A oração perfeita
O segundo dia do Curso de Férias iniciou com uma cena sublime: Nosso Senhor Jesus Cristo ensinando os seus discípulos a rezar. “Eis como deveis rezar: Pai Nosso que estais no Céu…” (Mt 6, 9). Mais de quatro mil anos tinham se passado, no início dos quais a humanidade provocara a sua própria “orfandade” por haver pecado. Tão consoladora expressão – “Pai Nosso” – só poderia brotar, com toda a propriedade, dos lábios do Deus encarnado que quis assumir a nossa carne e, em nosso meio, dizer: “Filhinhos! Doravante, chamai-me novamente de Pai!”. Cristo fazia uma revelação inaudita: “A todos aqueles que O receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12), “e nós o somos de fato” (1 Jo 3, 1)!
As petições da oração do Pai Nosso são como as sete cores que conformam o arco-íris de uma nova aliança entre o Céu e a Terra, um caminho luminoso que nos conduz diretamente aos tesouros da misericórdia divina. As três primeiras súplicas exercitam no cristão as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade), porque se dirigem diretamente a Deus: “o vosso nome, o vosso Reino e a vossa vontade”; as quatro restantes imploram, no seu conjunto, proteção e auxílio divinos na prática das virtudes cardeais (Justiça, Temperança, Fortaleza e Prudência), e constituem propriamente o apelo dos filhos a seu divino Pai: “dai-nos, perdoai-nos, não nos deixeis cair e livrai-nos”.
Na Oração do Senhor, antes dos pedidos, invocamos com fé a quem eles se dirigem – “Pai Nosso, que estais no Céu” – e em seguida os fazemos:
“Santificado seja o vosso nome” – Pedimos o mais importante, ou seja, a glória de Deus, que Ele seja conhecido e reverenciado por todos.
Para explicar aos jovens participantes do Curso de Férias essa obrigação de todo cristão santificar o nome de Deus, foi encenado um episódio tocante: a morte de Eleazar, um ancião do povo eleito na época do domínio grego em Jerusalém, no séc. II a.C, narrado pelo livro dos Macabeus. Nessa época, os costumes pagãos dos helenos foram impostos à força. Muitos hebreus apostataram da verdadeira Religião e se profanaram adotando os modos gregos. Eleazar, aos seus 90 anos de idade, foi ameaçado de morte se não comesse, em público, carnes impuras, o que no Antigo Testamento era proibido por Deus. Heroicamente, o ancião recusou-se a comer, para não desonrar o Santo Nome de Deus e tornar-se motivo de escândalo para os outros mais jovens. Por isso, foi morto de maneira atroz.
“Venha a nós o vosso Reino” – O nosso segundo maior desejo é que todos possamos participar da eterna glória de Deus e, para isso, impulsionados pela esperança, pedimos a expansão da Santa Igreja Católica, por todos os confins do mundo, e imploramos, o quanto antes, a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que Ele reine definitivamente sobre todos os povos.
“Seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu” – Mas, para que os homens mereçam entrar na glória celestial, pedimos que todos observem os Mandamentos da Lei de Deus.
Muito didaticamente, essa terceira petição do Pai Nosso foi exemplificada com um pequeno conjunto de instrumentistas, os quais, sob a batuta do regente, deveriam interpretar uma bela peça musical. Sem embargo, nunca eram bem sucedidos no seu intento, pois sempre aparecia um problema: um oboé entrava antes do sinal do regente, outra vez, uma trompa desafinava na primeira nota ou, em outra tentativa, um violoncelo tocava com a partitura errada… Por fim, eles conseguiram entrar em acordo e, seguindo com fidelidade as indicações dadas por quem regia, o som de uma magnífica harmonia agradou os ouvidos de todos os presentes.
Mas, o que tem a ver isso com a petição “seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu”? É muito simples! Para a música sair perfeita era indispensável a junção de três elementos: fazer a vontade do regente, tocar com a partitura certa e realizar o esforço necessário para tirar um belo som do instrumento. Sem dúvida, a vontade do regente era que a música fosse eximiamente executada pelos instrumentistas, ao lerem a partitura correta.
Algo semelhante sucede com os homens: para nós executarmos a magnífica “música” da vontade de nosso “Divino Regente”, Ele mesmo nos concedeu um “instrumento” sobrenatural chamado Graça e nos deu uma “partitura” claríssima chamada Os Dez Mandamentos da Lei de Deus.
Neste post contemplamos as três primeiras súplicas do Pai Nosso, por meio das quais todo cristão pede forças para praticar as virtudes que se dirigem diretamente a Deus: a Fé no seu Santo Nome, a Esperança de alcançar o seu Reino e a Caridade, ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Cf. Mc 12, 30-31), resumo de toda a Lei.
Num próximo post, teremos a oportunidade de nos deter a respeito das outras quatro súplicas que faltam. Não o perca!
Texto: Sebastián Correa Velásquez
Fotos: Thiago Tamura Nogueira e Alejandro López Vergara