Um vietnamita no meio de espanhois

Na segunda-feira desta semana, iniciou-se o Curso de Férias, e com importantes visitas! O primaz da Espanha, Arcebispo de Toledo, D. Braulio Rodríguez Plaza, esteve no Thabor com grande comitiva de sacerdotes e jovens. É verdade que o destino principal desse honroso grupo era o Rio de Janeiro, para o evento mundial que lá terá lugar na semana entrante. Sem embargo, não esperavam encontrar, no Thabor, uma “pré-jornada” com proporções verdadeiramente internacionais: 750 jovens provenientes de Paraguaia, Canadá, El Salvador, Índia, Colômbia, Peru, Espanha, Chile, e de diferentes cidades do Brasil como Curitiba, Ponta Grossa, Maringá, Joinville, Montes Claros, Juiz de Fora, Vitória, Campo Grande, Cuiabá, Pernambuco, Campos, Nova Friburgo, São Carlos, São Paulo, entre outras localidades.

Em meio às inúmeras peças de teatro que tivemos de desempenhar no Curso de Férias, também devíamos receber, com toda cortesia, esses nossos longinquos visitantes. Alguns dos arautos do Thabor fomos designados especialmente para estar com eles, e eu pensei comigo mesmo: Que vou conversar com tão ilustres representantes dessa terra de heróis que é a Espanha? A respeito de São Fernando de Castela ou de Santa Teresa de Ávila? Ou, talvez, sobre a época dos descobrimentos? Eu, “tímido” como sou, que nem domino plenamente o português – porque sou vietnamita –  quanto saberei comunicar-me em espanhol! Nesse momento, lembrei-me das aulas de Liturgia que tive no último semestre, no Instituto Teológico dos Arautos do Evangelho. O professor, precisamente, encomendara-me uma exposição sobre o rito Moçarabe, e então decidi: “esse será o tema da minha conversa”!

Querem saber se consegui sair-me bem do outro lado? Convido-os a fazer uma pequena viagem à magnífica Catedral de Toledo.

Quando eu tive a oportunidade de lá estar, subindo as colinas que conduzem a esse belíssimo templo, deparei-me com o quadro magnífico que, até hoje, qualquer um dos visitantes pode observar: ruas de pedra, armaduras de ferro e, dominando o conjunto da urbe, um sobranceiro castelo chamado “El Alcazar”, com mil e uma histórias para contar! Tudo é belo e memorável nessa antiquíssima cidade!

Entrando na Catedral, estávamos encantados pela coloração dos vitrais e, de repente, uma cena tocante chamou-nos a atenção: um sacerdote, de joelhos diante dos seus paramentos, um tanto diferentes do comum, preparava-se para revesti-los recitando quatro Ave Marias. Nunca tínhamos visto algo semelhante! Permanecemos, pois, atentos à sua curiosa atitude e, logo que o clérigo se dirigiu ao altar-mor, já revestido a caráter e sem ainda subir os degraus, elevou mais uma Ave Maria à Santíssimas Virgem. Aproximando-se do altar, osculou-o, saudando com estas comovedoras palavras a Cruz sobre ele colocada: “Ave ó Cruz preciosa que ao Corpo de Cristo és dedicada e dos seus Membros, como de pérolas, és ornada”.

Era Solenidade de Corpus Christi. Começamos então a averiguar, se, por ocasião dessa data, havia algum privilégio litúrgico para realizar tão belas ações dentro da Santa Missa. Um dos fiéis, que devotamente ali rezavam, explicou-nos: “trata-se do rito Moçárabe, o qual pode ser usado, no altar-mor, três vezes por ano, entre as quais se encontra a comemoração de hoje!”. Muito satisfeitos pela resposta, e felizes pela coincidência de ali nos encontrarmos nesse dia, quisemos permanecer até o fim da Eucaristia, podendo observar várias diferenças – por certo, muito belas – entre o rito Romano, comumente usado no Ocidente, e esse de nome Moçárabe – também lhes explicarei o porquê.

Encantou-nos o fato de o Credo ser recitado após a Consagração, enquanto o celebrante sustenta, de frente para o público, uma enorme patena com a hóstia proporcional ao seu suporte, e o cálice, o qual também não fica aquém em matéria de tamanho. A finalidade detalhe do cerimonial é apresentar aos fiéis, enquanto proclamam o Símbolo da nossa Fé, a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que atestem com igual convicção tão sublime Sacramento.

Outro momento que cativou muito a nossa simpatia, em relação esse rito da Igreja Católica, foi a fractio Panis, na qual o Sacerdote divide a hóstia para comungar. No rito Romano a sagrada espécie é fracionada apenas pela metade. No Moçarabe ela é dividia em nove partes, cada uma simbolizando um dos principais episódios da nossa Redenção, na seguinte ordem: Corporatio (Encarnação), Nativitas (Nascimento), Circunciso (Circuncisão), Apparitio (Aparição), Passio (Paixão), Mors (Morte), Resurrectio (Ressurreição), Gloria (Glória), Regnum (Reino).

A minha narrativa muito estava cativando a atenção e simpatia dos nossos ibéricos visitantes, especialmente os que eram da cidade de Toledo. No entanto, não foi com a mesma simpatia que um dos encarregados das peças de teatro veio chamar-me desesperado, pois era o momento de entrar em cena e eu estava atrasado… Bem, por isso também, encerro esta redação, caros leitores que, neste momento, tornaram-se para mim “os espanhóis” aos quais dirigia a minha descrição sobre o rito Moçarabe… Até a próxima, tenho de sair correndo, pois não podemos atrasar os preparativos para o dia de amanhã, que promete muito! Por favor, perseverem na oração pelo Curso de Férias!

FOTOS: Pe. José Luís de Zayas e Alejandro López Vergara

TEXTO: James Thong Vu

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