Símbolo do Bom Pastor
A multissecular história da Santa Igreja Católica sempre proporciona aos católicos a possibilidade de aprender, dia-a-dia, algo novo e maravilhoso. Basta simplesmente girar esse rico “caleidoscópio” doutrinário e consuetudinário para observar aspectos sempre novos e extraordinários. Desta vez, detenhamo-nos sobre uma das mais antigas e características insígnias do Santo Padre: o pálio, uma faixa de lã branca, com poucos centímetros de largura, ornada com algumas cruzes negras e três belos alfinetes, que é posta nos ombros de certas autoridades eclesiásticas.
Seu aparecimento na Igreja do Ocidente remonta ao séc. IV, no curto pontificado do Papa São Marcos (janeiro a outubro de 336). Durante muitos séculos, seu uso ficou reservado ao Sumo Pontífice, como símbolo do supremo cargo de Bispo de Roma e sucessor de São Pedro. Com o decorrer do tempo, entretanto, ele passou a ser usado também por alguns Bispos. E a partir do séc. IX, tornou-se ornamento litúrgico característico dos arcebispos metropolitanos.
O pálio é rico em simbolismos teológicos e litúrgicos. No início, apenas envolvia o pescoço e suas duas faixas com cruzes negras desciam pelos ombros, significando a ovelha que é carregada pelo Bom Pastor. No séc. IX, porém, as duas faixas juntaram-se no centro do peito, as cruzes passaram a ser vermelhas, recordando as chagas de Cristo, e foram acrescentados três grandes alfinetes negros, representando os cravos com os quais Ele foi pregado na Cruz.
Em meados do séc. XII, as dimensões do pálio foram um tanto diminuídas e as cores das cruzes voltaram a ser negras, como permanecem na atualidade. No início do pontificado de Bento XVI foi idealizada uma forma nova de pálio para uso exclusivo do Papa, que se assemelha ao modelo romano antigo.
Em razão de tão alto valor simbólico, compreende-se que se tome especial cuidado para a confecção do pálio. Assim, todos os anos, são selecionados dois carneiros entre os mais belos e saudáveis do Agro Romano, os quais são abençoados pelo Papa em 21 de janeiro, dia de Santa Inês (em latim Agnes; agnus: cordeiro), e são levados para uma dependência da Basílica de Santa Cecília, no Trastevere, onde religiosas beneditinas cuidam deles com esmero. Em dado momento, elas tosquiam os cordeiros e com a lã tecem os pálios.
Por fim, são entregues ao Papa para serem depositados num escrínio junto ao túmulo de São Pedro, na gruta vaticana. Ali permanecerão durante um ano, tornando-se uma relíquia indireta do apóstolo São Pedro, pontífice que, por primeira vez, carregou em seus ombros, a Santa Igreja.
Texto: Fábio Resende