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O chamado de São Pio V

No mês de outubro de 1513, um ancião e um jovem, ambos frades dominicanos, ao viajarem pela alta Itália, encontraram um pastorzinho de dez anos, brigando com uma cabra mal comportada. Tendo visto os dois religiosos, deixou tudo e correu até eles para oscular-lhes as mãos.

– Como te chamas? – Pergunta o padre prior.
– Miguel.
– Tens um grande padroeiro, meu filho! Sabes quem é ele? Será, por acaso, um ilustre Bispo?
– Oh! Não, Padre. Meu padroeiro, São Miguel, é um Arcanjo, o chefe dos Anjos! Quando Lúcifer, o primeiro dos espíritos celestes, se revoltou, arrastando consigo muitos dos anjos, São Miguel exclamou: “Quem como Deus?” E comandando os anjos bons, ele expulsou os maus do paraíso, precipitando-os no inferno.
– Foi o pároco quem te ensinou tudo isso?
– Não… Infelizmente, ele é muito doente e já nem pode mais pregar.
– Onde, e n t ã o , aprendeste essas coisas? Pois ainda não deves saber ler.
– Sim, Padre, eu sei! Minha mãe me faz ler todas as tardes, depois de recolher as ovelhas e as cabras no estábulo. Ela também me conta histórias. Ela mesma me ensinou esta, de São Miguel. Eu sei até escrever!
– Tua mãe é muito sábia! Como se chama ela?
– Assim como vosso santo fundador, ela chama-se Domenica.
– Ah! Tu conheces São Domingos e seus religiosos?
– Um padre que pregou em nossa igreja me deu este terço e ensinou-me a rezá-lo.
– E tu o recitas todos os dias?
– Sim, eu rezo meditando os Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos. E esse padre ainda prometeu que se eu perseverasse e conseguisse aprender latim, eu me tornaria um padre pregador como ele.
– Então vais aprender latim?
– Oh Não! Nossa senhora não o quer, pois meu pai é pobre e eu devo ajudá-lo. Adeus, Padre! Eu preciso ir, pois meu rebanho se aproveita da minha ausência…

Esse encontro deu aos dois religiosos a idéia de estabelecer, próximo de seu mosteiro de Voghera, o que hoje chamamos Escola Apostólica: Um asilo para os meninos pobres, cuja inteligência e piedade podiam trazer-lhe a esperança de um futuro melhor.
Na primavera seguinte, essa escola foi fundada. O mais novo dos dois religiosos foi ter com o adoentado pároco local.

– Conheceis – perguntou ele – um jovem pastor de vossa paróquia, chamado Miguel?
– Ele é minha criança mais querida – respondeu o ancião – e sua mãe é uma senhora que comunga todas as vezes que eu posso celebrar a Missa. Mas, por que me perguntais a respeito dele?
– Eu o conheço um pouco, e queria fazer dele um frade pregador.
– Isso não me parece possível, pois seus pais são pobres exilados, vindos de Bolonha, e o jovem Miguel é seu único sustento. Ele não é chamado a ser frade!
– Deixe-me dizer: Estou cheio de esperança quanto a esse menino. Na vinda eu rezei o Rosário por ele e espero conquistar o bom Miguel!
– Assim sendo, ide vós mesmo falar com a família Ghisleri, e entendei-vos com os pais dele!

Após terem conversado, o pai de Miguel Ghisleri consentiu ao pedido desse bom religioso.
Foi então o jovem Miguel estudar nos Dominicanos de Voghera. Aos 15 anos recebeu o hábito, e aos 23 foi ordenado sacerdote. Lecionou durante 16 anos, tornou-se mestre de noviços e em seguida prior de diversas casas da ordem.

Em 1556, o Papa Paulo IV nomeou-o bispo de Nepi e Sutri e, no ano seguinte, criou-o Cardeal. Em 1565, faleceu Pio IV, sucessor de Paulo IV e, no conclave, para eleição do novo papa, São Carlos Borromeu, Cardeal Arcebispo de Milão, trabalhou para que os votos favorecessem ao Cardeal Ghisleri.

De fato, foi eleito pontífice, sob o nome de Pio V, e governou a Igreja durante 7 anos com sabedoria e glória. Foi graças às suas orações e esforços que a os católicos obtiveram vitória contra os turcos, na famosa batalha naval de Lepanto, em 7 de outubro de 1571, a qual salvou o  Cristinianismo de vir a naufragar perante a maré montante turca. Depois da sua morte, a fama das virtudes heróicas e dos milagres que realizava, fizeram com que ele merecesse ser posto entre o número dos santos e sua memória é comemorada no dia 5 de maio.

Assim, aquele que quando criança fora fiel no cuidado de tão pobre rebanho, tornou-se pastor de toda a Igreja. Tendo sido dedicado em guardar suas ovelhas de todo o perigo, na infância, quando ancião soube também defender seu rebanho ameaçado por ferozes inimigos.

Por intercessão e pelo exemplo de São Pio V, sejamos também nós fiéis no pouco, para o sermos também nas grandes “lepantos” que teremos durante a nossa vida.

Texto: Renan Freitas

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A mais antiga oração à Santíssima Virgem

Em anterior post, tivemos a oportunidade de deter-nos sobre o que foi tratado, no Curso de Férias, acerca da devoção à Santíssima Virgem. Conforme prometido, queremos continuar a transmitir-lhes outro ponto importantíssimo dessa devoção: o Santo Rosário.

Apesar de alguns historiadores considerarem o Sub tuum presidium como a primeira oração composta a Nossa Senhora – devido à recente descoberta de um documento do séc. III –, partindo da Fé nas Sagradas Escrituras, verdadeiramente podemos considerar como a mais antiga oração aquela que foi recitada, por primeira vez, pela voz de um anjo: “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco” (Lc 1, 42); e logo depois, o cântico de Santa Isabel: “Bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre(Lc 1, 42). A junção dessas duas saudações constituiu uma única oração, que, no séc. IV, já era habitualmente empregada desse modo, inclusive dentro da liturgia oriental, herdeira do apóstolo São Tiago, após o rito da Consagração.[1]

Entretanto, a piedade dos fiéis não se sentia satisfeita. Como corolário desse ato de louvor, era necessário fazer um de súplica. Por isso, paulatinamente, foi sendo acrescentada uma segunda parte: “Santa Maria, Mãe de Deus; rogai por nós pecadores; agora e na hora de nossa morte”. Estava assim composta a “Ave Maria” como a conhecemos até hoje, a qual somente foi introduzida na liturgia do Ocidente, de maneira oficial, pelo Papa São Pio V em 1568, com a publicação do Breviário Romano. Mas, desde longa data, já era uma prece comum na Igreja Católica.

O Santo Rosário O fato de as palavras da Ave Maria serem tão gratas à Santíssima Virgem, impeliu os cristãos a multiplicarem o número de vezes da sua recitação, na esperança de se tornarem, como que, um eco daquelas saudações evangélicas que tanto A encheram de alegria. Assim, à imitação do devocionário mais famoso de todos os tempos, o Livro dos Salmos, criou-se então o costume de rezar um total de 150 Ave Marias,[2] as quais depois foram divididas em dezenas, encabeçadas pelo Pai Nosso, meditando-se em cada uma delas um dos principais mistérios da nossa Redenção. Assim nasceu o Santo Rosário, o qual é uma “síntese de todo o Evangelho”.[3] Ele é um tesouro de espiritualidade, Teologia e Doutrina Católica.

No Curso de Férias, as excelências desta oração foram ensinadas por meio de um impressionante teatro sobre São Domingos de Gusmão. No séc. XIII, o sul da França foi assolado pela heresia catara que pervertia muitos católicos. O Divino Espírito Santo suscitou, então, esse homem providencial, fundador dos Dominicanos, para fazer frente a semelhantes erros. Quando se encontrava numa das principais cidades cátaras, desencadeou-se uma tempestade terrível, a qual parecia que ia dizimar a população. Todo o povo apavorado correu para a catedral à procura de refúgio. Ao cruzarem o limiar da porta, os sinos do templo começaram a repicar sozinhos e uma imagem de Nossa Senhora, de forma miraculosa, abaixou seu braço, apontando com o indicador na direção dos presentes.

Todos, sem saber como aplacar a cólera divina, acorreram a São Domingos pedindo-lhe que intercedesse perante Deus para obter o perdão dos pecados deles, causa de tão terrível castigo. Vendo neles um arrependimento sincero, o Santo tomou o seu Rosário, que há pouco recebera das mãos da própria Bem-aventurada Virgem, e asseverou-lhes ser esse o meio revelado pela bondade maternal de Maria, a fim de aplacar a infinita justiça de seu Filho. Tão só desfiavam as primeiras contas, o apocalíptico temporal acalmou-se e, terminada a oração, os vitrais da catedral começavam a ser iluminados por alvissareiros raios solares. Nesse momento, o terrível e santo dedo da imagem que os apontava ergueu-se para assinalar novamente na direção do Céu.

Esse belo fato, até com os seus mínimos detalhes (trovões, sinos e dedo que aponta), foi encenado magnificamente. Mas, junto a ele, foi apresentado também outro episódio da vida de São Domingos no qual ele exorcizava, através da oração do Rosário, um homem possuído por quinze mil demônios. No final do exorcismo, o santo obrigou os espíritos maus a confessarem quem era a pessoa que mais lhes causava desgostos e arruinava seus planos. Então, os demônios, depois de muito esbravejarem, tiveram de pronunciar o santíssimo nome de Nossa Senhora, para logo depois fugirem espavoridos.

Esse foi mais um abençoado dia de Curso de Férias!

TEXTO: Sebastián Correa Velásquez

FOTOS: Thiago Tamura Nogueira e Alejandro López Vergara


[1] Cf. Reus, João Batista. Curso de Liturgia. 3 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1952, p. 54; Messori. Vittorio. Hipótesis sobre María: hechos, indicios, enigmas. Tradução de Lourdes Vásquez. Madrid: Libroslibres, 2007, p. 266.

[2] O Beato João Paulo II acrescentou mais cinquenta Ave Marias a esse número, ao incluir no Santo Rosário os mistérios Luminosos.

[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 917.

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