Thabor

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A castidade consagrada I

A invenção do balão, no ano de 1793, foi um acontecimento mundial. Era quase impossível acreditar que um objeto de tal tamanho pudesse vencer a implacável lei da gravidade, voando sem amarras, peregrinando pelos ares, permitindo contemplar panoramas desde alturas inimagináveis… Sim, até lá conseguiu chegar o engenho humano! Ora, tudo na Criação tem uma finalidade, não somente material, mas também no plano espiritual e simbólico, pois o Universo saiu das mãos de um único Ser, infinitamente inteligente e perfeito. Não era possível existirem essas leis sem que contivessem sábias analogias em relação a criaturas superiores.

Com efeito, a tendência de os objetos caírem talvez seja uma imagem desejada por Deus, para dar a entender ao homem o quanto a sua natureza, depois do Pecado Original, tornou-se propensa à queda: “à semelhança de nosso corpo, padecem as almas de uma espécie de lei da gravidade espiritual por onde nos sentimos atraídos para o mais baixo, o mais trivial, o que nos exige menos esforço”.[1] Por outro lado, a mencionada lei física capaz de vencer a gravidade, também é imagem de uma realidade superior, a qual foi dada a conhecer aos homens muito antes do descobrimento do balão. Nosso Senhor Jesus Cristo foi o grande “descobridor”, ou melhor, o portador de uma nova lei, capaz de retirar-nos do abismo ao qual o pecado nos atirara: a Lei da Graça.[2] Ela é capaz de elevar as almas a altitudes inatingíveis pelo esforço natural, fazendo-as ganhar a batalha contra as inclinações que continuamente as arrastam para o mal.

A Graça é o remédio apropriado para corrigir em nós o desregramento das paixões, sobretudo a “concupiscência da carne” (1 Jo 2, 16), a qual leva a humanidade a ofender a Deus com maior frequência. Cristo veio consagrando dois caminhos que regulam a veemência desse instinto: o Sacramento do Matrimônio e a castidade consagrada. Em relação à segunda, o Divino Mestre afirmou ser um estado de vida reservado para poucos e, assim, nem todos conseguem compreendê-lo, “mas somente aqueles a quem é concedido” (Mt 19, 11). Os que o abraçam “por amor do Reino dos Céus” (Mt 19, 12), prenunciam nesta Terra a Bem-aventurança celeste, por isso, esse estado recebe o nome de celibato, termo que visa expressar certa participação na felicidade do Céu, segundo a etimologia dada pelo historiador romano Julius Valerianus: caeli beatus.[3]

A virtude da castidade visa reprimir “tudo quanto há de desordenado nos prazeres voluptuosos”,[4] os quais são moralmente ilícitos quando buscados por si mesmos,[5] porque eles só existem com vistas a um fim principal: “perpetuar a raça humana, transmitindo a vida pelo uso legítimo do matrimônio. Fora dele, toda luxúria é estritamente proibida”.[6] Ora, a vocação para a castidade consagrada pede uma doação completa, através desse “vínculo sagrado”,[7] o religioso entrega a Deus o corpo com todas as suas faculdades, oferece-se em holocausto,[8] renuncia por amor às leis da carne e vencendo-as com o auxílio da divina Graça.

Essa sublimação da natureza humana é incomparavelmente superior ao voo de um balão que percorre as alturas do firmamento e derrota a lei da gravidade, pois é “angelizar” o homem (Cf. Mc 12, 25), desafiar as forças do mal, com Cristo, vencer o mundo (Cf. Jo 16, 33)! A castidade perfeita faz voar pelos horizontes da vida sobrenatural, causando incompreensão em muitas pessoas não chamadas a vivê-la, as quais podem se perguntar: “como é possível a uma natureza tão material e débil elevar-se a essas altitudes da espiritualidade, livrar-se das amarras da carne e preocupar-se apenas com a contemplação dos sagrados panoramas da Religião?”. O Divino Mestre é quem lhes dá a resposta: “Quem puder compreender, compreenda” (Mt 19, 12).

O Apóstolo São Paulo também defendeu claramente o “dom divino”[9] da castidade, pois – conforme disse – “os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5, 24). Escrevendo aos de Corinto, afirmava: “A respeito das pessoas virgens, não tenho mandamento do Senhor; porém, dou o meu conselho, como homem que recebeu da misericórdia do Senhor a graça de ser digno de confiança. […] Quisera ver-vos livres de toda preocupação. O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa. A mesma diferença existe com a mulher solteira ou a virgem. […] Digo isto para vosso proveito, […] para vos ensinar o que melhor convém, o que vos poderá unir ao Senhor sem partilha. […] E creio que também eu tenho o Espírito de Deus” (1 Cor 7, 25. 32-34. 35. 40).

Como conservar a castidade?

Conseguir o domínio de si requer uma existência inteira e “nunca poderá considerar-se total e definitivamente adquirido. Implica um esforço constantemente retomado, em todas as idades da vida (Cf. Tt 2, 1-6). O esforço requerido pode ser mais intenso em certas épocas, como quando se forma a personalidade, durante a infância e a adolescência”,[10] sendo que a vitória se encontra na conquista do coração, pois é nele onde pode nascer a impureza (Cf. Mt 5, 28; 15, 19). Em realidade, a luta para conservar a castidade é travada principalmente no interior. O Evangelho proclama bem-aventurados “os puros de coração” (Mt 5, 8), ou seja, aqueles que transformaram a sua mentalidade e o seu querer, a fim de se adaptarem às exigências da própria vocação,[11] abandonando os hábitos censuráveis daquele que “têm o entendimento obscurecido, e cuja ignorância e endurecimento de coração mantêm-nos afastados da vida de Deus; indolentes, entregam-se à devassidão, à prática apaixonada de toda espécie de impureza” (Ef 4, 18-19).

Texto: Sebastián Correa Velásquez


[1] Clá Dias, João Scognamiglio. “Voar sem amarras!”. In: Arautos do Evangelho. São Paulo: Abril, n. 105, set. 2010, p. 10.

[2] Cf. São Tomás de Aquino. Suma Teológica. I-II, q. 106, a. 1 e 2.

[3] Cf. Bautista Torelló, Joan. Scripta Theologica 27. Navarra: Universidade de Navarra, 1995, p. 282.

[4] Tanquerey, Adolphe. Compendio de Teología Ascética y Mística. Tradução de Daniel García Huches. Bélgica: Desclée, 1960, p. 707.

[5] Cf. Catecismo da Igreja Católica. n. 2351.

[6] Tanquerey. Op. Cit., p. 707.

[7] João Paulo II. Vita consecrata. n. 14.

[8] Cf. São Tomás de Aquino. Suma Teológica. II-II, q. 186, a. 1.

[9] Catecismo da Igreja Católica. n. 2260.

[10] Catecismo da Igreja Católica. n. 2342.

[11] Cf. Catecismo da Igreja Católica. n. 2517.

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Mais 125 panamenhos

Na terça-feira 23 de Julho, o número dos peregrinos que estiveram de passagem pelo Thabor, rumo à Jornada Mundial da Juventude, aumentou para 475 pessoas, graças à visita de um grupo de 125 panamenhos. Membros todos do Caminho Neocatecumenal, chegaram por volta das 14:00 hs., dirigindo-se imediatamente para a basílica de Nossa Senhora do Rosário, onde receberam breve explicação sobre o carisma e espiritualidade dos Arautos do Evangelho. Era a primeira vez que muitos pisavam em solo brasileiro e, para outros, também era desconhecida essa Associação Internacional de Direito Pontifício.

Encantados pela beleza do templo, logo depois, participaram da Santa Missa, presidida pelo Pe. Manuel Herrada e concelebrada por três sacerdotes neocatecúmenos. Nela foram entoados cantos gregorianos pelo coro do Thabor, ocasionando agrado na assembleia. Muitos dos assistentes, após a Consagração, permaneceram devotamente de joelhos até o momento da Comunhão. Alguns sacerdotes arautos também ministraram o Sacramento da Penitência, nos confessionários localizados dentro da própria basílica e, antes da bênção final, o dirigente do grupo de panamenhos, um espanhol que reside em Roma com a sua família, brindou os arautos com um harmonioso cântico dedicado à Santíssima Virgem.

Os 125 visitantes também foram presenteados com escapulários do Carmo, abençoados e entregues, um a um, pelas mãos dos clérigos presentes. Muitos dos que recebiam a piedosa prenda mariana estavam emocionados até as lágrimas, deixando depois, por escrito, pedidos de oração e agradecimentos.

Apesar da repentina onda de frio que está soprando, nesta semana, pelo sul do Brasil, o calor da recepção e a vivacidade dos panamenhos aqueceram a Fé nas almas desses membros de dois povos localizados em extremos opostos da nossa América austral.

Texto: Sebastián Correa Velásquez

Fotos: Alejandro López Vergara

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Italiano: nesse dia, a língua mais falada no Thabor

Segunda-Feira, dia da chegada do Papa Francisco ao Brasil, o Thabor teve a oportunidade de receber a visita de 250 peregrinos italianos, especialmente da região de Abruzzo e da ilha de Malta. Estavam de passagem por São Paulo, para, em breve, dirigirem-se ao Rio de Janeiro, a fim de se encontrarem com Sua Santidade.

Foi um verdadeiro encontro de carismas, pois a numerosa comitiva fazia parte do Caminho Neocatecumenal, e os Arautos do Evangelho acolheram-nos, precisamente, na clave dada pelo Santo Padre em seu primeiro discurso pronunciado em solo brasileiro: “Ninguém se sinta excluído do afeto do Papa”.[1]Os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira”,[2] e o Thabor, quanto lhe cabia, também alargou os seus “braços” para acolher, no transcurso de uma semana, pelo menos 350 pessoas que vieram para participar da Jornada Mundial da Juventude.

Nossos visitantes italianos chegaram ao Thabor por volta das 9:30 hs. Desceram dos cinco grandes ônibus nos quais tinham vindo e, já na porta dos veículos, foram acolhidos por um grupo de arautos do Thabor, com os quais puderam trocar as suas  primeiras impressões. Cruzando a praça frente à Basílica de Nossa Senhora do Rosário, caso viessem com algum leve cansaço, por causa da extenuante viagem, logo desapareceu ao se depararem com a fachada do belo templo.

Algumas palavras de acolhida foram-lhes dirigidas pelo Diác. Dartagnan Alves de Oliveira e, em seguida, quem encabeçava o grupo dos neocatecumenais também lhes fez um convite à gratidão, por um lado, para com Deus que dispusera trazê-los até esse lugar e, por outro, para com esses jovens que os acolhiam tão amavelmente. Tudo fruto do amor a Deus – dizia ele –, “viemos de longe, nem nos conheciam e, entretanto, somos objeto de toda esta atenção”.

Às 10:30 hs., teve lugar a Santa Missa, celebrada pelo Pe. Mauricio de Oliveira Suzena, sacerdote Arauto do Evangelho e ex-pároco de uma paróquia na Itália. Logo após a Eucaristia, a banda do colégio internacional Arautos do Evangelho ofertou um pequeno concerto musical ao numeroso grupo de peregrinos, que os deixou enormemente agradados, pedindo mais de um bis e aplaudindo com entusiasmo no final da apresentação. O solo de percussão, de autoria dos próprios estudantes, parece ter especialmente feito vibrar as cordas internas dos naturais dessa nação de músicos que é a Itália.

Não podia faltar também a boa mesa. Por volta das 12:30 hs., foi-lhes servido um almoço no refeitório do Thabor, onde ainda estava montado o cenário do Curso de Férias, o qual finalizara no sábado passado. Terminada a refeição, depois de alguns instantes de agradecimentos, os visitantes se despediram efusivos, fazendo numerosos pedidos de orações e perguntas sobre como entrar em contato com os Arautos do Evangelho na Itália e em outros países do mundo.

 

TEXTO: Sebastián Correa Velásquez

FOTOS: Alejandro López Vergara

 

[1] Palavras do Papa Francisco no seu discurso durante a cerimônia de boas-vindas ao Brasil em 22 jul. 2013.

[2] Idem.

 

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Magnífico tesouro da misericórdia divina

Mais uma vez São Bernardo de Claraval apareceu no Curso de Férias e, dessa vez, para dar mostras da devoção que, durante a sua vida, mais lhe emocionava a alma: o amor à Mãe de Deus. Foi uma cena emocionante ver a representação do santo abade entrar pelo corredor central do auditório, entoando a Salve Regina – belo canto gregoriano dedicado à Virgem Maria. Historicamente, nessa ocasião, viajava em direção ao soberano do Sacro Império Romano Germânico, a fim de convocá-lo para uma importante missão encomendada pelo Santo Padre. No local do encontro, São Bernardo teve um êxtase, quando terminava de pronunciar as últimas palavras da Salve Regina: “Nobis post hoc exilium ostende”. Então, levado pela graça mística, o santo acrescentou a tríplice invocação final que até hoje conservamos: “O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria”. Nesse sublime momento, São Bernardo também levitou, detalhe esse que foi reproduzido no teatro, para surpresa de todos os presentes. Assim iniciou o dia do Curso de Férias dedicado à devoção a Nossa Senhora, tema que não poderia faltar, pois é um dos pilares do carisma dos Arautos do Evangelho.

No Antigo Testamento há diversos sinais precursores da Mãe de Deus, os quais palidamente anunciavam as excelências dessa criatura inigualável que devia trazer-nos o Redentor. Um desses prenúncios também se fez presente no palco: o relógio de Ezequias, rei de Judá. Esse monarca estava gravemente enfermo e o profeta Isaías veio ao seu encontro anunciando-lhe a certeza da morte e que, portanto, deveria pôr em ordem o seu reino. O soberano começou a chorar arrependido e suplicava a Deus se dignasse curá-lo. A palavra do Senhor foi novamente dirigida a Isaías o qual anunciou a Ezequiel que Deus ouvira o seu clamor e lhe devolveria a saúde. O mensageiro divino deu-lhe um sinal, para confirmar a veracidade da sua profecia: o relógio solar propriedade do rei recuaria miraculosamente dez graus! É preciso dizer, a equipe de retaguarda do Curso de Férias também conseguiu fazer esse milagre… O relógio de Ezequias recuou no tempo e tornou-se um símbolo de Nossa Senhora, a qual, pelo alto grau da sua fé, esperança e amor, antecipou-nos a vinda do divino remédio que curaria todas as nossas enfermidades.

Já no Novo Testamento, nas passagens do santo Evangelho em que a Santíssima Virgem aparece, transluz a imensa predileção e riqueza de privilégios com os quais Deus quis favorecê-La. Só o “Ave cheia de graça” (Lc 1, 28), pronunciado pelo anjo, aponta o oceano de amor divino que cumulou Nossa Senhora. Sem embargo, esses mesmos episódios são também como as pontas de um véu que discretamente se levantam, deixando entrever o tesouro de misericórdia que, em Maria, Jesus reservava para dá-lo a conhecer à humanidade, ao longo dos tempos.

A Assunção de Nossa Senhora é o único dos dogmas marianos do qual não há referências diretas no Evangelho. Entretanto, ele é atestado pela Sagrada Tradição, por inúmeros Padres da Igreja e escritores eclesiásticos da época apostólica. Ele também é decorrência direta do privilégio da Imaculada Conceição. No Curso de Férias foi montado um quadro vivo magnífico, representando os Apóstolos no momento da Assunção de sua Santíssima Mãe. Um detalhe, cuja veracidade não é totalmente provada, mas que não deixa de mostrar a torrente de misericórdia de Nossa Senhora, foi o fato de São Tomé ter chegado atrasado a essa sublime passagem para o Céu da Santíssima Virgem e, por isso, Ela lançou-lhe seu belo cinto, por um ato de bondade, antes de desaparecer nas altitudes celestes. Por meio dessa prenda, Nossa Senhora fazia um ato de agrado ao apóstolo, a fim de que a dor por ter perdido o último convívio com Ela, não lhe partisse o coração.

As excelências da Ave Maria e do Santo Rosário também foram consideradas na reunião desse dia. Não deixem de ver o próximo post, no qual lhes contaremos as outras surpresas que o Curso de Férias nos preparara.

Texto: Sebastián Correa Velásquez

Fotos: Alejandro López Vergara e Thiago Tamura Nogueira

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Um dia “sem teatro”

Tínhamos interrompido um pouco a narração do desenvolvimento do Curso de Férias, em primeiro lugar, para contar-lhes a importante visita eclesiástica que recebemos na sexta-feira e, em segundo lugar, para destinar um post especialmente aos pais de família dos participantes, a fim de contar-lhes como transcorria um dia de seus filhos, no Thabor.

Queremos, pois, continuar o relato dos demais teatros que marcaram esses dias. Nos últimos posts a esse respeito, estávamos considerando as petições do Pai Nosso, ao qual foi dedicada a terça-feira do Curso de Férias. Ora, o dia seguinte foi bastante diferente e parecia desviar-se um tanto do tema da oração.  Por certo, o Cardeal de Madrid com os Bispos que o acompanhavam não foram os únicos personagens da vida real que, ao longo desta semana, fizeram-se presentes no palco… Na Quarta-Feira, com efeito, não houve teatros, mas houve a apresentação de realidades: o dia-a-dia de um arauto do Thabor.

A reunião começou com um solene cortejo de vários arautos revestidos de bela capa branca, os quais recitavam, em canto gregoriano e língua latina, a ladainha do Sagrado Coração de Jesus. Algo inesperado para todos os assistentes, pois o tema da vida comunitária, à qual a grande maioria deles ali aspira, até agora não tinha sido apresentada dessa maneira.

Foram realizadas as mais variadas cenas como, por exemplo, uma refeição com todas as suas peculiaridades: cântico das orações iniciais; o costume de um leitor, nesses momentos, transmitir a todos algum texto edificante; o belo cerimonial para os que chegam atrasados à refeição explicarem o motivo da sua demora; o modo de pedir aos servidores algum alimento. Em fim, o intuito era mostrar aos assistentes que todos esses e tantos outros detalhes visam incutir num arauto do Evangelho a importância de conservar a compostura, mesmo quando está comendo, e elevar sempre a sua mente para a sublime vocação que todo batizado tem, devendo comportar-se como um digno filho de Deus.

Em outra etapa da reunião, foi demonstrado um ensaio de cerimonial, no qual era treinado o passo de desfile muito utilizado no célebre alardo das aulas, durante o período letivo do colégio internacional Arautos do Evangelho. Assim, em pleno Curso de Férias, deu-se uma cena inédita: uma fileira de arautos, revestidos do característico traje de treinos (camisa vermelha e calça azul), entrou correndo pela passagem central do auditório e posicionou-se no palco. Depois de algumas instruções dadas por quem os comandava, foram executadas diversas movimentações e, para surpresa dos presentes, em certo momento, dois daqueles que desfilavam tiveram de ausentar-se e foram convidados voluntários da plateia para completarem os seus lugares. Dois jovens, tendo afirmado categoricamente que saberiam executar as ordens, posicionaram-se nos espaços vagos, mas, ao ouvirem a primeira voz de comando, empalideceram ao verem que se tratava de algo real e não era teatro. Sem embargo, apesar da inexperiência, improvisaram muito bem e, graças à sua demonstração de coragem, acabaram por ganhar o aplauso dos assistentes.

Outros pontos como a maneira de vestir o hábito, o modo de arrumar a cama, a ordem dentro do armário, foram também didaticamente abordados nesse dia. A certa altura da exposição, abriu-se o telão e viram-se três camas, três armários, criados-mudos e, em pé, os arautos a quem lhes correspondiam esses móveis. Um deles tinha recém chegado ao Thabor e nada sabia a respeito do Ordo de Costumes dos Arautos do Evangelho. Por isso, o outro o instruía pormenorizadamente sobre a organização dos seus objetos pessoais. Entretanto, havia outra cama desarrumada e, mais uma vez, foram convidados alguns assistentes para cruzarem as cortinas e desempenharem a função de deixá-la em perfeita ordem. Foi um mistério se passaram ou não pela prova…

Em fim, outros momentos da vida quotidiana do Thabor fizeram-se presentes nessa abençoada manhã de Curso de Férias!

 

TEXTO: Sebastián Correa Velásquez

FOTOS: Thiago Tamura Nogueira e Alejandro López Vergara

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Aos pais destes felizes jovens

Como será um dia de meu filho no Curso de Férias dos Arautos?”, pode estar se pergunta um dos pais ou uma das privilegiadas mães cujo filho está passando estes dias com os Arautos do Evangelho, no Thabor. Por isso, às famílias destes jovens é que dedicamos especialmente o presente post.

Quando os raios do sol estão começando a dar vida às pedras da praça em frente à Basílica de Nossa Senhora do Rosário, dezenas, senão centenas de jovens começam a descer de seus veículos, dirigindo-se para esse belo templo, a fim de iniciarem a sua jornada de férias com a assistência à Santa Missa.Cânticos gregorianos, Confissões, uma curta homilia por causa do tempo, Comunhão e, ao terminar a celebração, enormes fileiras conformadas pelos participantes do Curso caminham em direção ao auditório, ao som da banda do Thabor, a qual faz soar variadas sequências de marchas, com ritmos próprios a despertar a vitalidade e ânimo dos jovens.

Tendo chegado ao local da exposição, dispõem-se ordenadamente por grupos, conforme a nação ou a cidade à qual cada um deles pertence, e começa, com uma breve prece e às 10:00 hs, em ponto, a esperada exposição cujo tema é sempre uma incógnita. A respeito das matérias tratadas a cada dia, os leitores já têm à disposição, neste blog, uma boa quantidade de posts. Ainda estamos por compartir-lhes outros, mas primeiro queríamos satisfazer a apetência de muitas mães e pais de família que querem ver, nas fotografias, seus filhos participando do Curso de Férias. Sem embargo, quando menos esperem, pode acontecer que um dos participantes seja convidado a fazer parte de alguma encenação…

Às 11:15 hs, há um intervalo de 45 minutos, no qual todos, além de tomarem lanche, podem trocar as impressões que lhes causaram as belas cenas observadas, ao longo da reunião. Com o toque do carrilhão da Basílica ao meio dia, retoma a segunda parte da exposição, a qual irá finalizar entre 1:15 e 1:30 hs. Nesse momento da partida, o som das incontáveis vozes que comentam as graças recebidas em mais um dia de Curso, parece tomar todo o Thabor e, aos poucos, esse forte murmúrio vai diminuindo, diminuindo cada vez mais… Até que o último veículo lotado jovens deixa o Thabor. No dia seguinte, reencontrar-nos-emos novamente, com mil surpresas e inéditos comentários nestes abençoados momentos de Curso de Férias.

Todos os participantes querem calorosamente cumprimentar seus pais, aqueles que por algum motivo não puderam vir e todos os que, de certa maneira, estão nos acompanhando pelo blog thabor. arautos.org

TEXTO: Sebastián Correa Velásquez

FOTOS: Thiago Tamura Nogueira e Alejandro López

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Um Cardeal e três Bispos no palco; e dessa vez eram de verdade!

Nesta sexta-feira, último dia das apresentações teatrais, o Curso de Férias  recebeu uma visita importantíssima: o Cardeal, Arcebispo de Madrid, D. Antonio María Rouco Varela, acompanhado de um dos seus Bispos auxiliares, D. Fidel Herráez Vegas, do Bispo de Lugo, D. Alfonso Carrasco Rouco, seu sobrinho,  e do Bispo auxiliar de Getafe, D. José Rico Pavés.

Chegaram ao Thabor por volta de 13:00 hs, em pleno andamento da cena final da programação. A honrosa visita dirigiu-se ao palco, donde dirigiu umas emotivas palavras aos 750 jovens que se apinhavam no auditório, surpresos pela inesperada aparição de tão eminente autoridade eclesiástica. O Cardeal Rouco iniciou falando sobre a importância da santidade para aqueles que têm a missão de serem Arautos do Evangelho, ou seja, mensageiros de Jesus Cristo.

Depois, convidou os ouvintes a levantarem o braço conforme ele chamasse o país da sua respectiva procedência. Evidentemente, o número de brasileiros superou as demais nacionalidades ali presentes. Para finalizar, animadamente e com a vitalidade característica do povo espanhol, D. Antonio María entoou algumas músicas, tanto em castelhano como em português, sendo acompanhado por todos e, inclusive, pela orquestra do Curso de Férias.

O Cardeal, a seguir, visitou a Basílica de Nossa Senhora do Rosário com toda a comitiva que o acompanhava e, às 14:00 hs, foi-lhes servido um almoço bastante apetitoso, preparado com esmero pelos dedicados cozinheiros do Thabor, para tão importantes prelados.

 

Pouco mais tarde, às 5:45, houve uma solene celebração eucarística na qual todos os Bispos e Sacerdotes, concelebraram com Sua Eminência, na Basílica.

Terminada a Santa Missa, houve um acolhedor jantar, em agradecimento pela honra concedida aos Arautos de Evangelho do Thabor, de receberem, durante esse dia, tão importante visita, cujo destino final é a Jornada Mundial da Juventude que iniciará na próxima segunda-feira.

 

 

TEXTO: Sebastián Correa Velásquez

FOTOS: Alejandro López Vergara

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O pão nosso de cada dia nos dai hoje!

Sem o alimento não é possível a vida! Caso ele venha a faltar-nos, logo nos acometem debilidade e doenças, quando não a morte. Também é assim a nossa alma, cujo “alimento” é a oração. Se esta é abandonada, não tarda a vontade em enfraquecer-se, cedendo lugar às enfermidades do pecado, fazendo-se necessária a medicina espiritual da Confissão. Ora, quanto empenho dedicamos diariamente ao corpo, a fim de não o vermos fenecer! Por que não havemos de cuidar com igual esmero daquela que é imortal e a parte mais importante do nosso ser? Sem a oração não é possível a vida eterna, por isso, “bem sabe viver, quem sabe rezar bem”.

Em anterior post tivemos a oportunidade de considerar as três primeiras petições do Pai Nosso. Continuando a sequência das súplicas dessa perfeitíssima oração, vejamos como foi apresentada cada uma delas na terça-feira desta semana de Curso de Férias.

Antes, é preciso dizer: até no lanche, esses jovens aprenderam o que quer dizer a quarta súplica do Pai Nosso:

“O pão nosso de cada dia nos dai hoje” – Nesta súplica, não pedimos somente o pão que um dia fenece, ou seja, os meios necessários para o nosso sustento material, mas, uma vez que devemos praticar a virtude da Justiça, cumprindo em tudo a vontade de Deus, só o conseguiremos por meio da assistência diária da sua Divina Graça, especialmente quando recebemos o “nosso” Pão da Vida: a Sagrada Eucaristia.

5o “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” Imploramos a Deus perdão por todas as ocasiões nas quais trocamos a sua amizade pelo amor desregrado a alguma criatura, cometendo algum pecado. E, como penhor para sermos atendidos, oferecemos-Lhe o sacrifício do nosso orgulho, perdoando aqueles a quem Ele mesmo está disposto a perdoar.

Uma das cenas mais tocantes do Curso de Férias, até agora, foi uma que versou sobre o perdão. Perdoar um amigo é belo, mas o perdão que desce do alto, o perdão de um pai tem um pulchrum monumental. As figuras do filho pródigo e do bondoso pai que perdoa a sua infidelidade fizeram-se presentes no palco. Essa narração contida no Santo Evangelho “é uma parábola de emocionar, porque tem um luxo de detalhes que só mesmo a Sabedoria Divina poderia conceber. Uma parábola célebre! Uma das mais belas parábolas que Nosso Senhor tenha criado!”.

Dispensamo-nos aqui de contá-la, pois, além de ser muito conhecida, a qualquer momento os leitores podem ter acesso a ela no Evangelho (Cf. Lc 15, 11-31). Queremos apenas apresentar-lhes os personagens:

O filho pródigo que pede a herança para desperdiçá-la em prazeres, mas que, tempo depois retorna arrependido.

O bondoso pai que, diante da hostilidade do filho, tem de dar-lhe parte da sua herança, mas depois o acolhe novamente com enorme alegria.

O filho mais velho que ficou cheio de inveja diante da paternal acolhida de seu irmão arrependido.

O dono dos porcos que dá emprego ao jovem, quando ficou relegado à miséria de se alimentar das bolotas desses animais.

6o “E não nos deixeis cair em tentação” – Tendo reconhecido a nossa debilidade, pedimos a Deus a fortaleza necessária para não ofendê-Lo nunca mais e que a vitória sobre as tentações aumente a nossa firmeza no bem.

7o “Mas livrai-nos do mal” – A Oração do Senhor encerra-se com uma cláusula que nos recorda não ter nenhum poder sobre nós o Maligno, se não lhe é dada uma permissão do alto. E são precisamente os nossos pecados os que arrancam essa autorização divina, pela qual Deus permite o sermos castigados pelo demônio, com tentações e tormentos, os quais também servem para pagarmos parte da pena devida às nossas faltas. Por isso, nesta súplica, pedimos também o ser libertos do pecado, a fim de que o autor do mal não possa jamais nos prender com os seus laços.

Essas duas últimas petições do Pai Nosso foram encenadas num atraente teatro da vida cotidiano de um grupo de estudantes, das mais variadas índoles: responsáveis, preguiçoso, briguentos etc. Numa sala de trabalhos, além dos jovens, fazem-se presentes dois espíritos, invisíveis na vida real: um anjo e um demônio. O primeiro incentivava concórdia, bom trato, responsabilidade, pensamentos puros naqueles estudantes. O segundo, pelo contrário, incitava discórdia, brutalidade, irresponsabilidade, maus pensamentos nas mentes dos jovens. E, graças à oração, esses que eram perturbados pelo demônio conseguiram vencer a tentação e viram-se livres do mal.

Desse belo segundo dia do Curso de Férias, todos os presentes puderam sair do auditório com uma verdade gravada no fundo da alma: Quem conforma a sua vida segundo os princípios contidos no Pai Nosso é um perfeito cristão! Esperemos, pois, que não passe um dia da nossa existência sem o recitarmos. O Pai Nosso já nos acompanha desde o começo da nossa caminhada rumo à salvação, quando no Batismo os nossos padrinhos o rezaram, e será ele que nos despedirá deste mundo, quando o sacerdote o recitar, enquanto o nosso corpo desce para a sua última morada.

 

Fotos: Thiago Tamura Nogueira e Alejandro López Vergara

Texto: Sebastián Correa Velásquez

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A oração perfeita

O segundo dia do Curso de Férias iniciou com uma cena sublime: Nosso Senhor Jesus Cristo ensinando os seus discípulos a rezar. “Eis como deveis rezar: Pai Nosso que estais no Céu” (Mt 6, 9). Mais de quatro mil anos tinham se passado, no início dos quais a humanidade provocara a sua própria “orfandade” por haver pecado. Tão consoladora expressão – “Pai Nosso” – só poderia brotar, com toda a propriedade, dos lábios do Deus encarnado que quis assumir a nossa carne e, em nosso meio, dizer: “Filhinhos! Doravante, chamai-me novamente de Pai!”. Cristo fazia uma revelação inaudita: “A todos aqueles que O receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12), “e nós o somos de fato” (1 Jo 3, 1)!

As petições da oração do Pai Nosso são como as sete cores que conformam o arco-íris de uma nova aliança entre o Céu e a Terra, um caminho luminoso que nos conduz diretamente aos tesouros da misericórdia divina. As três primeiras súplicas exercitam no cristão as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade), porque se dirigem diretamente a Deus: “o vosso nome, o vosso Reino e a vossa vontade”; as quatro restantes imploram, no seu conjunto, proteção e auxílio divinos na prática das virtudes cardeais (Justiça, Temperança, Fortaleza e Prudência), e constituem propriamente o apelo dos filhos a seu divino Pai: “dai-nos, perdoai-nos, não nos deixeis cair e livrai-nos”.

Na Oração do Senhor, antes dos pedidos, invocamos com fé a quem eles se dirigem – “Pai Nosso, que estais no Céu” – e em seguida os fazemos:

“Santificado seja o vosso nome” – Pedimos o mais importante, ou seja, a glória de Deus, que Ele seja conhecido e reverenciado por todos.

Para explicar aos jovens participantes do Curso de Férias essa obrigação de todo cristão santificar o nome de Deus, foi encenado um episódio tocante: a morte de Eleazar, um ancião do povo eleito na época do domínio grego em Jerusalém, no séc. II a.C, narrado pelo livro dos Macabeus. Nessa época, os costumes pagãos dos helenos foram impostos à força. Muitos hebreus apostataram da verdadeira Religião e se profanaram adotando os modos gregos. Eleazar, aos seus 90 anos de idade, foi ameaçado de morte se não comesse, em público, carnes impuras, o que no Antigo Testamento era proibido por Deus. Heroicamente, o ancião recusou-se a comer, para não desonrar o Santo Nome de Deus e tornar-se motivo de escândalo para os outros mais jovens. Por isso, foi morto de maneira atroz.

“Venha a nós o vosso Reino” – O nosso segundo maior desejo é que todos possamos participar da eterna glória de Deus e, para isso, impulsionados pela esperança, pedimos a expansão da Santa Igreja Católica, por todos os confins do mundo, e imploramos, o quanto antes, a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que Ele reine definitivamente sobre todos os povos.

“Seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu” – Mas, para que os homens mereçam entrar na glória celestial, pedimos que todos observem os Mandamentos da Lei de Deus.

Muito didaticamente, essa terceira petição do Pai Nosso foi exemplificada com um pequeno conjunto de instrumentistas, os quais, sob a batuta do regente, deveriam interpretar uma bela peça musical. Sem embargo, nunca eram bem sucedidos no seu intento, pois sempre aparecia um problema: um oboé entrava antes do sinal do regente, outra vez, uma trompa desafinava na primeira nota ou, em outra tentativa, um violoncelo tocava com a partitura errada… Por fim, eles conseguiram entrar em acordo e, seguindo com fidelidade as indicações dadas por quem regia, o som de uma magnífica harmonia agradou os ouvidos de todos os presentes.

Mas, o que tem a ver isso com a petição “seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu”? É muito simples! Para a música sair perfeita era indispensável a junção de três elementos: fazer a vontade do regente, tocar com a partitura certa e realizar o esforço necessário para tirar um belo som do instrumento. Sem dúvida, a vontade do regente era que a música fosse eximiamente executada pelos instrumentistas, ao lerem a partitura correta.

Algo semelhante sucede com os homens: para nós executarmos a magnífica “música” da vontade de nosso “Divino Regente”, Ele mesmo nos concedeu um “instrumento” sobrenatural chamado Graça e nos deu uma “partitura” claríssima chamada Os Dez Mandamentos da Lei de Deus.

Neste post contemplamos as três primeiras súplicas do Pai Nosso, por meio das quais todo cristão pede forças para praticar as virtudes que se dirigem diretamente a Deus: a Fé no seu Santo Nome, a Esperança de alcançar o seu Reino e a Caridade, ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Cf. Mc 12, 30-31), resumo de toda a Lei.

Num próximo post, teremos a oportunidade de nos deter a respeito das outras quatro súplicas que faltam. Não o perca!

Texto: Sebastián Correa Velásquez

Fotos: Thiago Tamura Nogueira e Alejandro López Vergara

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Decifrando o criptograma de Pompeia

Num post do dia de ontem (ver Segundo dia do Curso: O criptograma de Pompeia), convidávamos os leitores a descobrir o significado desse misterioso criptograma.

Caso não tenham conseguido decifrá-lo, os expositores do Curso de Férias nos fizeram esse favor. Compartilhamos aqui um curto vídeo contendo os magníficos segredos de tão antiga inscrição.  Como fundo musical da apresentação, ouvirão um trecho do Credo gravado pelo coro internacional dos Arautos do Evangelho.

Até mais, e rezem pelo Curso de Férias! Estamos entrando na reta final.

 

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Um vietnamita no meio de espanhois

Na segunda-feira desta semana, iniciou-se o Curso de Férias, e com importantes visitas! O primaz da Espanha, Arcebispo de Toledo, D. Braulio Rodríguez Plaza, esteve no Thabor com grande comitiva de sacerdotes e jovens. É verdade que o destino principal desse honroso grupo era o Rio de Janeiro, para o evento mundial que lá terá lugar na semana entrante. Sem embargo, não esperavam encontrar, no Thabor, uma “pré-jornada” com proporções verdadeiramente internacionais: 750 jovens provenientes de Paraguaia, Canadá, El Salvador, Índia, Colômbia, Peru, Espanha, Chile, e de diferentes cidades do Brasil como Curitiba, Ponta Grossa, Maringá, Joinville, Montes Claros, Juiz de Fora, Vitória, Campo Grande, Cuiabá, Pernambuco, Campos, Nova Friburgo, São Carlos, São Paulo, entre outras localidades.

Em meio às inúmeras peças de teatro que tivemos de desempenhar no Curso de Férias, também devíamos receber, com toda cortesia, esses nossos longinquos visitantes. Alguns dos arautos do Thabor fomos designados especialmente para estar com eles, e eu pensei comigo mesmo: Que vou conversar com tão ilustres representantes dessa terra de heróis que é a Espanha? A respeito de São Fernando de Castela ou de Santa Teresa de Ávila? Ou, talvez, sobre a época dos descobrimentos? Eu, “tímido” como sou, que nem domino plenamente o português – porque sou vietnamita –  quanto saberei comunicar-me em espanhol! Nesse momento, lembrei-me das aulas de Liturgia que tive no último semestre, no Instituto Teológico dos Arautos do Evangelho. O professor, precisamente, encomendara-me uma exposição sobre o rito Moçarabe, e então decidi: “esse será o tema da minha conversa”!

Querem saber se consegui sair-me bem do outro lado? Convido-os a fazer uma pequena viagem à magnífica Catedral de Toledo.

Quando eu tive a oportunidade de lá estar, subindo as colinas que conduzem a esse belíssimo templo, deparei-me com o quadro magnífico que, até hoje, qualquer um dos visitantes pode observar: ruas de pedra, armaduras de ferro e, dominando o conjunto da urbe, um sobranceiro castelo chamado “El Alcazar”, com mil e uma histórias para contar! Tudo é belo e memorável nessa antiquíssima cidade!

Entrando na Catedral, estávamos encantados pela coloração dos vitrais e, de repente, uma cena tocante chamou-nos a atenção: um sacerdote, de joelhos diante dos seus paramentos, um tanto diferentes do comum, preparava-se para revesti-los recitando quatro Ave Marias. Nunca tínhamos visto algo semelhante! Permanecemos, pois, atentos à sua curiosa atitude e, logo que o clérigo se dirigiu ao altar-mor, já revestido a caráter e sem ainda subir os degraus, elevou mais uma Ave Maria à Santíssimas Virgem. Aproximando-se do altar, osculou-o, saudando com estas comovedoras palavras a Cruz sobre ele colocada: “Ave ó Cruz preciosa que ao Corpo de Cristo és dedicada e dos seus Membros, como de pérolas, és ornada”.

Era Solenidade de Corpus Christi. Começamos então a averiguar, se, por ocasião dessa data, havia algum privilégio litúrgico para realizar tão belas ações dentro da Santa Missa. Um dos fiéis, que devotamente ali rezavam, explicou-nos: “trata-se do rito Moçárabe, o qual pode ser usado, no altar-mor, três vezes por ano, entre as quais se encontra a comemoração de hoje!”. Muito satisfeitos pela resposta, e felizes pela coincidência de ali nos encontrarmos nesse dia, quisemos permanecer até o fim da Eucaristia, podendo observar várias diferenças – por certo, muito belas – entre o rito Romano, comumente usado no Ocidente, e esse de nome Moçárabe – também lhes explicarei o porquê.

Encantou-nos o fato de o Credo ser recitado após a Consagração, enquanto o celebrante sustenta, de frente para o público, uma enorme patena com a hóstia proporcional ao seu suporte, e o cálice, o qual também não fica aquém em matéria de tamanho. A finalidade detalhe do cerimonial é apresentar aos fiéis, enquanto proclamam o Símbolo da nossa Fé, a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que atestem com igual convicção tão sublime Sacramento.

Outro momento que cativou muito a nossa simpatia, em relação esse rito da Igreja Católica, foi a fractio Panis, na qual o Sacerdote divide a hóstia para comungar. No rito Romano a sagrada espécie é fracionada apenas pela metade. No Moçarabe ela é dividia em nove partes, cada uma simbolizando um dos principais episódios da nossa Redenção, na seguinte ordem: Corporatio (Encarnação), Nativitas (Nascimento), Circunciso (Circuncisão), Apparitio (Aparição), Passio (Paixão), Mors (Morte), Resurrectio (Ressurreição), Gloria (Glória), Regnum (Reino).

A minha narrativa muito estava cativando a atenção e simpatia dos nossos ibéricos visitantes, especialmente os que eram da cidade de Toledo. No entanto, não foi com a mesma simpatia que um dos encarregados das peças de teatro veio chamar-me desesperado, pois era o momento de entrar em cena e eu estava atrasado… Bem, por isso também, encerro esta redação, caros leitores que, neste momento, tornaram-se para mim “os espanhóis” aos quais dirigia a minha descrição sobre o rito Moçarabe… Até a próxima, tenho de sair correndo, pois não podemos atrasar os preparativos para o dia de amanhã, que promete muito! Por favor, perseverem na oração pelo Curso de Férias!

FOTOS: Pe. José Luís de Zayas e Alejandro López Vergara

TEXTO: James Thong Vu

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Segundo dia do Curso: O criptograma de Pompeia

Ano 79 d.C., doze anos depois da morte de São Pedro, em Roma, a cidade de Pompéia foi destruída por violento vulcão. O Vesúvio deu a conhecer a sua fúria, ao detonar em terrível erupção, ejetando tamanha quantidade de detritos, cinzas e lava que acabou por sepultar no “eterno” esquecimento esse povoado romano do sul da Itália.

“Eterno” de fato teria sido o seu esquecimento se um grupo de arqueólogos não tivesse descoberto o sistema para “ressuscitar”, em pleno século XX, a figura dessa cidade subterrânea, conservada intacta, como que mumificada, por obra da imensa quantidade de cinzas vulcânicas que no passado a tinham soterrado.

Sim, eles desenterraram Pompéia e, coisa mais incrível ainda, os corpos das pessoas atingidas pela calamidade, antes de se decomporem, tinham servido de molde para aquele “gesso” natural, fruto das cinzas vulcânicas, elaborar verdadeiras máscaras mortuárias e, mais ainda, configurar incríveis siluetas do corpo inteiro desses cadáveres, na posição em que as desventuradas pessoas se encontravam ao ser atingidas pela calamidade.

Mas, como preencher essas formas, a fim de recompor as dramáticas cenas? Os competentes arqueólogos utilizaram grande quantidade de cimento para, meticulosamente, injetá-lo nos valiosos e delicados moldes, obtendo assim, depois de árduo e prolongado trabalho, a recomposição de uma cena dramática: a antiga cidade de Pompéia sendo atingida pela erupção do Vesúvio.

Inacreditável ainda foi o fato de os arqueólogos conseguirem recompor, além dos corpos das pessoas, também as localidades nas quais elas se encontravam. Ora, em alguns desses antigos muros, havia uma inscrição misteriosamente que muito chamou a atenção dos estudiosos:

SATOR

AREPO

TENET

OPERA

ROTAS

Este curioso criptograma já tinha sido encontrado antes em outros lugares. Mas a restauração de Pompéia permitiu saber a sua antiqüíssima datação. Da Inglaterra ao Egito, e até na Pérsia, tão misteriosa inscrição do primeiro século do Cristianismo também aparecia registrada em diversas moradias cristãs, dessa vasta extensão do Império Romano.

Mas, que relação podem ter essas quatro estranhas palavras – que lidas em qualquer direção conservam o seu sentido – com o tema de nosso segundo dia do Curso de Férias?

Convido-o a descobrir o enigma escondido nesse criptograma, o qual, durante muito tempo, resistiu aos esforços dos entendidos para interpretá-lo. Aguarde um próximo post.

A Igreja, durante os primeiros séculos da sua existência, teve de transmitir de modo cauteloso a oração ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo, pois, tanto nas sinagogas quanto entre os pagãos, chamar a Deus de Pai era uma doutrina inaceitável. Essa hostilidade foi comprovada pelo próprio Divino Mestre, quando os seus inimigos “procuravam, com maior ardor, tirar-Lhe a vida, porque […] afirmava que Deus era seu Pai” (Jo 5, 18).

Assim, o Pai Nosso tornou-se um verdadeiro sinal de identificação, o primeiro símbolo da Fé, por meio do qual alguém podia ser reconhecido cristão, nessa época de perseguições. E, até hoje, nas palavras prévias à sua recitação durante a Santa Missa, transparece esse caráter de proclamação de uma verdade que fora impugnada pelo mundo: “obedientes à palavra do Salvador e formados por seu divino ensinamento, ousamos dizer”.

A Oração do Senhor, ou Dominical (do latim Dominus), é a prece perfeita. Ela é um “resumo de todo o Evangelho” (Tertuliano, De oratione, I, 6), e serviu de guia para a piedade dos católicos de todos os tempos. “Não há nenhum aspecto das nossas preces ou orações que não esteja compreendido nesse compêndio da doutrina celestial” (São Cipriano. De oratione dominica. 9). Por isso, neste segundo dia do Curso de Férias dos Arautos do Evangelho, foram contempladas em pormenores os tesouros dessa incomensurável dádiva que nosso Divino Redentor quis nos deixar, a única oração composta diretamente pelo seus divinos lábios: O Pai Nosso.

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Um dia impregnado de oração

A oração grande e seguro meio de salvação. Já tivemos a oportunidade de dar-lhes a conhecer, por meio deste blog, o curioso repórter do dia de ontem (ver matéria publica em 15 jul. 2013). Agora queríamos apresentar-lhes outras personagens, cujas encenações foram transbordantes de ensinamentos, aumentando a compenetração dos 750 jovens assistentes. Todos os teatros visavam inculcar a necessidade da oração e dar a conhecer as condições indispensáveis para que ela obtenha eficazmente o que é pedido.

Após o repórter, a figura de São Bernardo se fez presente no palco. Em meio a um ofício que cantava com os monges de seu mosteiro, quatro espíritos angélicos apareceram ao santo abade, posicionando-se cada um atrás de dois dos religiosos. O primeiro Anjo registrava em letras de ouro as orações dos que rezavam com fervor. O segundo, o fazia com letras de prata, pois, outros monges rezavam, é verdade, mas sem piedade suficiente. O terceiro espírito angélico escrevia com tinta as orações distraídas e medíocres de outros que ali se encontravam. E o último anjo não escrevia nada, pois havia religiosos que tristemente não rezavam, pensavam em outras coisas, queriam logo retirar-se para tocar serviços práticos…

Outra cena do Curso muito formativa foi a respeito de um grupo de mendigos, acampados numa praça, os quais passavam ali a sua vida, sustentados por meio de esmolas e carregando tristemente as suas penas, tanto as do corpo quanto as da alma. Em certo horário do dia, costumava passar por esse local o bondoso São Martinho de Tours acompanhado por alguns fiéis. Um dos pobres inquilinos, recém chegado nesse dormitório público, ficou desnorteado ao ver a atitude dos mendigos quando o santo Bispo se aproximava. Mesmo os cegos saíram correndo a toda velocidade, ajudados pelos que eram mancos e assim, ajuda-se mutuamente, em pouco tempo essa turma de estropiados esvaziou a praça.

Quando, há muita distância, viram que São Martinho já se retirara, retornaram aos costumeiros postos donde ostentavam as suas deficiências aos viandantes, pronunciando o famoso: “uma esmola, por favor!”. O desventurado novato na arte de mendigar, não entendendo nada do que se passara, perguntou insistentemente por que tomar tão estranha atitude, diante de um Bispo tão bondoso que poderia lhes ajudar? O chefe da turma de mendigos que, por certo, era cego de olhos e de coração, respondeu carregado de ira: “Por que Martinho é um taumaturgo que pode nos curar dos nossos males! É precisamente isso que não queremos! Somos errados e determinamos continuar assim, a vida inteira! Não queremos trabalhar nem ser libertos das nossas doenças!”.

Essa é realmente a atitude de todos aqueles que não querem rezar a Deus, pedindo-Lhe tudo o necessário, pois temos um Pai Onipotente disposto a curar-nos de todas as doenças espirituais. Inclusive, Ele está disposto a conceder-nos curas corporais e outros favores materiais, caso não prejudiquem a salvação eterna da nossa alma, pois essa é a finalidade última de nosso existir.

Texto: Sebastián Correa Velásquez

Fotos: Alejandro López Vergara e Thiago Tamura

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Um repórter fora do comum

Primeiro dia do Curso de Férias e já apareceu um repórter no Thabor… Seu nome era Luís. Queria fazer uma entrevista sui generis. Depois de alguns minutos de conversa, conseguimos saber que era estudante de um prestigioso colégio e tinha como tarefa realizar uma reportagem.

O professor prometera um prêmio a quem fosse mais original em desempenhá-la.

Ora, esse curioso repórter comparecera no primeiro dia do Curso de Férias não para entrevistar um dos expositores, nem ainda um dos espectadores… Era para fazer-nos participar de uma incrível reportagem que ele realizaria, a qual já estava combinada previamente. Seu Anjo da Guarda há pouco lhe aparecera, dizendo que o levaria para conhecer duas realidades antagônicas: o Inferno… E, logo depois, a entrada do Céu! Tanto num lugar quanto no outro poderia entrevistar aos que lá se encontrassem…

Temeroso, mas confortado pela angélica presença, o incipiente repórter dispôs-se a viajar para essas ignotas paragens, a fim de indagar às pessoas, qual era o motivo pelo qual mereceram esse fim: para uns a desgraça infinita, para outros a eterna alegria.

Seu Anjo conduziu-o primeiro à mansão dos mortos… Ei-lo, pois, diante de uns sinistros precitos. Apavorado, mas amparado pelo celeste protetor, guardou bastante distância dos réprobos e começou o seu dramático inquérito, perguntando a um deles:

 – Reu horripilante, como veio parar aqui?

Uma voz soturna e cavernosa lhe respondeu:

Ai… Ai… Ai… Eu era cristão! Fui batizado e recebi os demais Sacramentos. Porém, nunca rezava! Achava a oração um passa-tempo para tontos. Mas, agora sei que, como eu não a rezava, nunca obtive as forças necessárias para perseverar estavelmente no cumprimento da Lei de Deus! Se tivesse orado, agora seria feliz no Céu…

–  Mas, só por isso? Rezar é tão fácil?

É verdade! Mas são raras as pessoas que, enquanto vivem, querem rezar! Agora é tarde demais…

E, com um forte grito, foi precipitado novamente às apavorantes e escuras profundidades do Inferno. Extremamente impressionado, o jovem dirigiu-se a outro dos horríveis condenados que ali estavam:

– Quem é o senhor e como veio para aqui?

Ouviu-se, então, um murmúrio frio e arrepiante:

Eu sou um grande criminoso, um maldito… Mas, ter-me-ia bastado rezar para alcançar o perdão dos meus horrendos vícios!

–  Incrível! Isso é exatamente o que me disse o anterior…

–  Meus delitos eram grandes, porém, maior é o poder da oração!

Arrastado por um demônio, o condenado foi lançado ao lugar do seu eterno suplício. Nesse momento, outro desses infelizes adiantou-se em direção ao entrevistador, gritando com sua rouca voz:

A oração! A oração! Ter-nos-ia bastado a oração para não estar neste maldito estado!

Muito assustado, o jovem implorou ao seu Anjo para se retirar do Inferno, pois não tinha forças suficientes para continuar ali. O bondoso mensageiro divino, então, continuou o percurso que tinha prometido ao seu protegido. Agora iriam à porta de entrada do Céu!

Quando menos esperava, o inexperiente repórter viu-se rodeado de luz, Bem-aventurados e Anjos. Fora de si, deparou-se com um homem esplêndido que caminhava:

– Senhor Rei! Desculpai-me interromper o vosso glorioso percurso! Seria possível dizer-me como merecestes chegar aqui?

Claro! Mas antes, permiti-me fazer uma pequena correção: eu não sou rei; na Terra era um simples cozinheiro. Enquanto preparava os alimentos ou lavava os utensílios da minha função, eu sempre estava rezando. Cumpri com minha missão e meus deveres, é verdade, mas hoje me dou conta que só consegui me salvar porque rezava muito!

Meu caro – adiantou-se outro bem-aventurado –, eu sou um arauto do Evangelho, como o senhor. Era uma pessoa que rezava muito e, embora fosse muito distraído em minhas orações, aprendi num Curso de Férias o incomensurável valor da oração! Desde, então, passei a rezar com todo o fervor e constância que me era possível! Graças à oração me salvei!

– Nossa! Quer dizer que é a oração que acaba por determinar…

Luís – interrompeu o Anjo da Guarda –, temos de voltar à Terra, pois o tempo já acabou.

Dessa maneira concluiu a primeira encenação deste Curso de Férias 2013, um ano no qual, certamente, todos precisaremos muito da oração. Sim, esse é o tema central que marcará todos estes extraordinários dias de reuniões! Acompanhem-nos também acessando os próximos post que publicaremos. E, por favor, não se esqueça de rezar por nós, pois, como já tivemos a oportunidade de revelar neste blog, esse é o principal segredo para o sucesso do Curso de Férias: a oração!

Texto: Sebastián Correa Velásquez
Fotografia: Thiago Tamura Nogueira

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Revelando segredos

Já tivemos a oportunidade de revelar, aos nossos leitores, um dos principais segredos para o sucesso do Curso de Férias: o Santo Rosário (ver matéria publicada em 9 jul. 2013). Creio estar “falando demais” – como dizem no Brasil –, pois, de repente, aqueles  que aguardam com ânsia  o início dessa programação, bem podem já estar intuindo o tema central que marcará as exposições desses dias… Mas, não resisto! Vou “falar” mais um pouquinho – só entre nós – dos “segredos” do Curso… Caso tenham a paciência, acompanhem-nos durante alguns instantes lendo estas linhas.

Vida interior: vale a pena guardar essa palavra chave. Para o conjunto de Arautos do Evangelho que reside no Thabor, além da assistência diária à Santa Missa, essa enorme dádiva do amor de Cristo (conforme matéria publicada em 12 jul. 2013), todas as manhãs deste período de árduos preparativos para o Curso de Férias, há um tempo de 45 minutos dedicado a outras orações, denominado Recolhimento.

Pouco tempo depois do café da manhã, tocam os ferrinhos chamando a comunidade para o programa, como já é costume nas residências dos Arautos do Evangelho: um primeiro aviso (composto de dois toques) alerta a todos para estarem formados no local avisado, pois, em cinco minutos, os ferrinhos darão o segundo sinal (composto de três toques). Nesse momento, deve-se estar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, seja na capela de adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, seja em outro lugar do templo, para recitar, sozinhos ou em companhia de outros, diversas orações já habituais a todo arauto do Evangelho.

Nesse período de Recolhimento, vêem-se principalmente dois livros de orações nas mãos das pessoas:

A Liturgia das Horas (conhecida também como Ofício Divino ou Breviário), a qual, quando é recitada por um sacerdote ou um religioso consagrado, torna-se a oração oficial e pública da Igreja Católica, juntamente ao culto por excelência que é a Santa Missa. Isso quer dizer que esse conjunto de orações que se elevam a Deus são feitas em nome de toda a Igreja.

Um devocionário muito comum entre os Arautos do Evangelho, denominado Preces, o qual pode variar em número

de orações, conforme seja a devoção e o tempo de que cada arauto dispõe, em meio às funções de seu dia-a-dia. Sem embargo, há algumas orações, isto sim, que são fixas, devido à sua importância, valor espiritual, doutrinário e teológico. Por exemplo, os famosos e antigos conjuntos de ladainhas dedicadas ao Sagrado Coração, ao Espírito Santo, a Nossa Senhora, ao Imaculado Coração de Maria e a São José.

Como essas, há outras preces que são também verdadeiros tesouros da Igreja Católica. Caso queiram conhecê-las… Em fim, “falei” demais… Espero que as autoridades do Curso de Férias não processem os escritores deste blog, por estarem revelando “segredos de estado”…

Uma curiosidade final. Por que do nome Recolhimento?

O Ordo de costumes dos Arautos do Evangelho prevê um modo de comportar-se próprio aos momentos de oração, meditação ou retiro espiritual, no qual o arauto deve dirigir a sua atenção para a importantíssima ação que realiza, ou seja, elevar a sua mente ao Criador. Para isso, não deve comunicar-se, nem por gestos, com os seus demais irmãos de hábito, a não ser em caso de real necessidade. São momentos de recolher-se em seu interior, conversar com Deus e deixar que a Graça divina toque o íntimo da alma.

É incontável o número de Santos que aconselharam esse modo de proceder, principalmente, quando se faz meditação. Até médicos e psicólogos defenderam que  meia hora de meditação diária pode melhorar consideravelmente a própria estrutural cerebral.

Não perca os próximos post. Até lá… os preparativos vão mar alto…


Texto: Sebastián Correa Velásquez
Fotografia: Thiago Tamura Nogueira

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Um segredo: como tornar proveitoso cada dia no Thabor

Da caneta para o pincel, a tesoura ou a fita métrica… Sim, para um arauto do Evangelho, do Thabor, terminado o período de aulas as ocupações se fazem mais intensas ainda. Os preparativos para o Curso de Férias continuam e, nesses momentos de “dar tudo”, desabrocham impressionantes talentos artísticos e torna-se mais imbricada a união entre todos aqueles que lutam pelo mesmo ideal: a glória de Deus. Sejam brasileiros, chineses, vietnamitas, espanhóis, colombianos, portugueses, salvadorenhos ou japoneses… Enfim: em todos parece circular um mesmo sangue, isto é, o sangue dos Filhos de Deus, daqueles que desejam conservar-se na sua Graça. 

Fator muito importante para o bom sucesso dos trabalhos é que neles reine o espírito de oração. Para esses arautos, durante as férias a jornada se inicia com o Santo Rosário em comunidade. Divididos por grupos de cinco a quinze pessoas, rezam-se reverentemente em latim os quatro conjuntos dos Mistérios, sendo o primeiro terço recitado de joelhos, diante do Santíssimo Sacramento. Os demais terços são rezados enquanto se percorre, num passo quase processional, as cercanias da Basílica de Nossa Senhora do Rosário. Bem lembra o costume, outrora muito comum em inúmeros países católicos, denominado “Rosário da Aurora”, para o qual os fiéis devotos saíam pelas ruas de seu bairro, à primeira hora da manhã, a fim de pronunciarem, mais de uma centena de vezes, aquelas palavras que, já por mais de dois mil anos, tanta alegria causam à Santíssima Virgem: “Ave Maria cheia de Graça…”.

É em meio a essa piedade mariana que começa um dia de férias no Thabor, e pouco renderiam os inúmeros serviços se assim não fosse: haveria desentendimentos, os favores se tornariam cada vez mais escassos, e o egoísmo e o desejo de chamar a atenção sobre si começariam a corromper as atividades, como a cizânia corrói o trigo das boas obras. Pelo contrário, “a vida interior atrai as bênçãos de Deus”, diz Dom Chautard em seu livro A Alma de todo Apostolado. Com ela, tudo corre sobre trilhos bem azeitados e, quando menos se pensa, até da poeira estão saindo estrelas.

Essa ideia talvez possa chocar alguns, “neste século de naturalismo em que o homem julga sobretudo pelas aparências e procede como se o bom êxito de uma obra dependesse principalmente de engenhosa organização”.[1] Ora, quando se trata de atividades que visam, em primeiro lugar, fazer bem às almas, motivá-las para a santidade, atraí-las para a prática da virtude, “o proceder praticamente a se ocupar das obras, como se Jesus não fosse o único princípio de suas vidas, é qualificado pelo Cardeal Mermillod como ‘heresia das obras”.[2]

Sim, o fazer pelo fazer torna-se uma “heresia” quando uma obra visa, antes de tudo, um fruto espiritual, pois nesse campo, sem a graça de Deus, nada se alcança. Por isso – é um dos segredos do Curso de Férias – nenhum dia passa, para um arauto do Thabor, sem ser iniciado com a recitação do Santo Rosário: ótimo meio para alcançar de Deus o bom sucesso para as obras, as graças necessárias para que elas movam as almas e, sem dúvida, a própria santificação dos que aqui residem. Afinal, todos os arautos têm arraigada em si a certeza de que o grande diploma da vida é o da santidade, como ensina o Fundador, Mons. João Clá Dias.

Foi esse o conselho que o Papa Francisco deu, em recente encontro com jovens vocações sacerdotais e religiosas: “rezai o Rosário, por favor… Não o deixeis! Tende sempre Nossa Senhora convosco na vossa casa, como a tinha o Apóstolo João! (Cf. Jo 19, 27)”.[3]

Texto: Sebastián Correa Velásquez
Fotografia: Thiago Tamura Nogueira

[1] Chautard, Jean Baptiste. A alma de todo apostolado. São Paulo: Coleção, 1962. (Parte I, capítulo 2)

[2] Loc. Cit.

[3] Palavras do Papa Francisco no encontro com os seminaristas, os noviços e as noviças. 6 Julho de 2013.

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Curso de Férias 2013!

São João Bosco, um dos maiores formadores da juventude de todos os tempos, ensinava que mente vazia é oficina do diabo. Considerando essa tão sapiencial verdade os Arautos do Evangelho promovem, nos dois períodos anuais de férias, programas de formação doutrinária em que se incluem encenações teatrais. Força, energia, ênfase e resolução: essas quatro palavras muito bem sintetizam as disposições que se fazem sentir nos participantes de tais programas.

O tema do próximo “curso de férias”, assim chamado, não será anunciado nesta notícia, já que para os participantes ainda é um “segredo”. Fica então feito aos leitores deste blog um convite para visitá-lo novamente, nos próximos dias.

Os preparativos para o curso de férias já começaram. Eles não são poucos, pois, entre outros personagens, se fará presente o príncipe Miguel, de meados do século XVIII, além de Eleazar (grande personagem do antigo testamento), São Bernardo (o Doutor Melífluo), o grande São Domingos (fundador da ordem dos Dominicanos), e muitos outros. Eles permitirão entender como se aplicam ao presente as palavras de Santo Agostinho: “não é um mundo que está morrendo, mas um novo mundo que está nascendo”.

Não percam os posts desse evento, que se iniciará em 15 de julho corrente e findará no dia 20.

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A experiência científica de Tomé e a mística de Tomás

A experiência científica de Tomé e a mística de Tomás

Redação – (Quarta-feira, 03-07-2013, Gaudium Press) – Sendo o dia 3 de julho o dia de São Tomé, estamos publicando para nossos leitores este artigo que trata da “experiência científica de Tomé e a mística de Tomás:

Aquele que disse aos seus companheiros aninhados no Cenáculo por causa de um medo atroz, que só haveria de crer em Jesus ressuscitado se visse “nas suas mãos o sinal dos pregos”, pusesse o “dedo no lugar dos pregos” e introduzisse a “mão no seu lado” (Jo 20,25) não precisa de apresentação.thomas.jpg

Tomé passou para a História como símbolo da incredulidade, é verdade, mas também como o exponencial de uma lei inerente à natureza humana per se legítima. Ver com “os próprios olhos, tocar com “as próprias mãos”, ouvir com “os próprios ouvidos” é uma necessidade do ser humano, uma condição para darmos o assentimento perfeito da nossa inteligência e da nossa vontade.

Embora seja eminentemente sobrenatural, o próprio assentimento da fé tem um dos seus pilares fundamentado nesse ditame da experiência sensível. Não foi essa necessidade demonstrada por São Tomé, após a terrível hecatombe da perseguição que havia caído sobre a Igreja nascente, arrebatando a suave presença do Divino Mestre? Também para Santa Maria Madalena, aquela que muito havia amado, era necessário tocar e abraçar os pés do Ressuscitado, para saciar esse desejo legítimo e subconsciente do coração humano de comprovar a fé com os sentidos. Tal aspiração é tão ingente em nosso interior a ponto do Apóstolo São João jubiloso exclamar: “o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos têm apalpado, no tocante ao Verbo da vida, porque a vida se manifestou, e nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou” (1Jo 1,1-4).

Esse desejo de experiência não é contrariado por Nosso Senhor, pois ao encontrar-se com os seus discípulos convidou São Tomé a comprovar: “Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé” (Jo, 20,27). Dos lábios do incrédulo brotou, como a rosa no deserto, o mais explícito ato de fé na divindade de Jesus presente nos Evangelhos: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). Com os olhos e os dedos de Tomé, nós tocamos nas chagas e no lado aberto de Jesus. Em Tomé toda a Igreja creu na ressurreição corpórea e milagrosa do Homem-Deus.

Ora, houve outro Tomé, nascido na cidade italiana de Aquino, cujo nome não pode ser pronunciado por teólogo ou filósofo que se preze senão com respeito e veneração: São Tomás de Aquino. Ele foi uma autêntica testemunha dos atributos e perfeições divinas, da divindade e da humanidade de Cristo, do inefável mistério da Santíssima Eucaristia e dos castos privilégios de Maria Santíssima. Tomás nasceu mais de um milênio após a tragédia do Gólgota, e de fato não teve a graça de tocar com o seu dedo no lado e nas chagas do Redentor como outrora havia feito Tomé.

Entretanto, o Doutor Angélico viu com os olhos da fé e apalpou com as mãos da caridade a divindade e a humanidade de Jesus. A experiência mística de Tomás é superior à experiência científica de Tomé, como aliás afirmou o próprio Divino Mestre: “Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!” (Jo, 20,29). A visão da experiência mística, essencialmente sobrenatural de São Tomás não é imensamente mais abarcativa e sublime do que a experiência material e racional? Afinal, o objeto do olhar teológico não é o Bom Deus, puro espírito e totalmente imaterial? E o mundo sobrenatural não é essencialmente invisível aos nossos olhos carnais? É por isso que a experiência mística dos santos é mais eloquente que a pretensiosa experiência humana dos entendidos…

É justamente por causa da santidade do insigne Doutor Angélico, que a sua obra filosófica e teológica – além de ser eminentemente racional e precursora dos métodos científicos modernos – é superior. Ele viu com os olhos do Espírito Santo, com as castas doçuras interiores dos toques místicos,[1] com a retidão do primeiro olhar de uma alma santa, reta e inocente.

É por isso que a Igreja atribuiu especial valor à obra do Aquinate: ele foi mais feliz em crer sem ver e tocar como Tomé, porque viu, distinguiu, creu através do olhar sobrenatural do qual ele tirou a inspiração de seu ensino, ou seja, da visão de uma imagem eterna quase beatífica, da qual gozaremos por toda a eternidade. É dessa forma que se pode dizer que São Tomás foi mais feliz que São Tomé, pois ele creu N’Aquele que real, genuína e misticamente havia “visto”.

Por Marcos Eduardo Melo dos Santos

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[1] La vision intellectuelle est la manifestation certaine d’un objet à l’intelligence, sans aucune dépendance actuelle des images sensibles. Elle se fait soit par des idées acquises surnaturellement coordonnées ou modifiées soit par des idées infuses, qui sont parfois d’ordre angélique. Elle requiert, en outre, une lumière infuse, celle du don de sagesse ou de la prophétie. […] La vision intellectuelle est parfois obscure et indistincte. […] D’autre fois, la vision intellectuelle est claire et distincte […]; c’est une sorte d’intuition des véritess divines ou des choses créées en Dieu. […] On reconnaît que ces faveurs viennent de Dieu aux effects qu’elles produisent: paix intime, sainte joie, profonde humilité, attachemente inébranlable a la virtu” (GARRIGOU-LAGRANGE, Les trois âges de la vie intérieure: prélude de celle du ciel, Op. Cit., p. 764-765. Tom. II).

Fonte: http://academico.arautos.org/tag/a-experiencia-cientifica-de-tome-e-a-mistica-de-tomas/

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Apostolado do Oratório dos Arautos do Evangelho chega à Ruanda

Kigali – Ruanda (Terça-feira, 02-07-2013, Gaudium Press) Ruanda. O nome deste país africano evoca no imaginário coletivo cenas de uma crueldade até então inéditas, no que se conheceu como o genocídio de Ruanda, violência que

ruanda_01.jpgteve seu clímax em 1994. Entretanto, e em meio de mil dificuldades, a Igreja ali continua desenvolvendo seu trabalho pastoral, que se manifesta crescente, curando as feridas, restaurando o tecido social, promovendo a paz através da pregação do Evangelho e da vida sacramental.

Neste pequeno país africano, de 8.600.000 habitantes -dos quais aproximadamente 60% é católico- as vocações sacerdotais florescem nas nove dioceses existentes. No trabalho de formação sacerdotal destaca-se o Seminário de São Carlos de Nyakibanda, na diocese ruanda_02.jpgde Butare, que foi construído no ano de 1953, e é auxiliado com ajudas do exterior, e que conta com 200 seminaristas provenientes de diversas dioceses.

Para apoiar o trabalho da Igreja local, os Arautos do Evangelho enviaram missionários do Canadá que foram até estas terras africanas, convidados por alguns sacerdotes e por famílias que participam do Apostolado do Oratório, em diversas localidades.ruanda_03.jpg

O Apostolado do Oratório é a peregrinação permanente de quadros do Imaculado Coração de Maria por grupos de 30 famílias, cada uma delas recebe o oratório uma vez por mês, ocasião na qual rendem culto especial à Mãe de Deus, de acordo com algumas instruções que as famílias se comprometem a cumprir. Este Apostolado tem sido relevante no fortalecimento da vida paroquial nos lugares onde está presente, particularmente em Ruanda.

A visita dos missionários dos Arautos à Ruanda tem sido ocasião também para tomar contato com todos os segmentos da povoação. Os missionários dos Arautos do Evangelho destacam em seus relatos a alegria que percebem na sociedade pela abundante presença de crianças, que estão por toda parte.

Os hábitos dos Arautos tem causado “sensação” entre os habitantes, que se aproximam dos missionários para pedir uma estampa de Nossa Senhora, para perguntar quem são e o que fazem, alguns para tirar fotos ao lado dos missionários, inclusive declarando-se de forma antecipada como ateus. “Osruanda_04.jpg ateus ruandeses são bem simpáticos”, declara o irmão François Boulay, um dos missionários. Durante a missão visitarão escolas, capelas, igrejas e diversas comunidades cristãs.

Além das famílias pertencentes ao Apostolado do Oratório, já existe um terciário dos Arautos do Evangelho no país, além de várias pessoas que desejam iniciar a formação de terciários para esta Associação Pontifícia. (GPE/EPC)

Gaudium Press / S. C.

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Solenidade de São Pedro e São Paulo

Ao chegar à região de Cesaréia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” Eles responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Perguntou-lhes de novo: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na Terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu” (Mt 16, 13-19).

Mons Joao Cla.jpgMons. João Clá Dias, EP

I – Considerações iniciais

Difícil é encontrar alguém que nunca tenha comprovado a consonância da sonoridade obtida através de cristais harmônicos. Basta um simples golpe, em um só deles, para os outros ressoarem em concomitância. É, até, uma prova para se conhecer a autenticidade destas ou daquelas taças.

Assim, também, no campo das almas. Discernimos a que é entranhadamente católica e com facilidade a diferenciamos da tíbia, atéia ou herética, quando fazemos “soar” uma simples nota: o amor ao Papado, seja quem for o Papa. Tornam-se encandescidas as almas fervorosas, indiferentes as tíbias, indispostas algumas, etc.

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Imagem de São Pedro

Basílica do Vaticano

Pois esta é a matéria do Evangelho de hoje. A fim de nos prepararmos para contemplar as perspectivas que ele nos manifesta, ocorreu-nos reproduzir as considerações transcritas a seguir. Poderemos, assim, ter uma noção da qualidade do “cristal” de nossa alma:

“Tudo quanto na Igreja há de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural, tudo isto, mas absolutamente tudo sem exceção, nem condição, nem restrição, está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra de São Pedro. As instituições mais sagradas, as obras mais veneráveis, as tradições mais santas, as pessoas mais conspícuas, tudo enfim que mais genuína e altamente possa exprimir o Catolicismo e ornar a Igreja de Deus, tudo isto se torna nulo, maldito, estéril, digno do fogo eterno e da ira de Deus, se separado do Romano Pontífice. Conhecemos a parábola da videira e dos sarmentos. Nessa parábola, a videira é Nosso Senhor, os sarmentos são os fiéis.

Mas como Nosso Senhor Se ligou de modo indissolúvel à Cátedra Romana, pode-se dizer com toda segurança que a parábola seria verdadeira entendendo- se a videira como a Santa Sé, e os sarmentos como as várias Dioceses, Paróquias, Ordens Religiosas, instituições particulares, famílias, povos e pessoas que constituem a Igreja e a Cristandade. Isto tudo só será verdadeiramente fecundo na medida em que estiver em íntima, calorosa, incondicional união com a Cátedra de São Pedro.

“‘Incondicional’, dissemos, e com razão. Em moral, não há condicionalismos legítimos. Tudo está subordinado à grande e essencial condição de servir a Deus. Mas, uma vez que o Santo Padre é infalível, a união a seu infalível magistério [só] pode ser incondicional.

“Por isto, é sinal de condição de vigor espiritual, uma extrema susceptibilidade, uma vibratilidade delicadíssima e vivaz dos fiéis por tudo quanto diga respeito à segurança, glória e tranqüilidade do Romano Pontífice. Depois do amor a Deus, é este o mais alto dos amores que a Religião nos ensina. Um e outro amor se confundem até. Quando Santa Joana d’Arc foi interrogada por seus perseguidores que a queriam matar, e que para isto procuravam fazê-la cair em algum erro teológico por meio de perguntas capciosas, ela respondeu: ‘Quanto a Cristo e à Igreja, para mim são uma só coisa’.

E nós podemos dizer: ‘Para nós, entre o Papa e Jesus Cristo não há diferença’. Tudo o que diga respeito ao Papa diz respeito direta, íntima, indissoluvelmente, a Jesus Cristo”1.

II – O Evangelho: “Tu es petrus”

Pergunta de Jesus e circunstância em que foi feita

Ao chegar à região de Cesaréia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”.

A cidade na qual se desenvolve o Evangelho de hoje havia sido construída pelo tetrarca Filipe que, para angariar a simpatia do imperador César Augusto, deu-lhe o nome de Cesaréia. Desconhece a História o exato percurso empreendido pelo Senhor e pelos Apóstolos àquela altura dos acontecimentos; a hipótese mais provável é a de que tenham atravessado a via de Damasco a Jerusalém, perto da ponte das Filhas de Jacó. O território onde nasce o rio Jordão, compreendido entre Julias e Cesaréia, é rochoso, solitário e acidentado. Foi nessa localidade montanhosa e pétrea que Herodes, o Grande, erigiu um vistoso templo de mármore branco em homenagem ao imperador César Augusto. Calcando as pedras da região, e talvez à vista do tal templo sobre o alto das rochas, foi que se estabeleceu o diálogo durante o qual se tornaram explícitas para os Apóstolos a natureza divina de Jesus e a edificação da Santa Igreja.

Convém não esquecermos o quanto a divina pedagogia de Jesus escolhia os acidentes da natureza sensível para efeito didático, e assim poderem seus ouvintes ter melhor compreensão das realidades invisíveis do universo da Fé. A esse respeito, seriam inúmeros os casos a serem citados, mas basta-nos lembrar o modo pelo qual Ele convocou os dois irmãos pescadores, Pedro e André: “Segui-me e Eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4, 19). Não se trata, portanto, de nos basearmos em razões meramente poéticas para supor que o desenrolar dessa conversa verificou- se sobre as pedras; há por detrás, um elevado teor simbólico. Ali estavam rochas que deviam perpetuar- se, e a contemplação dessas criaturas minerais, fruto de sua onipotência, tornava mais bela a solene profecia da edificação de sua indestrutível Igreja.

Alguns autores ressaltam outro importante aspecto: o fato de Jesus ter escolhido uma região pertencente à gentilidade para manifestar- Se como Filho de Deus e fundar o primado de sua Igreja. Eles interpretam como sendo um prenúncio da rejeição do reino messiânico, pelos judeus, e sua definitiva transferência para os gentios.

“Aconteceu que estando a orar, em particular…” (Lc 9, 18). Conforme nos relata São Lucas, toda a conversa narrada no Evangelho de hoje realizou- se depois de Jesus ter-Se recolhido e deixado “perder-Se”, com suas faculdades humanas, nas infinitudes de seu Pai eterno. Utilizou-Se desse meio infalível de ação, a prece, para conferir raízes e seiva imortais à obra que lançaria.

Segundo a Glosa, “querendo confirmar seus discípulos na Fé, o Salvador começa por afastar de seus espíritos as opiniões e os erros que outros poderiam ter infundido neles” 2; ou seja, convidando-os a terem clara consciência dos equívocos da opinião pública a respeito da identidade dEle, fortificava- lhes as convicções. É curioso o comentário de São João Crisóstomo sobre o caráter “sumamente malicioso” 3 do juízo emitido pelos escribas e fariseus a respeito do Divino Mestre, muito diferente daquele da opinião pública que, apesar de errôneo, não era movido por nenhuma malícia.

SAO PEDRO.JPG
Detalhe do quadro “Cristo dá as chaves a São Pedro”, de Vicente
Catena

Museu do Prado, Madri

Jesus não pergunta o que pensam os outros a respeito dEle, mas sim do Filho do Homem, “a fim de sondar a Fé dos Apóstolos e dar-lhes ocasião de dizer livremente o que sentiam, embora Ele não ultrapassasse os limites daquilo que poderia lhes sugerir sua santa Humanidade” 4. Por todos os conhecimentos que Lhe eram próprios, do divino ao experimental, Jesus sabia quais eram as opiniões que circulavam com relação à Sua figura, não necessitava, portanto, informar-Se; desejava, isto sim, levá-los a proclamar a verdade em contestação aos equívocos da opinião pública.

O povo não considerava Jesus como o Messias

Eles responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas”.

Os Apóstolos tinham exata noção do juízo que os “homens” de então faziam a propósito do Divino Mestre. Apesar de todas as evidências, dos milagres, da doutrina nova dotada de potência, etc., o povo não O considerava como o Messias tão esperado. Jesus surgia aos olhos de todos como a ressurreição ou o reaparecimento de anteriores profetas. Não encontravam nEle a eficaz magnificência do poder político, tão essencial para a realização do mirabolante sonho messiânico que os inebriava. Daí imaginarem-No o Batista ressurrecto, ou Elias, enquanto mais especificamente um precursor, ou até mesmo um Jeremias, lídimo defensor da nação teocrática (cf. 2 Mac 2, 1-12). Vêse claramente neste versículo como o espírito humano é inclinado ao erro e como facilmente se distancia dos verdadeiros prismas da salvação. Mas, pelo menos, aqueles seus contemporâneos ainda discerniam algo de grandioso em Jesus. Seria interessante nos perguntarmos como Ele é visto pela humanidade globalizada, cientificista e relativista de nossos dias.

Pedro O reconhece como Filho de Deus

Perguntou-lhes de novo: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”

Bem sublinha São João Crisóstomo a essência desta segunda pergunta 5. Sem refutar os erros de apreciação dos outros, Jesus quer ouvir dos próprios lábios de seus mais íntimos o juízo que dEle fazem. Para lhes tornar fácil a proclamação de Sua divindade, não usa aqui o título humilde de Filho do Homem.

Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”.

Pedro falava como intérprete da opinião de todos, por ser o mais fervoroso e o principal 6, embora não fosse a primeira vez que Jesus era reconhecido como Filho de Deus. Já Natanael (cf. Jo 1, 49), os Apóstolos após a tempestade no mar de Tiberíades (cf. Mt 14, 33) e o próprio Pedro (cf. Jo 6, 69) haviam externado essa convicção.

Sola fides! Aqui não há elemento algum emocional ou sensível, como em circunstâncias anteriores. Em meio às rochas frias de um ambiente ecológico, longe de acontecimentos arrebatadores e da agitação das turbas ou das ondas, só a voz da Fé se faz ouvir.

“Certíssimo argumento é que Pedro chamou a Cristo de Filho de Deus por natureza, quando O contrapôs a João, a Elias, a Jeremias e aos profetas, os quais foram – claro está – filhos de Deus por adoção” 7. Ademais, como comenta o mesmo Maldonado, Pedro dá a Deus o título de “vivo” para distingui- Lo dos deuses pagãos que são substâncias mortas. E, por fim, o artigo – como sói acontecer na língua grega – antecedendo o substantivo “filho”, designa “filho único” segundo a natureza, e não um entre vários.

A ciência humana não tem força para atingir a união hipostática

Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu”.

Ao felicitar seu Apóstolo, Jesus avalia a afirmação de Pedro a respeito de sua filiação e, portanto, de sua natureza divina e consubstancialidade com o Pai. Sobre este particular são unânimes os comentaristas. Era um costume judaico indicar a filiação da pessoa para ressaltar sua importância; neste caso concreto havia a intenção de manifestar o quanto “Cristo é tão naturalmente o Filho de Deus como Pedro é filho de Jonas, quer dizer, da mesma substância daquele que o engendrou”8.

As palavras de Pedro não são fruto de um raciocínio com base num simples conhecimento experimental. Não haviam sido poucas as curas logo após as quais os beneficiados conferiam com exclamações ao Salvador o título de “Filho de Davi” (cf. Mt 15, 22; Mc 10, 47, etc.), conhecido como um dos indicativos do Messias. Os próprios demônios, ao se encontrarem com Ele, proclamavam-No “o Santo de Deus” (Lc 4, 34), “o Filho de Deus” (Lc 4, 41), “Filho do Altíssimo” (Lc 8, 28; Mc 5, 7). Ele mesmo declarara ser “dono do sábado” (Mt 12, 8), e após a multiplicação dos pães a multidão queria aclamá-Lo “Rei” (Jo 6, 15). Assim como estas, muitas outras passagens poderiam facilmente nos indicar as profundas impressões produzidas por Jesus sobre seus discípulos9. Porém, em nenhuma ocasião anterior Pedro recebeu tal elogio saído dos lábios do Salvador. Nesta passagem, ele “é feliz porque teve o mérito de elevar seu olhar além do que é humano e, sem deter-se no que provinha da carne e do sangue, contemplou o Filho de Deus por um efeito da revelação divina e foi julgado digno de ser o primeiro a reconhecer a Divindade de Cristo”10.

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O fundamento da Igreja é Pedro e todos os seus sucessores,
os romanos pontífices, pois, caso contrário,
não perduraria a existência do edifício

Praça de São Pedro – Vaticano

Portanto, a afirmação de Pedro se realizou com base num discernimento penetrante, luzidio e abarcativo da natureza divina do Filho de Deus. A ciência, a genialidade ou qualquer outro dom humano não têm força suficiente para atingir os páramos da união hipostática realizada no Verbo Encarnado. É indispensável ser revelada pelo próprio Deus e aceita pelo homem. Mas o homem sem Fé aferra-se às suas próprias idéias, tradições e estudos, rejeitando, às vezes, as provas mais evidentes, como o são os milagres. Para este, Jesus não passa – e quando muito – de um sábio ou de um profeta. Haverá também aqueles que não O verão senão como “o filho do carpinteiro” (Mt 13, 55).

Essa é a nossa Fé ensinada pela Igreja, revelada pelo próprio Deus, anunciada pelo Filho, o enviado do Pai, e confirmada pelo Espírito Santo, enviado pelo Pai e pelo Filho. As verdades da Fé não são fruto de sistemas filosóficos, nem da elaboração de grandes sábios.

Jesus edifica Sua Igreja sobre Pedro

Também Eu te digo: “Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nada poderão contra ela”.

Foi indispensável e excelente ter afirmado Orígenes inspiradamente: “Nosso Senhor não precisa se é contra a pedra sobre a qual Cristo construiu sua Igreja ou se é contra a própria Igreja, construída sobre a pedra, que as portas do inferno não prevalecerão. Mas é evidente que elas não prevalecerão nem contra a pedra nem contra Igreja”11. Sim, porque para destruir essa pedra, ou seja, o Vigário de Jesus Cristo na Terra, muitos esforços e diligências de um considerável número de hereges têm sido empregados, na tentativa de abalar o sagrado edifício da Igreja a partir de seu fundamento, o qual é a alegria, consolo e triunfo dos verdadeiros católicos. Nesse “edificarei” se encontra o real anúncio do Reino de Jesus. O grande e divino desígnio começa a se delinear nesse nome, até então nunca usado: “minha Igreja”.

O plano de Jesus é proclamado sobre as rochas de Cesaréia, pelo próprio Filho de Deus, que Se apresenta como um divino arquiteto a erigir esse edifício indestrutível, grandioso e santíssimo, a sociedade espiritual, constituída por homens: militante na Terra, padecente no Purgatório, triunfante no Céu. O conjunto de todos aqueles que se unem debaixo da mesma Fé, nesta Terra, chama-se Igreja. Desta, o fundamento é Pedro e todos os seus sucessores, os romanos pontífices, pois, caso contrário, não perduraria a existência do edifício. Eis um ponto vital de nossa Fé: “o fato da Igreja estar edificada sobre o próprio Pedro” que aliás – “é admitido por todos os autores antigos, excepto os hereges”12.

Um só corpo e um só espírito em torno do Sucessor de Pedro

“Há na Igreja muitas pessoas constituídas em autoridade, às quais devemos estar unidos pela obediência. No entanto, toda essa variedade precisa reduzir- se a um prelado primeiro e supremo, em quem principalmente se concentre o principado universal sobre todos. Deve reduzir-se não só a Deus e a Cristo, mas também a Seu vigário; e isto não por estatuto humano, mas por estatuto divino, mediante o qual Cristo constituiu São Pedro príncipe dos Apóstolos, estabelecidos estes, por sua vez, como príncipes na Terra. E Cristo fez isso convenientissimamente, por assim o exigirem a ordem da justiça universal, a unidade da Igreja e a estabilidade, tanto dessa ordem, quanto dessa unidade” 13.

O “Tu es Petrus …” será aplicado a todos os escolhidos em conclave para se sentarem na Cátedra da Infalibilidade. Assim, morreu Pedro, mas não o Papa; e é em torno dele que a Igreja mantém a sua unidade.

“Fácil é a prova que confirma a Fé e compendia a verdade. O Senhor fala a São Pedro e lhe diz: ‘Eu te digo que tu és Pedro’ (Mt 16, 18). E noutro lugar, depois de Sua ressurreição: ‘Apascenta minhas ovelhas’ (Jo 21, 17). Somente sobre ele edifica Sua Igreja, e o encarrega de apascentar seu rebanho. E embora confira igual poder a todos os Apóstolos e lhes diga: ‘Como meu Pai Me enviou, assim Eu vos envio’ (Jo 20, 21), sem embargo, para manifestar a unidade, estabeleceu uma Cátedra, e com sua autoridade dispôs que a origem dessa unidade se fundamentasse em um. Por certo, todos os Apóstolos eram o mesmo que Pedro, adornados com a mesma participação de honra e poder; mas o princípio dimana da autoridade, e a Pedro foi dado o Primado para demonstrar que uma é a Igreja de Cristo e uma a Cátedra. Todos são pastores, mas há um só rebanho apascentado por todos os Apóstolos de comum acordo […].

“Pode ter Fé quem não crê nessa unidade da Igreja? Pode pensar que se encontra dentro da Igreja quem se opõe e resiste à Igreja, quem abandona a Cátedra de Pedro, sobre a qual ela está fundada? São Paulo também ensina o mesmo, e manifesta o mistério da unidade, ao dizer: ‘Há um só corpo e um só espírito, como também só uma esperança, a de vossa vocação. Só um Senhor, uma Fé, um batismo, um Deus’ (Ef 4, 4-6)” 14.

Jurisdição plena, suprema e universal

Se lermos os Atos dos Apóstolos, encontraremos Pedro exercendo esse supremo poder, ao falar em primeiro lugar nas reuniões dos Apóstolos, ao propor o que se deve fazer, inaugurando a missão apostólica, encerrando discussões com sua palavra, etc. E assim se têm perpetuado, ao longo de dois milênios, a jurisdição e o magistério dos Papas.

Todo sucessor de Pedro possui verdadeira jurisdição, pois tem o poder de promulgar leis, julgar e impor penas, de forma direta, em matéria espiritual, e indireta, no campo temporal, sempre que se apresente como necessária para obter bens espirituais. Essa jurisdição é plena: não há poder na Igreja que não resida no Papa. É universal, ou seja, todos os membros da Igreja (fiéis, sacerdotes e bispos) a ele estão submetidos. É, ademais, suprema: o Papa acima de todos, e ninguém acima dele. Até mesmo os Concílios Ecumênicos não podem se realizar sem ser por ele convocados e presididos.

Os próprios estatutos conciliares não o obrigam, tendo ele o poder de mudá-los ou de derrogá-los.

Magistério infalível

Outro tanto se pode afirmar sobre uma análoga e grande função de Pedro e de seus sucessores: o supremo Magistério que, como coluna que sustenta a Igreja, não pode equivocar-se. O Papa é infalível ao falar ex cathedra, ou seja, enquanto doutor de todos os cristãos, ao definir com autoridade apostólica doutrinas sobre Fé e moral, que devem ser admitidas por toda a Igreja universal.

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Papa Francisco

Aí está o motivo pelo qual “as portas do inferno” não poderão se sobrepor a um edifício construído sobre a pedra que é Pedro.

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“Doce Cristo na Terra”

“Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na Terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu”.

Cristo retornaria ao Pai, deixando nas mãos de Pedro as chaves de Sua Igreja. “Quem tem o uso legítimo e exclusivo das chaves de uma casa ou de uma cidade, este é o administrador, o intendente supremo que recebeu os poderes de seu senhor. A Igreja é o reino dos Céus neste mundo; a Igreja Triunfante será o reino definitivo e eterno dos Céus, prolongamento desta mesma Igreja da Terra, já purificada de toda impureza. Pedro terá poder de abrir e fechar a entrada nesta Igreja temporal e, conseqüentemente, na eterna” 15.

A cabeça desse corpo místico sempre será Cristo Jesus. Durante a História da humanidade, Ele será o chefe invisível, mas deixa entre nós um Pedro acessível, o “doce Cristo na Terra” – segundo expressão usada por Santa Catarina de Sena -, a quem todos devemos amar como bom pai, obedecer até às suas mais leves insinuações e conselhos, honrar como a um supremo monarca, rei de reis.

III – Nasce uma obra indestrutível

É de pasmar o desenrolar desse acontecimento histórico ocorrido na “região de Cesaréia de Filipe”. Um simples pescador da Betsaida proclama que o filho de um carpinteiro é realmente Filho de Deus, por natureza. Este, em seguida, anuncia que edificará uma obra indestrutível e deixará em mãos de seu administrador, com plenos poderes de jurisdição e magistério, “as chaves do Reino do Céu”. O ambiente que os cerca é pobre, árido mas com certa grandeza. Ali é plantado “o grão de mostarda”, do qual nasceriam as igrejas, as catedrais, as cerimônias, os vitrais, as universidades, os hospitais, os mártires, os confessores, as virgens, os doutores, os santos, enfim, a Santa Igreja Católica Apostólica e Romana.

Passaram-se dois milênios e, depois de tantas e catastróficas procelas, inabalável continua essa “nau de Pedro”, tendo Cristo, com poder absoluto, em seu centro. Nenhuma outra instituição resistiu à corrupção produzida pelos desvios morais ou pela perversão da razão e do egoísmo humano. Só a Igreja soube enfrentar as teorias caóticas, opondo-lhes a verdade eterna; arrefecer o egoísmo, a violência e a volúpia, utilizando as armas da caridade, justiça e santidade; pervadir e reformar os poderes despóticos e materialistas deste mundo, com a solene e desarmada influência de uma sábia, serena e maternal autoridade. Não podiam mãos meramente humanas erigir tão portentosa obra, só mesmo a virtude do próprio Deus seria capaz de conferir santidade e elevar à glória eterna homens concebidos no pecado.

São Paulo, o Apóstolo das Gentes

Nem a vida nem a morte podiam separar a Paulo do amor de Cristo. Por isso, dois mil anos depois do início de sua peregrinação terrena, a monumental obra apostólica do Apóstolo das Gentes continua viva e produzindo abundantes frutos para a Igreja

A vocação é um dom concedido liberalmente por Deus. E, por vezes, compraz-se o Senhor em chamar alguém aparentemente contrário à missão para a qual Ele o destina, a fim de manifestar com maior fulgor o poder de Sua Graça e a gratuidade do Seu chamado. Nesses casos, apesar dos aparentes paradoxos e à revelia do próprio interessado, cujas aspirações parecem entrar em choque com os desígnios Divinos, o Senhor vai preparando os caminhos, servindo-Se até dos próprios obstáculos para fazer cumprir sua Santa Vontade.

Jovem fariseu de Tarso

Nada parecia indicar que aquele jovenzinho de rosto vivo e inteligente, de nome Saulo, viesse a transformar-se num intrépido defensor de Jesus Cristo. Nascido em Tarso, na Cilícia, no seio de uma família judaica, o pequeno Saulo esteve, desde muito cedo, sujeito a duas fortes influências que pesariam grandemente na formação de seu caráter.

De um lado, as convicções religiosas que aprendera de seus pais não tardaram em fazer dele um autêntico fariseu, apegado às tradições, anelante pela chegada de um Messias vitorioso e libertador do povo eleito, então submetido ao jugo estrangeiro, e zeloso cumpridor da Lei até em suas mínimas prescrições.

Sao Paulo Apostolo.JPG
“São Paulo” – Praça de São Pedro (Vaticano)

De outro lado, o ambiente de sua cidade natal marcou profundamente a personalidade do jovem fariseu. Tarso – metrópole grega, súdita do Império Romano – tornarase, por sua localização privilegiada, um dos centros de comércio mais importantes daquele tempo. Regurgitava de gente, proveniente das nações mais diversas, cujas línguas e costumes misturavam-se sob o fator preponderante da cultura helênica. A Providência começava a preparar o jovem fariseu para sua futura missão de Apóstolo das Gentes.

Discípulo de Gamaliel

Apenas saído da adolescência, Saulo abandonou sua pátria para instalar-se na cidade-berço da religião de seus antepassados: Jerusalém. Ali tornou-se assíduo estudioso das Escrituras, instruído pelo douto Gamaliel, um dos mais destacados membros do Sinédrio. Também aqui podemos notar a mão de Deus intervindo em sua vida, pois o conhecimento dos Livros Sagrados, que adquiriu ao longo desses anos, servir-lhe-ia mais tarde para abrir seus horizontes a respeito da realidade messiânica de Jesus Cristo.

Entretanto, se Saulo progredia a passos rápidos nas doutrinas farisaicas, sob o olhar vigilante de Gamaliel, em nada pareceu assimilar a prudência que caracterizava seu mestre, sempre cauto em seus juízos e comedido nas apreciações. Pelo contrário, o jovem aluno dava mostras de um exaltado fanatismo religioso, como ele mesmo confessaria em sua epístola aos Gálatas: “Avantajava-me no judaísmo a muitos dos meus companheiros de idade e nação, extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1, 14).

No interior do discípulo de Gamaliel latejava um coração sincero, à procura da verdade. Buscava-a ardorosamente, desejoso de alcançar o pleno conhecimento dela. Não sabia que o termo desses seus anseios encontravase nAquele que, de Si mesmo, dissera: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo 14, 6).

Sim, Saulo não poderia chegar ao Pai, Suprema Verdade, sem passar por Jesus, o Mediador entre Deus e os homens. A afirmação proferida pelo Divino Mestre, momentos antes de Sua Paixão, ele a veria cumprir-se em sua vida, ainda que contra a sua vontade e apesar de suas relutâncias. E a ocasião se haveria de apresentar justamente quando as convicções de Saulo, chocadas ante o Cristianismo que surgia, haviam-se convertido em ódio profundo contra este.

Encontro de Saulo com o Cristianismo

Saulo passara alguns anos fora de Jerusalém, que coincidiram com o período da vida pública de Jesus. Quando voltou, verificou uma grande mudança. A Cidade Santa não era a mesma que ele conhecera em seus tempos de estudante: após a tragédia da Paixão, pesava sobre a consciência do povo e, sobretudo, das autoridades a figura ensangüentada da Vítima do Gólgota, que eles em vão procuravam lançar no esquecimento. E mais: os discípulos daquele Homem não temiam pregar sua doutrina no próprio Templo, proclamando que esse Jesus a quem haviam matado ressuscitara dos mortos (cf. At 3, 11ss.).

Tais acontecimentos não podiam deixar indiferente um fariseu convicto como Saulo. Não compreendia que aqueles simples galileus se levantassem impunemente contra a religião de seus antepassados, arrastando atrás de si tamanha multidão de seguidores. Sua irritação chegou ao auge quando, estando na sinagoga chamada dos Libertos, onde semanalmente se reuniam judeus de todas as comunidades da Diáspora, deparou- se com um jovem chamado Estêvão, que anunciava denodadamente as glórias do Crucificado.

Momentos mais tarde, tendo sido apresentado Estêvão ao tribunal do Grande Conselho, Saulo escutou atentamente o longo discurso no qual este demonstrou, por meio de exemplos históricos e de profecias, ser Jesus o Messias esperado. O jovem fariseu sentia-se incomodado: as palavras de Estêvão eram tão inspiradas e convincentes, que não se lhe podia resistir (Cf. At 6, 10); de outro lado, a imagem desse Jesus Nazareno, que ele não conhecera, parecia perseguilo, e constantemente via-se obrigado a ouvir falar a respeito, de tal modo os seus adeptos se espalhavam por Jerusalém. Duro lhe era recalcitrar contra o aguilhão (cf. At 26, 14). E, entretanto, Saulo recalcitrava!

Indignado diante da coragem de Estêvão, aprovou entusiasticamente sua morte (cf. At 8, 1) e considerou como uma honra a missão de custodiar os mantos dos apedrejadores, uma vez que sua idade não lhe permitia levantar a mão contra o condenado.

Surge o perseguidor dos cristãos

A partir daquele dia, o exaltado discípulo de Gamaliel não pôs mais freio à sua fúria. Acreditando “que devia fazer a maior oposição ao nome de Jesus de Nazaré” (At 26, 9), entrava nas casas dos fiéis e arrancava delas homens e mulheres para entregálos à prisão (cf. At 8, 3); chegava a maltratá-los para obrigá-los a blasfemar (cf. At 26, 11). Não contente com devastar apenas a Igreja de Jerusalém, foi apresentar-se ao príncipe dos sacerdotes, pedindo-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de prender, nessa cidade, todos os que se proclamassem seguidores da nova doutrina (cf. At 9, 2).

Mas, esse Jesus a quem ele teimava em perseguir (At 9, 5), viria a atravessar- Se de novo em seu caminho, desta vez de modo definitivo e eficaz.

No caminho de Damasco

Podemos imaginar a ânsia do jovem Saulo ao aproximar-se de Damasco, antegozando a hora de saciar sua cólera no cumprimento da missão que se propunha. Mas eis que, subitamente, uma luz fulgurante vinda do Céu envolveu-o e a seus companheiros, derrubando-o do cavalo. Ali, caído por terra e cegado pelo resplendor dos raios divinos, o orgulhoso fariseu não pôde mais resistir ao poder de Cristo e declarou-se vencido: “Senhor, que queres que eu faça?” (At 9, 6).

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O jovem sentia-se incomodado: as palavras de
Estêvão eram tão inspiradas, que não
se lhe podia resistir

“Martírio de Santo Estêvão – Juan de Juanes
Museu do Prado, Madri

De perseguidor que era, poucos instantes antes, passava a servo fiel, pronto para obedecer aos mandatos do Divino Perseguido. Quanta glória para o Crucificado! Por um simples toque de Sua graça, transformara em Seu Apóstolo um dos mais ferventes discípulos daqueles que haviam sido seus principais contendores, durante sua vida pública.

Ajudado por seus companheiros, Saulo ergueu-se do chão. Entretanto, mais do que levantar-se do solo, surgiu em sua alma “o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4, 24). O blasfemador de outrora permaneceria para sempre prostrado num amoroso reconhecimento de sua derrota: “Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o primeiro. Se encontrei misericórdia, foi para que em mim primeiro Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade e eu servisse de exemplo para todos os que, a seguir, nEle crerem, para a vida eterna” (I Tm 1, 15-16).

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Saulo converte-se em Paulo

Com a mesma radicalidade com que outrora se apegara ao judaísmo, Saulo abraçava agora a Igreja de Cristo. A graça respeitara a natureza, conservando as características próprias de sua personalidade que viriam mais tarde a contribuir na formação da escola paulina de vida espiritual. A partir desse momento, o Saulo convertido, o novo Paulo, só se moveria por um único ideal, que tomava todas as fímbrias de sua alma e dava verdadeiro sentido à sua existência: “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6, 14).

Doravante essa Cruz – na qual Paulo não apenas considerava os sofrimentos do Salvador, mas via, sobretudo, os esplendores da Ressurreição – seria para ele o rumo de sua vida, a luz dos seus passos, a fortaleza de sua virtude, o seu único motivo de glória. Esse amor, que num instante operara a sua transformação, o impelia agora a falar, a pregar, a percorrer os confins do mundo a fim de conquistar almas para Cristo, arrancando-lhe, do fundo do coração, este gemido: “Ai de mim se eu não evangelizar!” (I Cor 9, 16).

Por esse amor estava disposto a enfrentar todas as tribulações, a suportar os piores tormentos, fossem de ordem natural, como também os de ordem moral: “Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites, menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, a minha preocupação cotidiana, a solicitude por todas as igrejas!” (II Cor 11, 23-28).

Ele havia se proposto, antes de tudo, à glorificação de Jesus Cristo e da Sua Igreja, e isto constituía para ele o suco essencial, o norte de sua vida. A este respeito comenta São João Crisóstomo: “Cada dia ele subia mais alto e se tornava mais ardente, cada dia lutava com energia sempre nova contra os perigos que o ameaçavam. […] Realmente, no meio das insídias dos inimigos, conquistava contínuas vitórias, triunfando de todos os seus assaltos. E em toda parte, flagelado, coberto de injúrias e maldições, como se desfilasse num cortejo triunfal, erguendo numerosos troféus, gloriava-se e dava graças a Deus, dizendo: ‘Graças sejam dadas a Deus que nos fez sempre triunfar’ (II Cor 2, 14).”

Apóstolo das Gentes

Assim, pouco a pouco, por meio de suas viagens apostólicas e das numerosas cartas através das quais sustentava na Fé seus filhos espirituais, Paulo ia assentando os fundamentos da Esposa Mística de Cristo. Nem mesmo internamente havia de lhe faltar adversários: por vezes, entre os próprios cristãos, surgiam conceitos errôneos, como o de querer obrigar os pagãos convertidos a praticar os costumes da Lei Mosaica. A esse respeito Paulo levou sua ousadia até o ponto de discutir com o próprio Apóstolo Pedro, “resistindo-lhe francamente, porque era censurável” (Gl 2, 11).

Pedro aceitou com humildade o ponto de vista de Paulo e apressou-se em colocá-lo em prática. Mas os cristãos que haviam espalhado suas idéias pelas igrejas da Galácia não o imitaram, acrescentando ainda que a justificação provinha estritamente do cumprimento da Lei. Nada poderia ser tão nocivo para a Igreja nascente do que tais enganos, e Paulo logo o percebeu. Decidiu deixar por escrito toda a doutrina sobre esse ponto, e o fez com tanta segurança e clareza que deduz-se têla recebido dos lábios do próprio Jesus.

Assim, a epístola dirigida aos Gálatas é um escrito polêmico, sem rece

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O orgulhoso fariseu não pôde mais resistir ao poder de Cristo
e declarou-se vencido: “Senhor, que queres que eu faça?”

“A conversão de São Paulo”, por Murillo – Museu do Prado, Madri

ios de apresentar a verdade tal como ela é: “Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi apresentada a imagem de Jesus Cristo crucificado? […] Todos os que se apóiam nas práticas legais estão sob um regime de maldição” (Gl 3, 1.10). E pouco antes, afirmava: “Nós cremos em Jesus Cristo, e tiramos assim a nossa justificação da fé em Cristo, e não pela prática da lei” (Gl 2, 16).

São Paulo e os gregos

Se Paulo teve de enfrentar oposições dentro de seu próprio povo, viuse também contestado pelos gregos, que apresentavam objeções de teor completamente diferente, mas não menos perigosas. A Grécia, principal centro da cultura naqueles tempos, orgulhava-se da fama de seus pensadores e de ser o berço da filosofia. Ora, a palavra e a pregação trazidas por Paulo, “longe estavam da eloqüência persuasiva da sabedoria” (I Cor 2, 4), como ele mesmo afirmava.

Assim, não raras vezes tornavase ele alvo do desprezo ou objeto de vergonha para os convertidos. Ele pouco se importava com as ofensas feitas à sua pessoa, mas receava que seus discípulos fizessem eco a idéias tão vãs ou viessem a sucumbir, por medo das humilhações. Por isso, escrevia ele aos fiéis de Corinto, cidade onde principalmente essas falsas doutrinas haviam encontrado aceitação: “A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que foram salvos, para nós, é uma força divina” (I Cor 1, 18).

Não era esse, porém, o pior dos obstáculos encontrados por Paulo na Grécia. Afundados na devassidão e na desordem moral, os gregos haviam elaborado, ao longo dos tempos, uma justificativa para os seus maus costumes, negando a ressurreição dos mortos. Alguns mesmo, como Epicuro de Samos (†270 a.C.), chegaram a afirmar que a alma humana é material e mortal.

No próprio Evangelho percebemos lampejos dessa candente temática quando os saduceus – que, por influência helênica, não acreditavam na ressurreição – se aproximaram de Jesus para pô-lo a prova, mediante uma pergunta capciosa (cf. Lc 20, 27-39). A discussão, como vemos, vinha de longa data e se erguia como principal empecilho para o desenvolvimento do apostolado paulino.

Talvez Paulo, em seus tempos de fervor fariseu, já tivera de enfrentar os mesmos saduceus a esse propósito. gora, porém, como cristão, possuía o argumento da Ressurreição de Cristo e contava com o poderoso auxílio da graça.

Grande Apóstolo da Ressurreição

As dúvidas expostas pelos gregos, quando não a oposição aberta, servirlhe- iam de estímulo para aprofundarse mais na doutrina da ressurreição e deixá-la explicitada para os séculos futuros. Assim escreveu ele aos coríntios: “Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição? Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. […] Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima. Mas não! Cristo ressuscitou dentre os mortos como primícias dos que morreram!” (I Cor 15, 12-14; 19-20).

Custoso era, para aqueles gregos de vida desregrada, ter de assimilar esses princípios. Aceitando a ressurreição da carne, ver-se-iam forçosamente convidados a uma mudança de costumes e a abraçarem um modo de pensar e de comportar-se condizente com essa esperança. Mas até mesmo suas relutâncias contribuiriam para o bem, como afirma o próprio Paulo: “Oportet et haereses inter vos esse” (I Cor 11, 19) – é necessário que haja partidos, ou heresias, entre vós. Impelido pelas circunstâncias, Paulo se transforma no grande Apóstolo da Ressurreição.

Cordeiro e leão ao mesmo tempo

Nem tudo, porém, eram combates para o incansável Paulo. Se face ao erro e à falta de fé ele mostrava todo o seu ardor combativo e sua intransigência, em relação aos bons deixava entrever um fundo de alma extremamente afetuoso e compassivo, ordenado segundo a caridade de Cristo. Nesta admirável conjugação de virtudes, na aparência opostas, Paulo assemelhava-se ao Divino Mestre, sempre disposto a perdoar ou pronto a repreender, a ser

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Algemado, Paulo é levado de Jerusalém a Roma. Durante a viagem,
não perdia a oportunidade de anunciar o Evangelho em
todos os lugares por onde passava.

Cordeiro e Leão ao mesmo tempo.

Em sua carta aos fiéis de Filipos, que se inquietavam por seus sofrimentos e suas necessidades, assim escreve: “Deus me é testemunha da ternura que vos consagro a todos, pelo entranhado amor de Jesus Cristo!” (Fil 1, 8). E ainda, aos mesmos gálatas, que antes invectivara a respeito de seus desvios, escrevia mais adiante: “Filhinhos meus, por quem de novo sinto dores de parto, até que Cristo seja formado em vós, quem me dera estar agora convosco” (Gl 4, 19).

São Paulo, segundo Bossuet

Difícil é exaltar o Apóstolo das Gentes em espaço tão exíguo. A pluralidade estonteante de seus feitos, o poder de sua voz e o alcance de sua ação apostólica, cujos frutos até hoje alimentam a Igreja, deixam em embaraço qualquer escritor. Por isso recorremos à incomparável eloqüência de Bossuet, que assim descreveu o ímpeto da pregação do Apóstolo:

“Este homem, ignorante na arte do bem-falar, de locução rude e de acento estrangeiro, chegará à esmerada Grécia, mãe de filósofos e oradores, e, apesar da resistência mundana, fundará mais igrejas do que Platão teve discípulos. Pregará a Jesus em Atenas, e o mais sábio dos oradores passará do Areópago para a escola deste bárbaro. Continuará mais adiante em suas conquistas, e abaterá aos pés do Senhor a majestade das águias romanas na pessoa de um prócônsul, e fará tremer em seus tribunais os juízes diante dos quais fora citado. Roma ouvirá sua voz, e um dia aquela velha mestra sentir-se-á mais honrada com uma só carta do estilo bárbaro de São Paulo, dirigida a seus cidadãos, do que por todas as famosas arengas que outro dia escutara de Cícero.”

A prisão em Jerusalém

Sim, Roma, haveria de ouvir sua pregação e suas ruas calçadas de grandes pedras seriam pisadas pelos pés do Apóstolo. Esses pés, entretanto, arrastariam pesadas correntes que lhe tolheriam a liberdade dos movimentos. Acusado pelo ódio de seus concidadãos, por causa de sua fidelidade a Cristo, Paulo fora entregue à justiça romana. Se seu corpo suportava as cadeias e os grilhões, sua alma sentia pesar sobre si o suave jugo de Cristo. Prisioneiro do Espírito (cf. At 20, 22), Paulo recebera, à noite, esta revelação: “Coragem! Deste testemunho de Mim em Jerusalém, assim importa também que o dês em Roma” (At 23, 11).

Obediente à inspiração recebida, Paulo exclamará no tribunal do governador Festo: “Estou perante o tribunal de César. É lá que devo ser julgado. […] Apelo para César!” (At 25, 10-11). Querendo desfazer-se de caso tão complicado, que envolvia assuntos da religião judaica, Festo apressou- se em satisfazer o desejo do preso, mandando-o para Roma, algemado e sob a guarda do centurião Júlio.

O primeiro período de pregação em Roma

Durante a viagem, Paulo não perdia a oportunidade de anunciar o Evangelho em todos os lugares por onde passava. Após várias dificuldades ao longo da travessia e enfrentar um naufrágio, fez escala em Siracusa, na Sicília, e dali foi conduzido a Reggio (cf. At 28, 12-13).

Uma vez chegado à capital do Império e instalado em prisão domiciliar, Paulo realizava um anseio que havia tempos acalentava no coração, como ele mesmo o expressara aos cristãos de Roma: “Daí o ardente desejo que eu sinto de vos anunciar o Evangelho também a vós, que habitais em Roma” (Rm 1, 15). Dois anos haveria de durar seu doloroso cativeiro, mas ele, como afirma São João Crisóstomo, “considerava como brinquedo de criança os mil suplícios, os tormentos e a própria morte, desde que pudesse sofrer alguma coisa por Cristo”. Aproveitou o tempo para pregar o Reino de Deus (cf. At 28, 31), escrever numerosas cartas às comunidades da Grécia e da Ásia, as chamadas Epístolas do cativeiro.

Mas a Providência pedia de seu Apóstolo ainda mais alguns anos de abnegação e fadigas, a ele que suspirava pela morte, considerando-a um lucro para ganhar a Cristo (cf. Fl 1, 21).

Novas viagens e retorno à capital do Império

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O sublime imitador de Jesus Cristo sela seu
testemunho com o próprio sangue.

“Martírio de São Paulo” – Paróquia de Maroggia (Itália)

Libertado por um decreto jurídico, Paulo ainda visitaria Creta, Espanha e novamente as conhecidas igrejas da Ásia Menor, pelas quais tanto se dedicara. Afinal voltaria a Roma para onde se sentia atraído, talvez por um secreto pressentimento da proximidade da “coroa da justiça” (II Tm 4, 8) que ali o aguardava.

Sobre o trono dos césares sentavase então o terrível Nero, cuja crueldade, aliada a um orgulho patológico, já fizera sua fama. Era conhecido o ódio que votava aos cristãos, e Paulo não passou despercebido à perspicácia dos espiões do tirano.

Acusado como chefe da seita, foi preso pela polícia imperial e lançado no Cárcere Mamertino, onde, segundo uma antiga tradição, já se encontrava Pedro. Nesse escuro subterrâneo, de estreitas dimensões e teto baixo, o Pontífice da Igreja de Cristo e o Apóstolo das Gentes estiveram acorrentados a uma mesma coluna. Assim, unidos numa mesma Fé e esperança, estavam ambos amarrados pelas cadeias do amor ao Rochedo, que é Cristo (cf. I Cor 10, 4).

O martírio de São Paulo

Chegou por fim o dia em que Paulo deveria “ser imolado” (II Tm 4, 6). Para ele a morte pouco significava, pois já se achava morto para o pecado e vivo para Deus (cf. Rm 6, 11). Uma entranhada e exclusiva união o ligavam a seu Senhor. Não era ele mesmo que vivia, mas sim Cristo quem nele habitava (cf. Gl 2, 20) e operava.

Condenado à morte, Paulo, por ser cidadão romano, não podia, como Pedro, sofrer a pena ignominiosa da crucifixão, mas sim a da decapitação, e esta devia dar-se fora dos muros da cidade. Conduzido por um grupo de soldados, o Apóstolo arrastou seus pesados grilhões ao longo da Via Ostiense e, depois, pela Via Laurentina, até alcançar um distante vale, conhecido pelo nome de Aquæ Salviæ.

Ali, entre a vegetação daquela região pantanosa, o sublime imitador de Jesus Cristo selava seu testemunho com o próprio sangue. Sua cabeça, ao cair no solo sob o golpe fatal da espada, saltou três vezes, fazendo brotar em cada um dos pontos uma fonte de água borbulhante. Este fato, se não comprovado pela História, baseia- se numa piedosa tradição confirmada pelo nome de Tre Fontane, que ostenta o mosteiro trapista construído naquele local.

“Combati o bom combate”

Paulo morrera, mas sua monumental obra apostólica, fundamentada na caridade que consumira sua vida, continuava viva e produziria ao longo dos tempos abundantes frutos para a Igreja. Até o último alento, sua vida não fora senão uma grande luta. Luta de entusiasmo e de entrega, de desprendimento e de heroísmo; luta para levar o Evangelho a todas as gentes, confiando sempre na benevolência de Cristo.

Os piores vagalhões da vida não puderam atingir o seu tabernáculo interior. Sua firmeza, semelhante à imobilidade de um rochedo batido pelas ondas do mar, mantinhase inalterável em meio às maiores angústias e agonias, certo de que nem a vida nem a morte o poderiam separar do amor de Cristo (cf. Rm 8, 38-39).

E uma vez concluído o combate, percorrida toda a sua carreira e chegado ao termo de sua peregrinação terrena (cf. II Tm 4, 7), o Apóstolo apareceu ante o olhar admirado da humanidade, em toda a sua estatura de gigante da Fé, transmitindo para os séculos futuros esta mensagem: “Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade. A caridade jamais acabará!” (I Cor 13, 13.8). (Revista Arautos do Evangelho, Jun/2008, n. 78 e Jul/2008, n. 79)

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