“O temor do Senhor é o começo da sabedoria” (Sl 110, 10)
Ensina-nos o príncipe dos teólogos, São Tomás de Aquino, e com ele a teologia em geral, que há duas formas de temer a Deus:
- A primeira é a maneira como um escravo ou servo teme o seu senhor. Este é o temor servil;
- A segunda é a maneira como um filho teme desagradar o seu pai. Este é o temor filial, ou também chamado de temor casto.[1]
De modo conciso, explica o Doutor Angélico:
No temor servil, o motivo para nos aproximarmos de Deus e abandonarmos o pecado é o fato de meditar nas penas e castigos do Inferno, ao qual seríamos condenados caso tivéssemos a desgraça de morrer afastados da sua divina amizade, ou seja, em pecado mortal.
Já no temor filial, não são os castigos que nos levam a fugir do pecado, mas sim o desagrado de constristar a Deus quando o ofendemos.
A primeira forma de temor tem por objeto o castigo devido à ofensa, do qual se procura escapar; a segunda, tem por objeto o próprio Deus, a quem se quer amar e, por isso, teme-se ofendê-Lo. Donde se conclui que quanto mais amarmos a Deus, tanto mais temeremos nos afastar d’Ele. O temor filial, em realidade, tem por fonte o amor.[2]
Sobre esta forma de amor chamada temor, que é um dos setes dons do Espírito Santo, abundam exemplos na vida dos santos. Eis alguns deles:
- Santo Inácio de Loyola não se atrevia a passar a noite em uma casa em que houvesse um só homem publicamente em pecado mortal.
- São Luís, Rei de França, preferia ter todas as doenças imagináveis, antes do que cometer um só pecado mortal.
- Santo Estanislau Kotska desmaiava só de ouvir uma palavra desonesta.
- São Francisco de Assis, São Bento, São Bernardo chegaram a revolver-se na neve ou entre espinhos, face ao perigo de cair na tentação de cometer um só pecado.
- Em seu leito de morte, exclamava exultante São Luís Maria Grignion de Montfort: “nunca mais me será possível pecar!”.[3]
Peçamos, pois, por intercessão d’Aquela que é Mãe de misericórdia e refúgio dos pecadores, a graça de ter o temor filial como escudo certo e eficaz para vencer todas as tentações, já que dessa forma estaremos cultivando um altíssimo grau de amor a Deus.
Texto: Adriano Casagranda
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