Árvores de Natal, por quê?
Sebastián Corrêa, 2ºano de filosofia – extraído do jornal do estudante chez nous
Sapin, tannenbaum, árbol de Navidad, ever green… Chamem-na como for, a árvore de natal nunca deixou de ser uma das decorações mais atraentes nas comemorações natalinas. Verdejante, apinhada de simpáticas luzinhas, sua vitalidade e variedade constituem o encanto e alegria dos pequenos, não só de idade, mas também de coração, e onde ela está, impregna o ambiente com o seu característico odor de pequenos ramos queimados pelas velinhas acesas.
Em nossos dias, é muito difundida a idéia de que este belo e tradicional costume surgiu na Norte-América, devido à sua forte difusão nesse local. Contudo, ao remontarmos a um passado cheio de histórias, deparamo-nos com a sua verdadeira origem, pouco conhecida e mais antiga do que parece…
Os bárbaros invadiram a Europa central no longínquo século sétimo. Mais especificamente, no sul da Saxônia habitavam os frisões (entre a atual Bélgica e Weser, em frente à Inglaterra). Suas crenças, todas pagãs, eram muito arraigadas e, às vezes, anteriores à própria Revelação Cristã.
Certo dia, um monge beneditino de origem anglo-saxônica, movido pela graça, sentiu o desejo de evangelizar essas inóspitas regiões. Seu nome era Wilfrido de York (634-709). No início da sua missão (678-685), instalou-se num lugar onde os habitantes, curiosamente, cultuavam os carvalhos, muito freqüentes por aquelas florestas. Segundo diziam, estes eram possuídos por espíritos, os quais os conservavam verdes, inclusive durante o inverno, e estas mesmas divindades promoviam o retorno da primavera e do verão.
Temerosos, os frisões realizavam diversos rituais durante o mês de Dezembro, em torno das gigantescas árvores, a fim de que não deixassem de exercer a sua indispensável função. São Wilfrido deparou-se com difícil obstáculo, ao querer desmentir essa arraigada convicção pagã. Mesmo assim, dispôs-se a demonstrar-lhes a falsidade de tal imaginação.
Certo dia, em meio àquelas práticas religiosas, congregou os bárbaros no intuito de cortar um dos velhos carvalhos. Golpe vai golpe vem, irrompeu uma terrível tempestade, deixando-os muito apavorados. O Santo apressou o serviço dos lenhadores e, em meio a cambaleadas, a gigantesca árvore precipitou-se por terra! Um silêncio cortante tomou conta dos presentes e, de súbito, um raio fulminante partiu em pedaços o carvalho, coincidindo com a sua batida no chão. Ao verem o seu mito cair por terra, a desilusão contribuiu para efetuar a conversão das suas almas.
Porém, passou-se algo de muito curioso… Havia, a poucos centímetros da carbonizada árvore, um pinheirinho, o qual de modo inacreditável fora conservado intacto em meio a tamanha destruição. Seria isto um sinal?
Era o dia 25 de Dezembro. São Wilfrido percebeu nesse fato um simbolismo muito belo: Deus protege a fragilidade e a inocência! Em seu sermão à noite, relacionou poeticamente a imagem da pequenina árvore com a Natividade do Senhor e, desta maneira, o pinheirinho passou a ser, a partir daquele dia, o símbolo do Menino Jesus, mais utilizado.
Um discípulo de este Santo missionário teve de enfrentar, também, dificuldades semelhantes ao evangelizar a futura Alemanha: tratava-se de São Bonifácio (673-754). Em Geismar de Hessen, centro de rituais pagãos muito concorrido, cultuava-se um grande carvalho chamado Odin, o qual era consagrado ao deus Donar. Realizavam-se ao seu redor práticas supersticiosas, principalmente na época hibernal, porque atribuíam a esse deus ser o responsável pelas terríveis empestades, muito freqüentes durante esse solstício.
Uma vez convertidos, os germanos foram desassociando o caráter pagão da crença e relacionando a figura da árvore com passagens da Sagrada Escritura, como esta do Profeta Isaías: “a glória do Líbano virá a ti, a faia e o buxo, e juntamente o pinheiro servirão para adornar o lugar do meu santuário” (60, 13). Destarte, começou a se divulgar nas imediações da Germânia, o uso do pinheiro durante as comemorações do Natal.
Outras longínquas referências nos fazem alusão deste costume: em 1539, na igreja e nas moradias de Estrasburgo, França, pela primeira vez, utilizaram-se pinheiros decorados ao celebrar as festividades de Dezembro; em 1671, a princesa Charlote Elizabeth da Baviera, esposa do duque de Orléans, introduz oficialmente esta tradição em todo o país. E, finalmente, durante o reinado de Jorge III (1760-1820), o hábito chega à Inglaterra, difundindo-se para a América do Norte e dali, para o mundo inteiro.
Contudo, qual é o significado das inúmeras esferas, bastões e luzes que preenchem as suas ramagens?
Com o decorrer dos séculos, foram se acrescentando bonitos enfeites ao pinheiro. Sua simbologia refere-se ao segundo Adão, Cristo nosso Salvador (cf. 1 Co 15, 21-22, 45), o qual nos trouxe de volta os frutos perdidos pelo nosso primeiro pai, ao ter comido da árvore proibida (cf. Gn 2, 9; 3, 6). Por esta razão, esses belos atavios representam os preciosos e superabundantes frutos nascidos da Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeira Árvore da Vida.