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Conheça aqui essa residência dos Arautos do Evangelho

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Testemunha da Ressurreição

Cristo morreu cerca das três horas da tarde e, como era véspera de Sábado, a partir do pôr-do-sol, não se podia fazer nenhum tipo de trabalho, nem sequer sepultar um morto. Por isso, não houve tempo de efetuar os ritos fúnebres tradicionais dos hebreus. Assim o sacratíssimo Corpo foi cuidadosamente envolto num grande pano, colocado num sepulcro, propriedade de José de Arimatéia, que foi fechado com uma grande pedra.

Ao despontar a aurora de Domingo, as santas mulheres foram ao túmulo para ungir o Corpo do Senhor. Qual não foi a sua surpresa ao encontrarem o sepulcro aberto, vazio e um Anjo que lhes anunciava a boa nova! Foram, pois, avisar imediatamente os Apóstolos que o Mestre não estava mais naquele lugar, pois, como disse o mensageiro divino, Ele ressuscitou!

São Pedro correu para o local, acompanhado por São João. Este último, sendo mais jovem, chegou primeiro e, embora aguardasse pelo outro discípulo para entrarem juntos, viu dentro do jazigo os panos que envolviam o Corpo do Mestre. Ao cruzarem o limiar do Sepulcro, como diz o Evangelho, os dois viram os panos e o sudário e então creram (Cf. Jo. 20, 3-8).

Sem dúvida, os primeiros cristãos guardaram com toda a veneração essas sagradas relíquias encontradas pelos Apóstolos.

O Santo Sudário é um lençol de puro linho, com as dimensões de 4,36 m. x 1,10 m., cuja trama apresenta, em tênue cor amarela, as marcas deixadas pelo Corpo Santíssimo de Nosso Senhor morto.

Existe um primeiro indício histórico da conservação do Santo Sudário na Igreja de Nossa Senhora de Blaquerna, em Constantinopla, onde, durante muitos séculos, fora venerado. Entretanto não se sabe exatamente a data em que foi levado para lá. O dado indicativo mais exponencial que se conhece é uma moeda antiquíssima do tempo do Imperador Justiniano II (685-695), na qual está cunhada a efígie de Nosso Senhor – costume mantido por vários imperadores bizantinos – reproduzindo os mesmos traços da Sagrada Face estampada no Sudário.

Os especialistas enumeram cerca de vinte traços da Santa Face estampada no Sudário, que podem ser encontrados em inúmeros retratos de Nosso Senhor, na arte bizantina, desde o século V. O Santo Sudário era, portanto, considerado como o modelo mais seguro, precioso e sugestivo para os artistas do tempo. Após a quarta cruzada, em 1204, que terminou com a tomada de Constantinopla, o Santo Sudário desapareceu. Só em 1357 tem-se notícia exata do seu paradeiro: estava sendo venerado em Lirey, na França, numa igreja construída para esse fim por uma família da nobreza que, posteriormente, doou o Sudário para a casa dos duques de Sabóia. Estes receberam a preciosa relíquia em 1453 e em 1578 foi transportada para Turim, onde permanece até hoje.

Em 1898 o Santo Sudário foi, pela primeira vez, fotografado por um importante advogado. Tirou duas chapas e quis pessoalmente revelá-las em seu laboratório. Ao revelar as fotos, apareceu nos negativos o majestoso semblante de Nosso Senhor! Na realidade, o que se vê no Sudário original é uma imagem em forma de “negativo fotográfico” e, ao ser fotografo, como que esse negativo foi revelado, podendo-se ver reproduzidas, com a maior perfeição e nos mínimos detalhes, os traços dessa divina Face e as marcas dos sofrimentos que padeceu durante a Paixão.

O que mais impressiona nessa imagem é a sublime e majestosa serenidade da Santa Face do Salvador. Que artista teria sido capaz de pintar em negativo uma imagem que, uma vez revelada, mostrasse tal riqueza, tanto nos detalhes quanto na expressão?

Conceituados cientistas puderam analisar rigurosamente a preciosa relíquia. Com a ajuda de equipamentos altamente sofisticados, após três anos de pesquisas que envolveram áreas como ótica, matemática, física, química, biologia e medicina, esses estudiosos chegaram a várias conclusões que vieram a corrobar cientificamente o que a Fé multisecular dos cristãos já cria. Entre essas conclusões destacamos estas:

  • A imagem não é obra de nenhum artista ou falsificador.
  • A imagem apresenta caráter tridimensional, o que significa ter sido ela formada pelo Corpo que estava envolto no Sudário; que tal Corpo não pesava no tecido, portanto não estava sujeito à lei da gravidade; e que todo ele era foco de uma radiação muito intensa, o que acabou por marcar o tecido.
  • Foi encontrado sangue humano no tecido e restos de terra na planta dos pés, comprovando que o homem do sudário andou descalço pouco antes de ser morto.
  • Por fim, e a principal, nada foi observado que em algo pudesse contradizer as narrativas dos Santos Evangelhos.

Ao longo das pesquisas uma pergunta pairava constantemente na mente dos cientistas: como se formou a imagem, qual foi esse misterioso processo, o que aconteceu? Mas, depois de todas essas análises, tiveram que reconhecer que não era possível dar uma resposta científica! Mas o que a ciência não consegue esclarecer, só a Fé o pode fazer: “Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo. E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela. Resplandecia como relâmpago e suas vestes eram brancas como a neve. Vendo isto, os guardas pensaram que morreriam de pavor. Mas o anjo disse às mulheres: Não temais! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Não está aqui: ressuscitou como disse. Vinde e vede o lugar em que ele repousou” (Mt 28, 1-6).

Texto: José Neves

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Símbolo do Bom Pastor

A multissecular história da Santa Igreja Católica sempre proporciona aos católicos a possibilidade de aprender, dia-a-dia, algo novo e maravilhoso. Basta simplesmente girar esse rico “caleidoscópio” doutrinário e consuetudinário para observar aspectos sempre novos e extraordinários. Desta vez, detenhamo-nos sobre uma das mais antigas e características insígnias do Santo Padre: o pálio, uma faixa de lã branca, com poucos centímetros de largura, ornada com algumas cruzes negras e três belos alfinetes, que é posta nos ombros de certas autoridades eclesiásticas.

Seu aparecimento na Igreja do Ocidente remonta ao séc. IV, no curto pontificado do Papa São Marcos (janeiro a outubro de 336). Durante muitos séculos, seu uso ficou reservado ao Sumo Pontífice, como símbolo do supremo cargo de Bispo de Roma e sucessor de São Pedro. Com o decorrer do tempo, entretanto, ele passou a ser usado também por alguns Bispos. E a partir do séc. IX, tornou-se ornamento litúrgico característico dos arcebispos metropolitanos.

O pálio é rico em simbolismos teológicos e litúrgicos. No início, apenas envolvia o pescoço e suas duas faixas com cruzes negras desciam pelos ombros, significando a ovelha que é carregada pelo Bom Pastor. No séc. IX, porém, as duas faixas juntaram-se no centro do peito, as cruzes passaram a ser vermelhas, recordando as chagas de Cristo, e foram acrescentados três grandes alfinetes negros, representando os cravos com os quais Ele foi pregado na Cruz.

Em meados do séc. XII, as dimensões do pálio foram um tanto diminuídas e as cores das cruzes voltaram a ser negras, como permanecem na atualidade. No início do pontificado de Bento XVI foi idealizada uma forma nova de pálio para uso exclusivo do Papa, que se assemelha ao modelo romano antigo.

Em razão de tão alto valor simbólico, compreende-se que se tome especial cuidado para a confecção do pálio. Assim, todos os anos, são selecionados dois carneiros entre os mais belos e saudáveis do Agro Romano, os quais são abençoados pelo Papa em 21 de janeiro, dia de Santa Inês (em latim Agnes; agnus: cordeiro), e são levados para uma dependência da Basílica de Santa Cecília, no Trastevere, onde religiosas beneditinas cuidam deles com esmero. Em dado momento, elas tosquiam os cordeiros e com a lã tecem os pálios.

Por fim, são entregues ao Papa para serem depositados num escrínio junto ao túmulo de São Pedro, na gruta vaticana. Ali permanecerão durante um ano, tornando-se uma relíquia indireta do apóstolo São Pedro, pontífice que, por primeira vez, carregou em seus ombros, a Santa Igreja.

Texto: Fábio Resende

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A Obediência I

Deus é a autoridade máxima do Universo e, portanto, não deve obediência a nenhum outro ser inteligente. Sem embargo, nem Ele quis privar-se da prática dessa admirável virtude: o Verbo eterno, ao ocultar-se sob os véus de uma carne mortal, tornou-se dependente, sob certo aspecto, das outras duas Pessoas Trinitárias. Vindo à Terra, deixou-nos seu comovedor exemplo ao sujeitar-se à Santíssima Virgem e a São José, como sinal da sua obediência a Deus Pai,[i] a qual atingiria o ápice nas vésperas da Paixão: “Pai, se é de teu agrado, afasta de Mim este cálice! Porém, não se faça a minha vontade, mas sim a tua” (Lc 22, 42).

É sabido que, para nos redimir, teria bastado apenas uma gota de seu preciosíssimo Sangue. Entretanto, o amor divino excedia qualquer limite: no seio da Trindade fora decretada a consumação completa do holocausto do Filho; a Cruz deveria ser hasteada sobre o Calvário e carregar o Cordeiro imolado que assumiu sobre Si todas as nossas iniquidades. Como qualificar esse ato de obediência? Somente um adjetivo parece descrevê-lo por inteiro: divino. Cristo, “tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 8), submeteu-se inclusive às autoridades que o condenaram, embora tivesse pleno poder para defender-se, como asseverou a São Pedro: “Crês tu que não posso invocar meu Pai, e Ele não me enviaria imediatamente mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26, 53).

Quem ousaria, pois, ao abraçar os conselhos evangélicos, procurar outro modelo que não seja Cristo? Contudo, alguém pode dizer: “Eu me consagrei a Deus e a Ele devo obediência, mas como hei de conhecer a sua vontade, se não O vejo?”. A resposta é muito simples: “a obediência do religioso descansa sobre o fundamento sobrenatural da Fé, a qual reconhece em todo superior legítimo, qualquer que ele seja, o lugar-tenente ou vigário de Cristo”.[ii] Acatando as ordens recebidas, quem obedece pode estar certo de cumprir a vontade divina. A objeção, porém, continua: “E quando o superior cai em erro, o Ser infinitamente perfeito também me manda errar? Será mesmo que a vontade divina se identifica com a do superior?”.

Deus se adapta à vontade do superior

Há inúmeros episódios na História da Igreja que permitem comprovar o alto grau do amor de Deus pela virtude da obediência. Tomemos alguns da vida de Santa Margarida Maria Alacoque, para encontrar a resposta ao problema levantado. A famosa vidente do Sagrado Coração de Jesus tornou-se religiosa visitandina no ano de 1671 e, como sói acontecer com os grandes místicos, aqueles que os acompanham de perto correm o risco de desprezá-los ou até ridicularizá-los pelos extraordinários dons de que são objeto, pois estes costumam apresentar-se sob o véu de uma humildade profunda. Foi o caso de Santa Margarida: devido à sua aparente incompetência na vida comunitária, viu-se muito perseguida pela superiora do convento, a qual, duvidando das aparições, teve a empáfia de ordenar-lhe que pedisse a seu Jesus a tornasse mais útil.

A ordem foi cumprida e a resposta foi a seguinte: “Eu te farei mais útil para a religião do que ela pensa, mas de uma maneira somente conhecida por Mim. Doravante, adaptarei as minhas graças ao espírito da regra, à vontade de tuas superioras e à tua debilidade, de sorte que deverás ter por suspeito tudo quanto te afaste da observância exímia da regra, a qual Eu quero que prefiras a qualquer outro ato de piedade. Ademais, verei com gosto que anteponhas a vontade de tua superiora à minha, quando ela te proíbe fazer aquilo que Eu tiver ordenado. Deixa-a proceder como quiser. Eu saberei executar os meus desígnios, ainda por caminhos que pareçam contraditórios”.[iii]

Quem pode hesitar, depois destas palavras, em reconhecer que a vontade divina se encontra oculta na vontade do superior? Caso restem dúvidas, acompanhemos mais algumas verdades que transbordaram do Sagrado Coração de Jesus. Em certa ocasião, Ele repreendeu a sua vidente por prescindir de permissão superior para mortificar-se mais do que era permitido pela regra: “Enganas-te pensando agradar-Me com essas ações e mortificações que partem da tua própria vontade, ignorando a da superiora, antes do que submetendo-se a ela. Eu rejeito isso como frutos corrompidos, pois Me causam horror numa alma religiosa. Agrada-Me mais que tenhas comodidades por obediência, do que ver-te oprimida por austeridades e jejuns, por vontade própria”.[iv] São Francisco de Sales, o fundador da ordem, apareceu também a Santa Margarida e lhe disse com severidade: “Pensas poder agradar a Deus sobrepondo-te aos limites da obediência, que é o fundamento desta Congregação, e não as austeridades?”.[v] E, por último, bastou esta afirmação de Nosso Senhor para ela nunca mais transgredir qualquer regra: “O que fizeste até aqui é para Mim, o que estás fazendo agora é para o demônio”.[vi]

Invariavelmente, onde não há pecado, Deus corrobora a autoridade de um superior, pois Ele ama a ordem que pôs no Universo. Ao cumprirmos uma norma, errônea ao nosso parecer, estaremos obedecendo, mais do que a este ou àquele homem, a uma disposição divina, que é respeitar a hierarquia humana desejada por Deus. Ninguém tem o direito de se revoltar contra uma autoridade, sob o pretexto de estar fazendo algo mais razoável à ordem recebida, pois “aquele que resiste à autoridade opõe-se à ordem estabelecida por Deus, e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação” (Rom 13, 2). Devemos ser submissos “a toda autoridade humana” (1Pd 2, 13), e não somente àquelas que julgamos serem boas e justas, “porque não há autoridade que não venha de Deus” (Rom 13, 1).

Somente existe um caso no qual um súbdito nunca deve obedecer: quando lhe ordenam expressamente cometer qualquer pecado, ainda que venial. Foi o que sucedeu, por exemplo, aos Apóstolos diante das autoridades religiosas da época. Ao serem forçados a ocultar a verdade revelada por Deus, guardando silêncio a respeito do nome de Jesus, São Pedro e São João responderam perante o sinédrio: “Julgai vós mesmos se é justo diante de Deus que obedeçamos a vós mais do que a Ele.” (At 4, 19). Nesse momento, calar talvez tivesse sido o maior pecado de omissão em toda a História, pois nenhuma autoridade ultrapassa o infinito e imutável poder de Deus sobre as suas criaturas. Assim, ninguém está obrigado, em consciência, a obedecer algo que Ele condena. O próprio São Paulo – portador do poder divino a que grau! – esclarece, dirigindo-se aos de Corinto, ser a “autoridade que o Senhor nos deu, para vossa edificação e não para vossa destruição” (2 Cor 10, 8), e não há pior ruína do que ofender a Deus violando qualquer ponto das suas divinas palavras. Portanto, sempre se deve obedecer um superior, excetuados os casos nos quais é patente a infração à vontade de Deus, revelada nas Escrituras e na Sagrada Tradição.

Continua num próximo post…

Texto: Sebastián Correa Velásquez


[i] Cf. Catecismo da Igreja Católica. n. 532.

[ii] Espinosa Polit, Manuel María. La obediencia perfecta: comentario a la carta de la obediencia de San Ignacio de Loyola. 2 ed. México: Jus, 1961. p. 9.

[iii] I. G. Vida de la Beata Margarita María de Alacoque: religiosa de la Visitación de Santa María, orden de San Francisco de Sales, de quien se sirvió para establecer la devoción al Sagrado Corazón de Jesús. Barcelona: Librería de Francisco Rosal, 1864. p. 52-53.

[iv] Idem, p. 66.

[v] Idem, p. 46.

[vi] Idem, p. 66.

 

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