Thabor

Conheça aqui essa residência dos Arautos do Evangelho

By

Testemunha da Ressurreição

Cristo morreu cerca das três horas da tarde e, como era véspera de Sábado, a partir do pôr-do-sol, não se podia fazer nenhum tipo de trabalho, nem sequer sepultar um morto. Por isso, não houve tempo de efetuar os ritos fúnebres tradicionais dos hebreus. Assim o sacratíssimo Corpo foi cuidadosamente envolto num grande pano, colocado num sepulcro, propriedade de José de Arimatéia, que foi fechado com uma grande pedra.

Ao despontar a aurora de Domingo, as santas mulheres foram ao túmulo para ungir o Corpo do Senhor. Qual não foi a sua surpresa ao encontrarem o sepulcro aberto, vazio e um Anjo que lhes anunciava a boa nova! Foram, pois, avisar imediatamente os Apóstolos que o Mestre não estava mais naquele lugar, pois, como disse o mensageiro divino, Ele ressuscitou!

São Pedro correu para o local, acompanhado por São João. Este último, sendo mais jovem, chegou primeiro e, embora aguardasse pelo outro discípulo para entrarem juntos, viu dentro do jazigo os panos que envolviam o Corpo do Mestre. Ao cruzarem o limiar do Sepulcro, como diz o Evangelho, os dois viram os panos e o sudário e então creram (Cf. Jo. 20, 3-8).

Sem dúvida, os primeiros cristãos guardaram com toda a veneração essas sagradas relíquias encontradas pelos Apóstolos.

O Santo Sudário é um lençol de puro linho, com as dimensões de 4,36 m. x 1,10 m., cuja trama apresenta, em tênue cor amarela, as marcas deixadas pelo Corpo Santíssimo de Nosso Senhor morto.

Existe um primeiro indício histórico da conservação do Santo Sudário na Igreja de Nossa Senhora de Blaquerna, em Constantinopla, onde, durante muitos séculos, fora venerado. Entretanto não se sabe exatamente a data em que foi levado para lá. O dado indicativo mais exponencial que se conhece é uma moeda antiquíssima do tempo do Imperador Justiniano II (685-695), na qual está cunhada a efígie de Nosso Senhor – costume mantido por vários imperadores bizantinos – reproduzindo os mesmos traços da Sagrada Face estampada no Sudário.

Os especialistas enumeram cerca de vinte traços da Santa Face estampada no Sudário, que podem ser encontrados em inúmeros retratos de Nosso Senhor, na arte bizantina, desde o século V. O Santo Sudário era, portanto, considerado como o modelo mais seguro, precioso e sugestivo para os artistas do tempo. Após a quarta cruzada, em 1204, que terminou com a tomada de Constantinopla, o Santo Sudário desapareceu. Só em 1357 tem-se notícia exata do seu paradeiro: estava sendo venerado em Lirey, na França, numa igreja construída para esse fim por uma família da nobreza que, posteriormente, doou o Sudário para a casa dos duques de Sabóia. Estes receberam a preciosa relíquia em 1453 e em 1578 foi transportada para Turim, onde permanece até hoje.

Em 1898 o Santo Sudário foi, pela primeira vez, fotografado por um importante advogado. Tirou duas chapas e quis pessoalmente revelá-las em seu laboratório. Ao revelar as fotos, apareceu nos negativos o majestoso semblante de Nosso Senhor! Na realidade, o que se vê no Sudário original é uma imagem em forma de “negativo fotográfico” e, ao ser fotografo, como que esse negativo foi revelado, podendo-se ver reproduzidas, com a maior perfeição e nos mínimos detalhes, os traços dessa divina Face e as marcas dos sofrimentos que padeceu durante a Paixão.

O que mais impressiona nessa imagem é a sublime e majestosa serenidade da Santa Face do Salvador. Que artista teria sido capaz de pintar em negativo uma imagem que, uma vez revelada, mostrasse tal riqueza, tanto nos detalhes quanto na expressão?

Conceituados cientistas puderam analisar rigurosamente a preciosa relíquia. Com a ajuda de equipamentos altamente sofisticados, após três anos de pesquisas que envolveram áreas como ótica, matemática, física, química, biologia e medicina, esses estudiosos chegaram a várias conclusões que vieram a corrobar cientificamente o que a Fé multisecular dos cristãos já cria. Entre essas conclusões destacamos estas:

  • A imagem não é obra de nenhum artista ou falsificador.
  • A imagem apresenta caráter tridimensional, o que significa ter sido ela formada pelo Corpo que estava envolto no Sudário; que tal Corpo não pesava no tecido, portanto não estava sujeito à lei da gravidade; e que todo ele era foco de uma radiação muito intensa, o que acabou por marcar o tecido.
  • Foi encontrado sangue humano no tecido e restos de terra na planta dos pés, comprovando que o homem do sudário andou descalço pouco antes de ser morto.
  • Por fim, e a principal, nada foi observado que em algo pudesse contradizer as narrativas dos Santos Evangelhos.

Ao longo das pesquisas uma pergunta pairava constantemente na mente dos cientistas: como se formou a imagem, qual foi esse misterioso processo, o que aconteceu? Mas, depois de todas essas análises, tiveram que reconhecer que não era possível dar uma resposta científica! Mas o que a ciência não consegue esclarecer, só a Fé o pode fazer: “Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo. E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela. Resplandecia como relâmpago e suas vestes eram brancas como a neve. Vendo isto, os guardas pensaram que morreriam de pavor. Mas o anjo disse às mulheres: Não temais! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Não está aqui: ressuscitou como disse. Vinde e vede o lugar em que ele repousou” (Mt 28, 1-6).

Texto: José Neves

By

A música que não saiu da Capela Sistina

Encontramo-nos na Semana Santa. O Papa Clemente XIV preside na capela Sistina as cerimônias do Tríduo Pascal. Célebres músicos haviam sido convidados a fim de tocarem a maravilhosa composição de Allegri, o “Miserere”. Esta melodia era interpretada somente na Capela Sistina, durante a Semana Santa, e ninguém podia executá-la em nenhum outro recinto. Para garantir essa exclusividade, após a cerimônia, os músicos rasgavam suas partituras diante do maestro.

Enquanto vibravam as notas do “Miserere”, as cenas pintadas por Michelangelo naquela capela pareciam tomar vida. Todos os convidados ficavam extasiados de admiração ouvindo a bela canção e admirando aquelas pinturas. Estava também presente um jovem de quatorze anos, de estatura  pequena e aparência inteligente, vestido com uma humilde roupa de cor verde. Ele não prestava muita atenção, como os outros, nas pinturas, mas sim na melodia. Ninguém sabia quem ele era. Passado algum tempo, o desconhecido aproximou-se do secretário do embaixador da Áustria, e ambos saíram juntos.

Ao chegar a seus aposentos, o jovem sentou-se diante de uma escrivaninha, tomou um caderno pautado e começou a desenhar com grande agilidade notas musicais no pentagrama. À noite, durante o jantar do embaixador, falou-se da cerimônia e  do efeito maravilhoso que produzira o “Miserere”. Começou, então, uma conversa entre um cardeal ali presente e os  embaixadores.

– Que pena que não se possa tornar conhecida em todo o mundo esta melodia – lamentou o embaixador da Áustria.

– Vossa Eminência deveria servir-se desse argumento junto a Sua Santidade, a fim de obter uma cópia da melodia – replicou o embaixador da França que jantava com eles.

Então disse novamente, o embaixador da Áustria:

– Todos os nossos argumentos são inúteis. Há muitos séculos que esta música foi composta por Allegri e nunca foi tocada senão na capela Sistina; nem reis, nem imperadores poderiam divulgá-la, pois este canto faz parte do tesouro sagrado de S. Pedro, e daí não sairá.

No dia seguinte, Sexta-Feira Santa, aquele misterioso jovem apareceu no mesmo lugar, mas com uma peculiaridade. Sua atenção estava presa nas folhas do caderno onde escrevera, no dia anterior, os sinais musicais. O fato chamou a atenção de um cardeal que a partir dali não cessou de observá-lo. No dia seguinte quando o sol estava se pondo, vários nobres se reuniram no palácio do embaixador austríaco para comemorar a Páscoa. Festejavam  alegremente, nos salões, brilhavam luzes multicolores, eram servidas requintadas iguarias, e os músicos se preparavam para, ao cair da noite, começarem a tocar as primeiras músicas festivas.


De repente, ouvem-se os acordes de um órgão, todos ficaramm em silêncio e uma voz juvenil elevava-se  entoando com força e suavidade o “Miserere” de Allegri, que nunca ressoara com tal grandiosidade e vigor. Os ouvintes ficaram boquiabertos de espanto e admiração. Mas, nem todos, pois alguns diziam que aquilo era profanação e roubo, porque aquela música só poderia ser tocada na Capela Sistina. Na mesma hora o embaixador agarrou o braço do jovem e começou interrogá-lo:

– Como você consegue tocar esta música tão perfeitamente? Creio que para executá-la assim, precisou sem dúvida copiá-la!!!

– Sim, sim!!! – Exclamou um cardeal, o mesmo que no dia anterior o observara atentamente na capela Sistina.

– Vossa Eminência está bem certo disto? – perguntou o embaixador da Áustria.

– Parece-me que o vi… – murmurou o cardeal.

Então disse o jovem com reverência ao cardeal:

– Vossa Eminência viu-me somente ouvindo e admirando a melodia, não é isto?

Perguntou então o cardeal:

– Sem dúvida, mas como sabeis a música sem faltar nenhuma nota?

Replicou o jovem:

– De cor, pois ela marcou tanto a minha alma, que nela se gravou do primeiro ao último compasso. Eis a verdade, juro isto em vossa presença.

Os circunstantes estavam en-cantados com a cena. Aproximaram-se do jovem e felicitaram-no. Porém, essa atitude não foi unânime.  Alguns diziam que deveria ser levado pelo cardeal ao Papa, a fim de lhe prestar contas da indevida utilização daquela música.

– Amanhã ele deverá apresentar-se ao Papa, disse o embaixador da Áustria. Com isso o rapaz retirou-se do ambiente e a festa continuou.

No dia seguinte, o jovem foi convocado pelo Papa Clemente XIV para comparecer ao Vaticano. Quando chegou, todos os presentes acharam estranho vê-lo ali, pois, não era costume pessoas tão jovens serem recebidas em audiência pelo Papa. Quando ele se ajoelhou diante do Santo Padre, este deu-lhe o anel a oscular, e começou a interrogá-lo:

– É verdade, meu filho, que este canto do “Miserere” reservado, até hoje, para a Capela Sistina gravou-se na tua memória na primeira audição?

– É verdade Santo Padre – respondeu o jovem.

Disse então o Pontífice:

– Querido jovem, vejo no teu olhar que estás dizendo a verdade. Meus antecessores decretaram que o “Miserere” não saísse do Vaticano, mas se Deus permitiu que pudesses apropriar-te tão miraculosamente desse canto é porque sem dúvida te destinou, a compor melodias para a Santa Igreja. Tem sempre presente que este dom não é teu, mas da Igreja, portanto, deverás servi-La fazendo bom uso dele. Va, pois, em paz e recebe a benção apostólica.

Este prodigioso jovem era Wolfgang Amadeus Mozart, um dos maiores compositores de todos os tempos. Sobre ele afirmou Joseph Haydn: “a posteridade não verá um talento como esse em 100 anos.”

Texto: Johnatan Inocêncio Magalhães

By

O seu caleidoscópio está pronto!

Uma das grandes maravilhas criadas pelo homem é o vitral. A harmonia de cores que extasiam quem quer que deite o seu olhar sobre eles, realmente é inigualável. Entretanto, por ter sede do infinito em sua alma, o homem não se contentou com aqueles pedaços de vidro coloridos imóveis em uma parede. A partir do século XIX, descobriu-se um objeto extraordinário que conseguiu reproduzir uma sequência quase infinita de combinações policromadas.

Seu nome é “caleidoscópio” e provêm do grego (καλόςείδοςσκοπέω). Na verdade é uma junção de três palavras: καλός (kalós), que significa “belo, bonito”; είδος (éidos), que quer dizer “imagem, figura”; e σκοπέω (scopéο), que traduz-se por “ver, observar”. Portanto a palavra “caleidoscópio” em seu conjunto pode-se entender como “ver imagens belas”. Realmente, podemos afirmar que o nome é bem apropriado para invento tão belo como esse.

Foi criado na Inglaterra, em começos do século XIX (1817), pelo físico escocês David Brewster (1781-1868), enquanto realizava experimentos sobre a polarização da luz. Era ele um homem culto e grande conhecedor do grego antigo (daí provêm o nome). Doze ou dezesseis meses depois ele maravilhava o mundo inteiro. Nessa mesma ocasião, um rico francês adquiriu um caleidoscópio produzido não de vidros policromados, mas com pérolas e gemas valiosas pelo custo de 20.000 francos.

Há quem defenda que o caleidoscópio já era conhecido no século XVII, e até muito antes, na Grécia antiga. Apesar de ter sido criado para fins científicos, o caleidoscópio foi durante muito tempo considerado um simples brinquedo para crianças e adultos. Atualmente ele é fonte de inspiração para desenhistas, bordadeiras e decoradores, fornecendo padrões de desenho geométrico.

O caleidoscópio é constituído por um tubo cilíndrico, com um fundo de vidro opaco; no seu interior são depositados alguns pedaços de vidro colorido e três espelhos. Ao colocá-lo diante da luz e fazendo-o rolar vagarosamente, observa-se no interior do tubo, através da abertura feita na tampa, um espetáculo feérico, pois os pedaços de vidro coloridos, com os reflexos dos espelhos, multiplicam-se e, mudando de lugar a cada movimento da mão, dão lugar a numerosos desenhos simétricos e sempre diferentes.

Neste invento, além de admirarmos a beleza que Deus colocou nas criaturas e sonharmos com as maravilhas celestes, temos grande prova da infinitude do Altíssimo, pois é quase impossível repetir a mesma figura.

Faça-o você mesmo!

Este é um dos inventos que todos nós podemos ter e até fazer em nossas próprias casas.

Basta ter:

  • 3 espelhos planos retangulares, cada um com 20 cm de comprimento e 4 cm de largura;
  • Um pedaço de PVC (cano plástico) com 20cm de comprimento e 2 polegadas (5 cm) de diâmetro;
  • Um pedaço de plástico leitoso ou papel vegetal;
  • Um pedaço de material flexível e opaco (cartolina, papelão etc.);
  • Fita crepe;
  • Pedaços de vidro de cores vivazes e contrastantes.

Procedimento:

  1. Una os três espelhos, com a fita crepe, formando um triângulo, e coloque-os dentro do tubo de PVC;
  2. Tampe uma das extremidades do tubo com uma folha de plástico leitoso ou de papel vegetal;
  3. Acrescente as pequenas pedras coloridas dentro dos espelhos;
  4. Faça uma pequena abertura no centro do material opaco e tampe a outra extremidade.

O seu caleidoscópio está pronto! É só olhar pela abertura, direcionando a outra extremidade para alguma fonte direta de luz. Podem-se admirar imagens coloridas esplêndidas. Girando o caleidoscópio, as pedrinhas tomarão uma nova disposição e imagens inéditas serão formadas.

Texto: Victor Castillo.

By

Símbolo do Bom Pastor

A multissecular história da Santa Igreja Católica sempre proporciona aos católicos a possibilidade de aprender, dia-a-dia, algo novo e maravilhoso. Basta simplesmente girar esse rico “caleidoscópio” doutrinário e consuetudinário para observar aspectos sempre novos e extraordinários. Desta vez, detenhamo-nos sobre uma das mais antigas e características insígnias do Santo Padre: o pálio, uma faixa de lã branca, com poucos centímetros de largura, ornada com algumas cruzes negras e três belos alfinetes, que é posta nos ombros de certas autoridades eclesiásticas.

Seu aparecimento na Igreja do Ocidente remonta ao séc. IV, no curto pontificado do Papa São Marcos (janeiro a outubro de 336). Durante muitos séculos, seu uso ficou reservado ao Sumo Pontífice, como símbolo do supremo cargo de Bispo de Roma e sucessor de São Pedro. Com o decorrer do tempo, entretanto, ele passou a ser usado também por alguns Bispos. E a partir do séc. IX, tornou-se ornamento litúrgico característico dos arcebispos metropolitanos.

O pálio é rico em simbolismos teológicos e litúrgicos. No início, apenas envolvia o pescoço e suas duas faixas com cruzes negras desciam pelos ombros, significando a ovelha que é carregada pelo Bom Pastor. No séc. IX, porém, as duas faixas juntaram-se no centro do peito, as cruzes passaram a ser vermelhas, recordando as chagas de Cristo, e foram acrescentados três grandes alfinetes negros, representando os cravos com os quais Ele foi pregado na Cruz.

Em meados do séc. XII, as dimensões do pálio foram um tanto diminuídas e as cores das cruzes voltaram a ser negras, como permanecem na atualidade. No início do pontificado de Bento XVI foi idealizada uma forma nova de pálio para uso exclusivo do Papa, que se assemelha ao modelo romano antigo.

Em razão de tão alto valor simbólico, compreende-se que se tome especial cuidado para a confecção do pálio. Assim, todos os anos, são selecionados dois carneiros entre os mais belos e saudáveis do Agro Romano, os quais são abençoados pelo Papa em 21 de janeiro, dia de Santa Inês (em latim Agnes; agnus: cordeiro), e são levados para uma dependência da Basílica de Santa Cecília, no Trastevere, onde religiosas beneditinas cuidam deles com esmero. Em dado momento, elas tosquiam os cordeiros e com a lã tecem os pálios.

Por fim, são entregues ao Papa para serem depositados num escrínio junto ao túmulo de São Pedro, na gruta vaticana. Ali permanecerão durante um ano, tornando-se uma relíquia indireta do apóstolo São Pedro, pontífice que, por primeira vez, carregou em seus ombros, a Santa Igreja.

Texto: Fábio Resende

By

Um monge e um bandido

Numa região da Itália, vivia um monge conhecido pela sua caridade heróica para com o próximo. Quando se viam em dificuldades, grande número de pessoas recorria a ele, encontrando sempre amparo e paz de alma.

Certo dia, apareceu um bandido bastante conhecido na região pelas suas atrocidades e crimes. O monge, surpreso pela inusitada visita perguntou:

– O que o senhor deseja neste local?

Disse o bandido:

– Vim pedir o seu apoio. O senhor que ajuda todo mundo, reze por mim para que deixe esta vida criminosa. Entretanto – continuou o sinistro homem –, se daqui a algum tempo eu não tiver mudado, é sinal de que o senhor não rezou por mim! Então, virei para matá-lo…

E desapareceu sem mais explicações.

O humilde monge, mais com pena desse miserável do que levado por qualquer tipo de medo, resolveu rezar e inclusive oferecer duros sacrifícios pela conversão desse pecador.

Dias depois, apareceu novamente o obstinado bandido, recordando cruelmente a sua ameaça:

– O senhor não está rezando por mim! Pois continuo com a mesma maldade e até piorei… Se dentro de uma semana eu não tiver me convertido, prepare-se!

Dito isso, retirou-se rapidamente.

O monge, apesar da maquiavélica ameaça, continuou pacificamente os seus atos de piedade e sacrifícios.

Quando se completou o prazo dado pelo soberbo homem, eis que apareceu novamente diante do monge e brutalmente lhe disse:

– Já que o senhor não quis rezar por mim, cumprirei o que me propus…

O monge apenas redarguiu:

– Mas como sabe que não rezei pelo senhor?

– Porque se tivesse rezado, eu já teria deixado os meus péssimos costumes…

– Conceda-me, então, apenas um pedido antes de morrer – disse o religioso.

– Diga logo!

– Há muito tempo, eu fiz um túmulo cerca de uma ermida, para o dia em que morresse. Não lhe pediria, pois, outra coisa senão ser enterrado ali. Sugiro-lhe me mate nesse local, pois, assim também, o senhor não terá o trabalho de me arrastar até alguma vala, o que poderia levantar suspeitas do seu atroz homicídio.

O criminoso, além de possuir pouca inteligência, foi movido mais pela facilidade do “serviço” do que por consentir ao pedido do monge. Foram, então, na direção do referido túmulo e, chegando ao solitário lugar, era necessário levantar a laje sepulcral. O assassino pegou um lado dela e pôs-se a fazer grande esforço; do outro lado pegou o monge, o qual fazia muita força, mas na direção contrária, a fim de que a pedra não se erguesse.

Furibundo de raiva, o bandido gritou:

– Eu não posso fazer toda a força sozinho! Não adianta para nada! Vou matá-lo aqui sobre a pedra, pois se o senhor não me ajuda a levantá-la será impossível…

Eis a lição que o monge lhe dera, sem perder um segundo, respondeu:

–  Pois bem, do que serve eu rogar a Deus por ti, pedindo que te tire dessa vida de vícios, se tu não queres fazer o mínimo esforço para mudar e, pelo contrário, estás empenhado em lutar contra Deus?

Tão simples argumento foi capaz de desmontar a empáfia do criminoso, porque ele já vinha sendo trabalhado interiormente por graças divinas que, apesar de terem sido rejeitadas, vieram à tona nesse momento decisivo, fazendo com que ele desse ali o primeiro passo de um longo caminho de conversão.

By

Dois irmãos hebreus, causa de muitas conversões

Afonso Ratisbonne, nascido em 1814, era judeu de religião, embora não praticante, e pertencia a uma família de banqueiros de grande projeção social. Em 1827, seu irmão mais velho, chamado Teodoro, converteu-se ao Catolicismo, tornando-se sacerdote e rompendo com a família que, a partir de então, pôs toda a sua esperança de futuro no jovem Afonso. Este nutria grande ódio ao Catolicismo, principalmente pela conversão de seu irmão, e dizia que se, por ventura, algum dia tivesse de abandonar o judaísmo, tornar-se-ia protestante, mas nunca católico.

Quando contava 27 anos, em 1841, tendo concluído o curso de Direito, empreendeu uma viagem pela Itália e, quando retornasse, pensava casar-se e desempenhar a carreira de banqueiro. Estando na terra dos pontífices, visitou, por mera questão turística, inúmeras obras de arte e igrejas católicas, a fim de ampliar a sua cultura, conhecimentos e, quem sabe, até para atiçar ainda mais o seu ódio.

Aproveitou também para visitar um amigo, Gustavo de Bussières, o qual era protestante. Nesse encontro, teve a oportunidade de conhecer o irmão dele, chamado Teodoro de Bussières, católico praticante e, por coincidência, muito amigo do Pe. Teodoro Ratisbonne, irmão de Afonso, o que não podia senão alimentar a sua antipatia.

Quando se aproximava o final da viagem, Afonso resolveu apenas deixar um cartão de despedida na casa dos Bussières, a fim de evitar o contato com o católico. Ao entregar o cartão ao empregado, este não entendeu o francês de Ratisbonne e pensou que devia chamar o patrão. A gafe já estava feita e, em pouco tempo, apareceu Teodoro de Bussières, muito amável, cumprimentando o hebreu e fazendo-lhe um amistoso convite: que aceitasse adiar a sua partida, a fim de assistir uma cerimônia na Basílica do Vaticano. Mas não era só isso, Teodoro teve a ousadia de entregar a Afonso uma Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças e uma cópia da oração composta por São Bernardo, o Lembrai-vos. Forte moção sobrenatural impeliu-o a insistir ao hebreu que aceitasse apenas em tê-las consigo…

Ratisbonne, apesar da raiva que teve pela ousadia do católico, cedeu inexplicavelmente aos seus convites, quem sabe movido por que graças, as quais já vinham trabalhando o seu interior. Sem embargo, tinha pretensões de mais tarde escrever um livro, contendo os relatos da sua viagem, no qual catalogaria esse personagem como totalmente extravagante.

Mas, misteriosamente, Afonso era objeto de muitas orações, as quais já começavam a fender os Céus.

Um amigo de Teodoro de Bussières, o Conde de La Ferronays, homem importante, antigo embaixador da França junto à Santa Sé, ao saber do caso, havia rezado cem lembrai-vos pela conversão de Ratisbonne e, talvez motivado por Deus a oferecer a sua própria vida por essa conversão, faleceu repentinamente, poucos dias depois. Em 20 de janeiro, Teodoro, acompanhado por Afonso, foi para a igreja de Sant’Andrea delle Fratte, tratar sobre as exéquias do falecido, as quais seriam realizadas no dia seguinte. Enquanto o primeiro encontrava-se na sacristia, o judeu ficou numa das naves laterais, impossibilitado de passar para outra, pois na nave central estavam correndo os preparativos para o funeral.

Ao retornar, Teodoro procurava Ratisbonne no local onde tinha ficado minutos atrás. Mas para a sua surpresa e estupefação, encontrou-o ajoelhado na outra nave lateral, diante de um altar, soluçando profundamente arrependido…

Ratisbonne narrou o acontecido: uma forte inquietação o dominou e, de repente, o edifício todo desapareceu diante dos seus olhos, permanecendo visível apenas uma capela lateral, na qual Nossa Senhora lhe apareceu, idêntica a como está representada na medalha milagrosa que lhe fora dada. “Ela não me disse nada, mas eu entendi tudo” e repetia ininterruptamente: “Como ela é boa!”. Ratisbonne não soube explicar de que modo ele posicionou-se na outra nave lateral da igreja, pois o caminho estava obstruído.

A sua conversão causou grande comoção em toda a Europa e até o Papa Gregório XVI quis conhecê-lo pessoalmente, ordenando que se lhe fizesse um inquérito, para confirmar a veracidade do milagre.

Ratisbonne foi batizado com o nome de Afonso Maria e ingressou na Compania de Jesus, onde foi ordenado sacerdote. Tempo depois, aconselhado pelo papa Pio IX, auxiliou ao seu irmão consanguíneo, o Pe. Teodoro, a fundar uma congregação dedicada especialmente à conversão dos judeus, chamada Congregação dos Missionários de Nossa Senhora de Sion.

Ela difundiu-se na França e na Inglaterra graças ao Pe. Teodoro e na Terra Santa por obra do Pe. Afonso Maria, o qual comprou um terreno em Jerusalém para servir como sede da congregação. Ambos morreram em odor de santidade no ano 1884.

Texto: Matheus Massaki Niwa

By

“O temor do Senhor é o começo da sabedoria” (Sl 110, 10)

Ensina-nos o príncipe dos teólogos, São Tomás de Aquino, e com ele a teologia em geral, que há duas formas de temer a Deus:

  • A primeira é a maneira como um escravo ou servo teme o seu senhor. Este é o temor servil;
  • A segunda é a maneira como um filho teme desagradar o seu pai. Este é o temor filial, ou também chamado de temor casto.[1]

De modo conciso, explica o Doutor Angélico:

No temor servil, o motivo para nos aproximarmos de Deus e abandonarmos o pecado é o fato de meditar nas penas e castigos do Inferno, ao qual seríamos condenados caso tivéssemos a desgraça de morrer afastados da sua divina amizade, ou seja, em pecado mortal.

Já no temor filial, não são os castigos que nos levam a fugir do pecado, mas sim o desagrado de constristar a Deus quando o ofendemos.

A primeira forma de temor tem por objeto o castigo devido à ofensa, do qual se procura escapar; a segunda, tem por objeto o próprio Deus, a quem se quer amar e, por isso, teme-se ofendê-Lo. Donde se conclui que quanto mais amarmos a Deus, tanto mais temeremos nos afastar d’Ele. O temor filial, em realidade, tem por fonte o amor.[2]

Sobre esta forma de amor chamada temor, que é um dos setes dons do Espírito Santo, abundam exemplos na vida dos santos. Eis alguns deles:

  • Santo Inácio de Loyola não se atrevia a passar a noite em uma casa em que houvesse um só homem publicamente em pecado mortal.
  • São Luís, Rei de França, preferia ter todas as doenças imagináveis, antes do que cometer um só pecado mortal.
  • Santo Estanislau Kotska desmaiava só de ouvir uma palavra desonesta.
  • São Francisco de Assis, São Bento, São Bernardo chegaram a revolver-se na neve ou entre espinhos, face ao perigo de cair na tentação de cometer um só pecado.
  • Em seu leito de morte, exclamava exultante São Luís Maria Grignion de Montfort: “nunca mais me será possível pecar!”.[3] 

Peçamos, pois, por intercessão d’Aquela que é Mãe de misericórdia e refúgio dos pecadores, a graça de ter o temor filial como escudo certo e eficaz para vencer todas as tentações, já que dessa forma estaremos cultivando um altíssimo grau de amor a Deus.

Texto: Adriano Casagranda


[1] Cf. São Tomás de Aquino. SumaTeológica, II-II. q. 19.

[2] Cf. Garrigou-Lagrange. L’ Éternelle vie et la profondeur de l’ame. Paris: Desclée de Brovwes, 1950. p. 186-188.

[3] J. M. Texier. São Luís Maria Grignion de Montfort. São Paulo: vozes, 1948. p. 220.

By

O chamado de São Pio V

No mês de outubro de 1513, um ancião e um jovem, ambos frades dominicanos, ao viajarem pela alta Itália, encontraram um pastorzinho de dez anos, brigando com uma cabra mal comportada. Tendo visto os dois religiosos, deixou tudo e correu até eles para oscular-lhes as mãos.

– Como te chamas? – Pergunta o padre prior.
– Miguel.
– Tens um grande padroeiro, meu filho! Sabes quem é ele? Será, por acaso, um ilustre Bispo?
– Oh! Não, Padre. Meu padroeiro, São Miguel, é um Arcanjo, o chefe dos Anjos! Quando Lúcifer, o primeiro dos espíritos celestes, se revoltou, arrastando consigo muitos dos anjos, São Miguel exclamou: “Quem como Deus?” E comandando os anjos bons, ele expulsou os maus do paraíso, precipitando-os no inferno.
– Foi o pároco quem te ensinou tudo isso?
– Não… Infelizmente, ele é muito doente e já nem pode mais pregar.
– Onde, e n t ã o , aprendeste essas coisas? Pois ainda não deves saber ler.
– Sim, Padre, eu sei! Minha mãe me faz ler todas as tardes, depois de recolher as ovelhas e as cabras no estábulo. Ela também me conta histórias. Ela mesma me ensinou esta, de São Miguel. Eu sei até escrever!
– Tua mãe é muito sábia! Como se chama ela?
– Assim como vosso santo fundador, ela chama-se Domenica.
– Ah! Tu conheces São Domingos e seus religiosos?
– Um padre que pregou em nossa igreja me deu este terço e ensinou-me a rezá-lo.
– E tu o recitas todos os dias?
– Sim, eu rezo meditando os Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos. E esse padre ainda prometeu que se eu perseverasse e conseguisse aprender latim, eu me tornaria um padre pregador como ele.
– Então vais aprender latim?
– Oh Não! Nossa senhora não o quer, pois meu pai é pobre e eu devo ajudá-lo. Adeus, Padre! Eu preciso ir, pois meu rebanho se aproveita da minha ausência…

Esse encontro deu aos dois religiosos a idéia de estabelecer, próximo de seu mosteiro de Voghera, o que hoje chamamos Escola Apostólica: Um asilo para os meninos pobres, cuja inteligência e piedade podiam trazer-lhe a esperança de um futuro melhor.
Na primavera seguinte, essa escola foi fundada. O mais novo dos dois religiosos foi ter com o adoentado pároco local.

– Conheceis – perguntou ele – um jovem pastor de vossa paróquia, chamado Miguel?
– Ele é minha criança mais querida – respondeu o ancião – e sua mãe é uma senhora que comunga todas as vezes que eu posso celebrar a Missa. Mas, por que me perguntais a respeito dele?
– Eu o conheço um pouco, e queria fazer dele um frade pregador.
– Isso não me parece possível, pois seus pais são pobres exilados, vindos de Bolonha, e o jovem Miguel é seu único sustento. Ele não é chamado a ser frade!
– Deixe-me dizer: Estou cheio de esperança quanto a esse menino. Na vinda eu rezei o Rosário por ele e espero conquistar o bom Miguel!
– Assim sendo, ide vós mesmo falar com a família Ghisleri, e entendei-vos com os pais dele!

Após terem conversado, o pai de Miguel Ghisleri consentiu ao pedido desse bom religioso.
Foi então o jovem Miguel estudar nos Dominicanos de Voghera. Aos 15 anos recebeu o hábito, e aos 23 foi ordenado sacerdote. Lecionou durante 16 anos, tornou-se mestre de noviços e em seguida prior de diversas casas da ordem.

Em 1556, o Papa Paulo IV nomeou-o bispo de Nepi e Sutri e, no ano seguinte, criou-o Cardeal. Em 1565, faleceu Pio IV, sucessor de Paulo IV e, no conclave, para eleição do novo papa, São Carlos Borromeu, Cardeal Arcebispo de Milão, trabalhou para que os votos favorecessem ao Cardeal Ghisleri.

De fato, foi eleito pontífice, sob o nome de Pio V, e governou a Igreja durante 7 anos com sabedoria e glória. Foi graças às suas orações e esforços que a os católicos obtiveram vitória contra os turcos, na famosa batalha naval de Lepanto, em 7 de outubro de 1571, a qual salvou o  Cristinianismo de vir a naufragar perante a maré montante turca. Depois da sua morte, a fama das virtudes heróicas e dos milagres que realizava, fizeram com que ele merecesse ser posto entre o número dos santos e sua memória é comemorada no dia 5 de maio.

Assim, aquele que quando criança fora fiel no cuidado de tão pobre rebanho, tornou-se pastor de toda a Igreja. Tendo sido dedicado em guardar suas ovelhas de todo o perigo, na infância, quando ancião soube também defender seu rebanho ameaçado por ferozes inimigos.

Por intercessão e pelo exemplo de São Pio V, sejamos também nós fiéis no pouco, para o sermos também nas grandes “lepantos” que teremos durante a nossa vida.

Texto: Renan Freitas

%d blogueiros gostam disto: