

L’expédition Endurance sur une carte de l’Antarctique tel qu’il est connu de nos jours.
Rouge : le voyage de l’Endurance (5 décembre 1914 – 19 janvier 1915)
Jaune : la dérive de l’Endurance prit dans les glaces (19 janvier 1915 – 21 novembre 1915)
Vert : après que le navire ait coulé, dérive sur le pack et voyage en canot vers l’île de l’Élephant
Bleu : le voyage du canot James Caird jusqu’en Géorgie du Sud
Turquoise : le trajet de l’expédition tel qu’il était prévu à l’origine
Orange : le voyage de l’Aurora (24 décembre 1914 – 7 mai 1915)
Rose : la prise dans le pack de l’Aurora et son retour, laissant sur place une partie de l’équipe
Marron : la mise en place des dépôts

 

* imagens: wikipedia

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Artigo da semana: Quem foi ele?

Por Matheus Massaki, 1º ano de filosofia, extraído do jornal estudantil chez nous

voltaireO personagem que mais personificou o espírito filosófico do século XVIII foi Voltaire.

Nascido em 1694, desde jovem seu caráter foi marcado pela libertinagem. Os seus professores assustavam-se com a sua inteligência e vivacidade, através das quais soube conquistar muitas simpatias.

Entretanto, ele fervia de ódio à monarquia e sobretudo à Religião. Muitas de suas obras foram feitas para desprestigiar a Igreja e afastar o Ancien Régime dos princípios católicos que o regiam. E assim como São Paulo dizia: “Irmãos em Jesus Cristo”, Voltaire escrevia: “eu amo apaixonadamente meus irmãos em Belzebu” e afirmou ainda a seus companheiros: “Estou cansado de ouvir repetir que doze homens foram suficientes para estabelecer o Cristianismo, e desejo provar que basta apenas um para destruí-lo”. Tal era o seu ódio que, ao se referir à Igreja, escrevia “a infame”, sempre terminando suas cartas com esta expressão “Écrasez l’Infâme” –  “esmagai a infame”

Sua primeira peça chamada “Édipo” era tão ofensiva à pureza que os atores não a queriam representar, mas por fim acabaram cedendo, e foi um escandaloso sucesso.  Nela Voltaire declarou expressamente que o poder dos Reis era uma falsidade e que os Padres eram enganadores do povo. No fim da apresentação ele não pôde impedir-se de subir ao palco, onde fazia piruetas e não titubeou em fazer uma paródia, vestindo um manto de Sumo Sacerdote em meio a debiques…

Um de seus poemas mais difundidos foi “La Pucelle”, no qual lançava as piores calúnias contra Santa Joana d’Arc. Ridicularizava a virgindade, o patriotismo e o martírio.

Voltaire sabia também estimular as más tendências das almas de modo sutil, afastando-as dos antigos princípios morais sem impressionar e chocar. Muitos o idolatravam e estremeciam ao vê-lo. As cortes recebiam-no honorificamente. Esse prestígio favoreceu a difusão de suas obras literárias, as quais fazendo esmorecer a fé, prepararam um ambiente propício às idéias da Revolução Francesa.

Em 1778, preparou-se um regresso triunfal de Voltaire a Paris, pois faziam 28 anos que ele não visitava a capital francesa. Foi recebido como se fora um deus.

Os nobres e as damas se disfarçaram de lacaio para servi-lo ou ao menos ganhar um olhar dele. Conta-nos Weiss que um senhor acompanhado de seu neto, ajoelharam-se diante de Voltaire, e este pondo solenemente sobre a cabeça do menino disse: “Deus! Liberdade! Tolerância!”.

Em sua última visita ao teatro, Voltaire compareceu numa rica carruagem, mas esta mal conseguia mover-se, pois uma multidão apinhava-se em torno do carro, tentando olhar o “homem do século”, ou ao menos conseguir oscular um dos seus cavalos…

Terminado o ato, uma atriz coroou um busto de Voltaire feito de mármore e, seguida de todos os atores, osculou-o.

 Em 1778 após dois meses dessa glorificação faleceu. Uma testemunha dos momentos de sua agonia assim referiu: “Se um demônio morresse, morreria assim!”. Seu corpo foi sepultado no Pantheón. E o seu coração se encontra na Biblioteca Nacional de Paris com a seguinte inscrição: “Seu coração está aqui, seu espírito por todas as partes”.

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Artigo da semana: "Até aí, morreu o neves!"

Por Allan Bonfanti, 1° ano de Filosofia – extraído do jornal estudantil chez nous

Recentemente, em uma das aulas da faculdade aconteceu algo curioso: durante uma conversa surgiu a famosa expressão: “Até aí morreu o Neves”! E qual não foi o espanto, quando um aluno (vietnamita), levou certo susto, e comentou com outro: “Nossa! Morreu o Neves! Quem será ele?”

Surpresa para uns, e gargalhadas para outros. Mas de fato, esta é uma expressão usada popularmente, cuja origem, caracteristicamente brasileira, é pouco conhecida:

Joaquim Pereira Neves foi assessor do Padre Feijó, durante o período do Brasil Império. Teve uma morte horrível, sendo decapitado pelos índios. Não se falava sobre mais nada na Capital – Rio de Janeiro, na época – a não ser da morte do Neves. E tanto se comentava isso, que as pessoas começaram a dizer: “Até aí morreu o Neves”, ou seja: “quero novidades”. A expressão significa que embora a morte do Neves seja um fato grave (alguém morreu), como ele representa apenas um ilustre desconhecido sem qualquer relação com os interlocutores, o fato não traz maior implicação, e pode ser ignorado.       

Enriqueçamos cada vez mais nosso vocabulário. E que o desconhecimento de ilustres personagens, tais como o Conselheiro Acácio ou o Neves, não sejam obstáculo para bem acompanharmos as aulas…

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A estética do universo: lei do contraste

Um dos múltiplos aportes que a escolástica trouxe ao conceito de beleza  consiste em considerá-la enquanto  unidade posta na variedade. Julgamos um objeto ou um panorama belo, quando seus vários elementos formam um todo, uno.

 O princípio da unidade na variedade tem suas leis, e seu conjunto constitui a Estética do universo. Dentre estas leis destaca-se a do contraste.

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As diversas coisas devem manifestar certos contrários harmônicos, para que sua beleza seja mais completa.

Na fotografia acima, por exemplo, há um contraste entre a penumbra da noite e o fulgurante raio, entre a silueta da igreja e as nuvens iluminadas.

Contraste maior nota-se quando se compara esta imagem com outra, do mesmo ângulo, porém, tirada de dia.

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Aí, o que ressalta não é a penumbra, o recolhimento e o fulgor do raio, mas sim, o esplendor do sol, o alegre azul do céu contrastando com o vivo verde dos pinheiros.

Esta oposição está cheia de harmonia. É precisamente neste contraste, neste extremo de aspectos antagônicos, que a beleza se reveste de copiosa riqueza.

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Artigo da semana: Quando se perde tempo admirando?

Escrito por Inácio Almeida – Estudante do Angelicum – Roma.

Após um nutritivo almoço de domingo, enquanto alguns se dirigiam aos aposentos para a tão reconfortante sesta, resolvemos rezar o Rosário caminhando nas proximidades da floresta que circunda o Thabor.

Naquela tarde, a natureza inteira parecia querer também cumprir o preceito do descanso dominical. Com o clima pouco propício às longas caminhadas, decidimos parar à sombra de uma frondosa árvore. Mal havíamos recitado as primeiras Ave-Marias do Rosário, um zumbido como de uma flecha desviou-nos a atenção.

colibriAo levantarmos os olhos, vimos um pequeno pássaro, ágil como o pensamento, que cortava o ar com manobras inesperadas. Suas asas, de tão rápidas, tornavam-se quase invisíveis. Tal era a sua beleza que, a nosso ver, esta ave parecia ter fugido por alguma brecha da porta do paraíso para vir habitar em nosso meio. Logo percebemos que se tratava de um colibri.

No mesmo instante, nos veio à mente o sermão pronunciado pelo Mons. João, que na manhã daquele domingo, dizia:“Deus enriqueceu todo o universo com uma imensa e harmoniosa diversidade de seres e o melhor modo de conhecermos a beleza do Criador é admirar a Pulchritude do universo por Ele criado”.

 O colibri, qual embaixador de Deus junto às solitárias flores, manifestava um desejo imenso de relacionar-se, de entrar em contato com aquelas flores, pois o Criador de todas as coisas é que lhes tinha dado o perfume, o colorido e o charme;

Também, se grande é o desejo do colibri encontrar a flor, infinitamente maior é o desejo que Deus tem de entrar em contato conosco. Ele se fez homem como nós e veio habitar em nosso meio. Um dia, os seus lábios divinos pronunciaram estas palavras: “A minha alegria é estar junto aos filhos dos homens”. Sendo assim, nossa alma deveria estar também repleta desta mesma alegria de conviver, de estar junto a Deus que se faz visível através de suas criaturas.

Quando ainda estávamos absortos nestas considerações, o sino da capela tocou nos convidando à oração. Porém, aquele pequeno visitante, assustado com este timbre que lhe era desconhecido, voou para longe, onde nossos olhos não mais podiam contemplar. Pouco tempo restava para fazermos a nós mesmos uma última indagação.

Será que não perdemos tempo em analisar esta ave junto à flor? Não teria sido melhor termos cumprido primeiramente o propósito de rezar Rosário? Por que não aproveitamos este tempo para “fazer as coisas práticas” de que o homem moderno tanto se ufana?

 Quanto à conclusão, esta tendeu para a negativa, pois segundo o Catecismo da Igreja Católica: “é sobretudo a partir das realidades da criação que se vive a oração“(CIC 2569). Convém lembrar também a bela frase de Santa Teresa do Menino Jesus: “para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um brado de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”.  

Enfim, alguém poderia objetar que estes comentários nada possuem de “científico” e que carecem de maiores conhecimentos de zoologia e botânica. É verdade, entretanto, o homem não foi criado para ver a natureza como se ela fosse somente um imenso composto de fenômenos físicos ou de reações químicas, mas sim, para procurar as impressões digitais de Deus no Universo e fazer destas impressões uma prece “a Quem fez o céu e a terra”.         

colibri-2***

Já na capela, diante do Santíssimo Sacramento, rezando o Santo Rosário, estávamos inundados de uma alegria interior, pois aquela “oração” junto ao colibri, assegurou-nos que “a solidão é uma ilusão”, pois Deus sempre está conosco e a natureza nada mais é do que um grande livro que nos remete ao sobrenatural. Entretanto, é necessário que se saiba lê-lo.

E se, porventura, os céus da Judéia fossem também habitados por estas encantadoras aves, quiçá, o Poeta Divino depois de ter contemplado os lírios do campo, poderia ter dito: “olhai os colibris que voam no céu, eles não tecem nem fiam, entretanto eu vos digo, nem Salomão com toda a sua pompa se vestiu como eles…”

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Artigo da semana: Uma conversa indesejável…

  Quem já conheceu, ou se lembra de alguém que, em vida, teve uma “prosa” com a morte?

  Conta-nos uma história do século XIX, o interessante fato de um monge chamado João de Siracusa, muito conhecido por seus escritos e palestras referentes à morte.

  Certo dia, depois de celebrada a Missa, João encontrava-se em sua cela. Sentindo-se inspirado, iniciou uma reflexão.

  Nesse instante, porém, ouviu um estalido seco, extremamente forte, olhou para o canto da cela e viu uma figura de horripilante aspecto: uma mulher alta e magra, com olhos raiados de sangue e mãos semelhantes a garras.

  João pôs-se de pé num ímpeto, gritando alucinado na ânsia de um socorro: “Quem és?!”

  “Olha bem para mim – respondeu o aterrorizante ser. Eu sou aquela que tu exaltas em teus livros e louvas em teus discursos: Eu sou a Morte! Mas não te espantes. Vim aqui apenas para testemunhar minha profunda gratidão pela nobre campanha que tens realizado em meu favor”.

  Ao ouvir aquelas palavras, sentiu-se menos amedrontado. E, por ser um religioso sem muita virtude, procurou tirar proveito da situação pedindo um privilégio pouco concedido aos mortais: receber o aviso da morte. Não por que desejasse preparar-se para morrer, mas sim porque ansiava a fama e o sucesso!

  “Pois bem – decidiu a temível criatura: serás por mim avisado, em momento oportuno. Agora devo retomar minha pesada faina. Adeus, João de Siracusa!”

  Um, dois, três… dez. Dez anos foram assim decorridos. Encontramos João mergulhado nas vaidades e despreocupações.

  De religioso, só o hábito ele mantinha. Preces, adorações, Missas, já não eram, havia muito tempo, as atividades com que se ocupava. Tornou-se famosíssimo, tanto pela oratória, como pelo orgulho…

  Um dia, estava ele no salão do mosteiro, revisando um livro que iria apresentar ao superior. No entanto, um estalido exatamente igual ao de dez anos atrás, denunciava, sem dúvidas, a presença da indesejável: “Vim buscar-te, meu amigo” – “Buscar-me?!” – rouquejou João.

  A Morte, então, começou a lembrar todos os numerosos avisos dados a João de modo indireto. Demonstrou quanto ele estava envenenado pelo egoísmo, causa principal de sua cegueira.

  Na tentativa de salvar sua vida, João reclamou de injustiça, dizendo esperar avisos mais expressivos. Disse, então, a Morte com impaciência: “Terás o que desejas! Quando vires um velho corvo de penas surradas, considera para sempre terminado teu roteiro neste mundo”.

  Tendo dito isto, a morte se dirigiu à porta para ir embora. João, ironicamente num gesto gentil, lhe ofereceu a janela como saída, abrindo-a rapidamente. Aconteceu, então, uma cena inesperada diante de seus olhos: da janela pela qual saiu a morte, avistava-se o jardim do mosteiro. Para desespero do monge, sobre uma árvore pousava uma ave negra de péssima aparência, um corvo… Era o sinal!

  Uma nuvem escura velou os olhos de João. Caiu como um corpo morto.

  Qual terá sido o seu fim eterno? 

  Este pobre infeliz ainda teve a graça de ser avisado. E nós?

  Sêneca, o filósofo, ensinava: “É incerto o lugar onde a morte te espera; espera-a, pois, em todos os lugares”.

 

Extraído do jornal estudantil do Colégio Arautos, por Heraldo Ferreira, 8 ª série

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